.Capítulo 10.

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Após ordenhar as vacas com meu pai, e o meu silêncio visivelmente, ele tentou puxar assunto.

- Aonde estava ontem a noite?

- Me vigiando de novo? Pensei que já havíamos passado desse tempo?!_digo soltando as amarras das vacas.

- Sabe que tenho sono leve._ retrucou. Eu sabia que ele estava mentindo, mais parecia se importar comigo.

- Tive que apagar as luzes do celeiro ontem, após o jantar. E uma longa conversa com Ricardo.

Meu pai não gostava dos meus assuntos sobre namoro. Ele não aceitava era complicado, mais ultimamente parecia aberto para o assunto.

- Filho... Sabe tudo o que eu penso a respeito disso. Mas conte comigo. Ninguém deixa meu filho na pior._ ele me puxa para um abraço esquisito, mais afetuoso.

- Mesmo se eu for o que fodeu com tudo?_ questiono.

- Olha, ninguém é perfeito. Eu e sua mãe nem sempre fomos honestos um com o outro. Só basta aceitar isso e seguir em frente.

Acho que aquele foi uma das conversas mais sinceras que tive com meu pai. Talvez se eu tivesse tentado ouvir-lo antes, estaríamos juntos ou seríamos amigos apenas. Não sei bem o que teria acontecido.

- Acho melhor vocês conversarem melhor, com calma, a sós. De preferência longe daqui. Tenho certeza que ele não vai dizer não.

- Tudo bem, obrigado. Mas pode me soltar agora?_digo meio estranho.

Ele sorrio, estávamos nos dando bem. Talvez eu deveria seguir pela primeira vez uma dica do meu pai.  Ele poderia estar certo.

~*~

Não havia visto Ricardo durante o dia inteiro. Minha avó disse que ele poderia ter ido com meu avô até a cidade, ao hospital para alguns acompanhamentos, já que os dois não estavam em casa.

Após o almoço fiquei imaginando, tentando ensaiar o que eu diria para Ricardo. O quanto eu me arrependia de verdade, mais nada como se eu estivesse implorando para voltar, quero que seja tranquilo e da forma mais simples possível. Nada além de uma conversa e explicação de fatos. Bom, ele disse que gostaria de conversar, mas talvez não mudaria nada, mas é só uma conversa.

Ok, eu estava um pouco confuso.

Quando foi que eu perdi toda minha essência de piranha desalmada e me apaixonei por um cara do campo? Eu estava rindo de mim mesmo e da minha situação, jogado sobre a cama e com várias bolinhas de papel com algumas coisas escritas, o que eu queria falar para ele. Mas nada estava bom o suficiente. Ouvi a caminhonete chegando e a porta do carro batendo.
Se eu queria a atenção dele, eu teria que ter a atenção dele. Uma roupa talvez? Uma vez li em um livro o quanto as cores fazem com que tudo mude. Igual o McDonald's, o vermelho e o amarelo faz com que as crianças queriam comer naquele lugar. Eu estava me comparando com um fastfood? Coloquei uma bermuda jeans que batia exatamente quatro dedos acima dos joelhos, que eu encurtei, dobrando até a metade das coxas. Ousado, não acha?
Uma blusa vermelha de gola e alguns botões. Ok, eu estava me comparando com uma comida, mas eu só queria chamar sua atenção. Concluir a minha tese quando percebi que ele não tirava os olhos de mim. Talvez o meu cabelo bagunçado estivesse chamando mais atenção, mais queria pensar que o vermelho era mais interessante.
Sorri.

- Olha só, tá tão bonito. Aonde vai desse jeito?_ perguntou minha mãe me abraçando por trás.

Sorri para ela. Tudo bem, eu estava tímido.

- Ah, entendi. Bom, divirta-se._ disse ela observando as trocas de olhares entre mim e Ricardo.

Pisquei para ela.
Mascando o chiclete, andei até Ricardo que desfarçou os olhares se encostando na caminhonete.

Querido Peão 2Onde histórias criam vida. Descubra agora