Capítulo 1

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Fui puxado até aquela segunda sala pela mulher de expressões confusas e avaliativas, fazendo as rugas adquiridas pela idade saltarem, ressaltando seus possíveis 30 anos de idade ou um número aproximado. Estávamos agora em um cômodo com uma cama de solteiro com lençóis brancos, um tapete preto e felpudo que cobria o chão e engolia meus pés descalços. Tinha também uma cômoda com gavetas no quarto e, quebrando a atmosfera simples do lugar, havia um grande quadro na parede com o que parecia ser a pintura de uma família tradicional; uma mulher e menina trajando vestidos pomposos e os homens com ternos estranhos, porém o que mais me deixou abismado eram seus olhos, todos com orbes tão brancas quanto as roupas da senhora que ainda me segurava.

Olhos lindos e assustadores ao mesmo tempo, pensei comigo mesmo.

- Gostou do quadro? - Perguntou a mulher, sem me soltar, mas agora olhando para o quadro. Olhei dela para a pintura e então concordei em um aceno com a cabeça, achando engraçada a maneira como a mulher se revirou os olhos e deu língua para o quadro. - Honestamente, acho tenebroso guardar isso no meu quarto, com eles me olhando enquanto eu durmo.

Soltei um risinho, abafado pela minha mão livre, vendo a senhora sorrir brincalhona e me soltar, caminhando até a cama no canto do quarto e enfim voltar seus olhos para mim, me encarando e analisando como fazia na outra sala, minutos atrás.

- Você é tão pequeno e magricela que com um sopro eu te desmaiaria. - Ela falou por fim, me fazendo corar com essa constatação e me encolher com a insinuação de um ataque, abaixando os olhos até o tapete escuro. - E parece estar com medo de mim, mas não parece saber muita coisa.. O que você sabe?

Estranhei a pergunta, levantando a cabeça para encontrar as íris amendoadas que me encaravam sem piscar.

- O que eu sei? Eu.. bem, acho que não sei muito, mas posso dizer para a senhora as últimas coisas das quais lembro. - Falei com sinceridade, vendo a mulher acenar, como se pedisse para continuar. - Eu me lembro de ir dormir durante a noite, estava na casa dos meus tios. Quando acordei, estava naquela sala cheia de livros e não sei mais que isso. - Vi a mulher arquear a sombrancelha por um momento, quieta e reflexiva, mas logo suspirou cansada, como se estivesse com algo complicado em mãos.

- Venha até aqui, senhor Harry. - Ela disse e eu obedeci, ainda acanhado, me aproximado até ficar de frente para ela, meio metro de chão nos distanciava. Seu rosto continuava impassível, porém sutilmente mais calmo, o que me acalmou um pouco. - Primeiro, me chamo Albertha Waterhouse, então não me chame nunca mais de senhora, se quiser viver mais alguns anos. - Concordei solenemente, sorrindo um pouco com o pedido em tom de ameaça. - Segundo, eu não sei como entrou aqui ou se alguém te colocou aqui durante a noite, mas saiba que aqui é uma biblioteca e esse cantinho é meu quarto, então você invadiu propriedade do governo britânico. - Arregalei os olhos, sem saber o que fazer e já temendo a surra que levaria dos meus tios quando descobrissem isso, me fazendo ofegar. - Não precisa surtar, eu não vou contar a ninguém.. contanto que responda minhas perguntas com total sinceridade. - Ela sorriu travessa dessa vez, aparentando ser muito mais nova do que sua aparência transmitia.

- Eu conto o que quiser saber, desde que eu saiba a resposta. - Vi ela levantar novamente a sombrancelha. - Digo, nem sei onde estou ou como vim parar aqui. Acordei em um lugar desconhecido, mas posso afirmar que dormi na casa dos meus tios.

- Desconhecido? Nunca veio a biblioteca antes, senhor Harry? - Ela agora parecia me reprender com o olhar e se levantou, como se fosse me julgar por ter cometido o pior dos crimes.

- Sinto muito por isso, mas é que eu nunca tive a oportunidade de vir aqui até hoje. Meus tios não permitiriam se eu pedisse. - Falei triste, com medo da senh.. Albertha se irritar comigo.

Harry Potter and the Salazar Slytherin SocietyOnde histórias criam vida. Descubra agora