Tom e eu estávamos deitados de lado, um de frente para o outro, conversando sobre tudo o que conseguimos pensar. Falamos sobre coisas banais, como nossas idades e descobrimos que ele era quase um ano mais velho que eu, tendo ele 10 anos e eu 9, sobre nossas cores preferidas, a dele sendo verde e a minha vermelha, o animal que mais gostamos, ambos optando por cobras que ajudavam príncipes perdidos à voltar para casa.
Falamos sobre pessoas queridas e assim chegamos em temas tensos, como sermos órfãos, sofrermos abusos de pessoas cruéis, sermos tratados como aberrações e até discutimos sobre magia, quando contei sobre Bertha e minhas descobertas, sem pensar muito nas consequências, pois meu cérebro não conseguia fazer minha boca entender que era para ficar fechada em alguns momentos. Porém, para minha surpresa, ele contou que podia fazer coisas impossíveis que pessoas normais não entendiam, por isso ele evitava fazê-las quando acompanhado.
Saímos da cama momentos depois para ele mostrar sua habilidade de dominar as chamas da lareira, sendo essa a forma como ele chamou esse seu talento especial, fazendo duas pessoas de fogo dançarem uma valsa perfeita, que me fez corar em animação e sorrir. Após perguntar onde ele aprendeu, Tom revirou os olhos e disse que era um gênio, ninguém precisava lhe ensinar nada, pois ele aprenderia com seu próprio esforço. Foi assim que percebi o quão orgulhoso ele era.
Após essa demonstração de magia, voltamos para cama e eu me senti confortável o suficiente para lhe contar sobre meus sonhos, dos mais normais aos mais tenebrosos, como um raio verde se aproximando e me causando dor, o choro e gritos de uma mulher que sempre me atormentaram, ou até mesmo quando via aquele orfanato, porém sem nunca poder entrar nele.
- Então você esteve sonhando com esse orfanato durante anos, por isso acha que deve estar dormindo e nada aqui é real? - Tom perguntou tranquilamente, encarando meus olhos com tanta vontade que podia jurar que ele iria ler minha mente se fosse possível.
- Com você falando dessa forma, parece que eu sou louco.. - Murmurei, desviando o olhar, sentindo a pele fria dos dedos dele roçar nos meus lábios.
- Não precisa fazer bico, eu não estou te chamando de louco ou algo desse tipo, se quer saber. - Voltei a contemplar o rapaz, que sorriu expansivo. - Na verdade, eu achei que estava ficando louco quando você entrou no quarto.
- Por quê? - Perguntei, me aconchegando no ombro de Tom até conseguir me deitar ali. Pude ouvir ele rir baixinho, para depois mexer suavemente no cabelo perto da minha nuca, o que me fez sentir instantaneamente sono.
- Bem, quando você entrou.. - Ele pareceu pensar um pouco, negando com a cabeça em seguida. - Antes de você entrar no quarto, eu estava sentindo uma presença diferente, como se algo estivesse vindo para mim. - Senti o carinho ser intensificado, então me aconchegei mais ainda do ombro alheio e suspirei quando fui puxado por uma mão nas minhas costas, me fazendo ficar ainda mais colado no rapaz. - E então você entrou no quarto, porque era você quem estava vindo para mim. - Sua voz soou baixinha, mesmo tão de perto, mas ouvi com clareza e sua fala me fez querer chorar. - Harry?
Ele tirou a mão das minhas costas, levantando meu rosto com ela. Seu dedo indicador passou vagarosamente pela minha bochecha, limpando uma lágrima que eu nem tinha percebido ter deixado cair, por ser apenas um derramar leve de lágrimas e pensamentos confusos.
- E-eu.. - Sibilei, tentando pegar ar ao mesmo tempo em que o perdia e que me perdia em meu raciocínio.
- Você..? - Ouvi sua pergunta ser suspirada contra minha testa, a expiração de Tom chocando-se com a pele sensível da minha cicatriz. Respirei fundo, tentando parar o choro silencioso. - Harry, você não está dormindo.
Meus olhos miraram os seus. Se eu não estou dormindo, quer dizer que.. o que isso quer dizer?
- Eu não preciso mais ficar com meus tios? - Perguntei, vendo ele negar com a cabeça, me fazendo rir um pouco. - Posso aprender magia? - Nosso olhar cúmplice me fez pensar no quão divertida seria essa amizade daqui para frente, nos fazendo rir juntos dessa vez. Quando paramos de rir, toquei o rosto pálido de Tom com os dedos, sentindo a pele morna contra a minha, me tranquilizando conforme percebia que aquilo era real demais para ser um sonho. - Vamos ficar juntos?
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Harry Potter and the Salazar Slytherin Society
RandomJá estava de manhã quando Harry acordou, para sua surpresa, pois acostumou-se a ser despertado às duas da madrugada por sua tia Petúnia, para assim começar a realizar os afazeres domésticos. (...) Colocando o óculos no rosto, arfou audivelmente ao v...