Capítulo VI

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Povs Narrador

(Rafaella no passado com 8 anos)

A pequena Rafaella acabara de chegar na cidade, e tudo era muito novo e diferente da antiga casa onde morava. A princípio não havia gostado nem um pouco, mas não disse nada para não magoar sua mãe, ela sim estava animada com a mudança. Seria seu primeiro dia na escola nova, e como toda criança exposta a um ambiente desconhecido, não queria ir.

- Eu não quero ir, mamãe. - Choramingou se escondendo embaixo das cobertas quando sua mãe veio para chamá-la. E sua mãe, com toda paciência do mundo, tentou confortá-la.

- Querida, sei que está sendo difícil pra você, mas acabamos de chegar. - A mulher também entrou debaixo das cobertas. - Vai ser ótimo na escolinha, você não quer fazer novos amigos? - Após a negativa frenética com a cabeça, continuou:

- Meu bem...

- Eu já tenho amigos, não preciso de outros. - A menina segurava o choro e cortava o coração de sua mãe vê-la daquele jeito. Já se passava uma semana desde que chegaram em Iúna e Rafaella não estava reagindo muito bem à nova casa. - Eu sei que nós moramos aqui agora, mas não quero ficar.

- Mas se você não sair não vai conhecer gente nova, sabe? Você acredita que até a mamãe já fez uma amiga?

- É mesmo? - Ela pareceu se interessar. - E como ela é?

- Ela é nossa vizinha, e tem uma filha quase da sua idade. Isso não é legal?

- Ela vai pra escola todo dia? - A mãe balançou a cabeça em afirmação e a menina pareceu pensar e concordou em ir. Chegou um pouco atrasada, mas nada muito relevante, queria conhecer a filha da vizinha e fazer uma amiga assim como sua mãe também tinha feito.

Na hora do intervalo foi um caos de crianças correndo pra lá e pra cá com suas lancheiras coloridas. Um menino muito maior que Rafaella passou trombando na mesma fazendo com que ela derrubasse seu lanche, depois de reclamar o garoto pisou na lancheira dela a quebrando propositalmente.

- Sai da frente cabeçuda. - Ele gritou feito um babuíno alfa chamando a atenção das outras crianças.

- Ce' chamou ela de que?

Uma menina, um pouco menor do que Rafaella saiu de sabe-se lá de onde e colocou nas mãos da cintura esperando a resposta do menino.

- Ce' é surda?

- Então repete se tiver coragem. - Ela infla seu peito tentando parecer mais alta, mas não era necessário, sua atitude já impunha seu poder. Ela se aproximou dele e trazia em seu rosto a maior cara de mau que conseguia para encarar o valentão.

- Eu chamei ela de cabe... - A garota não esperou o mais velho concluir a frase e partiu pra cima dele dando um chute no meio de suas pernas e quando o mesmo se arqueou para frente gemendo de dor ela segurou o colarinho da camisa com sua pequena mão e socou o rosto do menino.

- Pede desculpas. - Ela falou com seu tom de voz autoritário, o menino começou a chorar. - Pede desculpas pra ela agora.

- GIZEEEEEEEELLY - O grito ecoou pelo pátio repreendendo a menina que largou o garoto com o nariz sangrando.

- Professora, ele simplesmente estava fazendo bullying com ela -, ela se defendeu gesticulando com as mãos. - Isso é feio e cruel.

Rafaella só observava a cena com um misto de medo e admiração pela menina menor em enfrentar um garoto bem maior que ela.

- É mentira dela professora. - O garoto resmungou. - Eu não fiz nada.

- Cala boca seu valentão. - Gizelly ameaçou ir pra cima dele de novo com o punho fechado e ele se encolheu no chão.

- Gizelly já chega, não se combate violência com violência. Agora vamos os três pra minha sala.

- Mas eu não fiz nada, professora. - Rafaella protestou querendo chorar, se seu pai fosse chamado na escola no seu primeiro dia de aula ficaria de castigo pelo resto da vida.

- Vamos todos os três! E vamos por gelo nesse nariz, Carlos. - A professora foi andando na frente com o menino.

- Você está bem? - Gizelly perguntou pegando a lancheira quebrada de Rafaella do chão. A mais alta só deu de ombros em resposta, queria ir embora. - O Carlos é um bocó, não liga pra ele não. - Ela assentiu em resposta ao conselho.

- Você sabe que a gente vai levar bronca né? Mas tudo bem isso também passa. Eu levo bronca toda hora é normal, e tá tudo bem também se você quiser chorar. - Rafaella ficou surpresa pelo abraço que recebeu da menina que acabara de conhecer. - Você é nova aqui né?! Eu sei porque conheço tooooda a população. - Agora de mãos dadas, Gizelly a guiava pelos corredores tagarelando sem parar em direção a sala da diretoria. - Você é de que sala? Eu sou daquela ali, terceiro c.

-Eu não lembro, mas acho que é segundo b. - Elas pararam em frente a porta de uma sala e Gizelly sorriu em forma acolhedora para a menina.

- Pode ficar com a minha eu tenho outra lancheira em casa. - A menina estendeu a sua lancheira rosa toda desenhada com as iniciais dela dentro de um coração, e - diferente da de Rafa que era de plástico - a dela era de pano e não iria quebrar tão facilmente. - Como é seu nome?

- Rafaella, eu já sei o seu porquê a professora gritou ele, é Gizelly né? - Ela assentiu sorrindo orgulhosa.

- Vamos ser amigas tá bom? - Rafaella assentiu outra vez e dessa vez ela quem a abraçou.

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