.Capítulo 6.

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Lá estava eu de volta, eu de verdade amava São Paulo, era uma das cidades mais diversificadas do país. Naquele dia, meu pai queria que eu fosse para sua casa, nós precisaríamos conversar. Ao chegar lá minha mãe estava ao telefone, meu pai estava sentando no sofá ao lado dela tentando ajudá-la. O que estava acontecendo, eu meu perguntava. Eles não pareciam felizes como sempre.

– Pai, o que houve?_ pergunto me aproximando, vendo minha mãe chorar no telefone.

Meu pai me olhou diferente, algo estava acontecendo e eu talvez já sabia... Minha mãe desligou o telefone e me olhou.

– É seu avô, sofreu um infarto.

Meu pai abraçou ela e me disse.

– Melhor ir arrumar suas coisas, vamos pra Fazenda.

~*~

Após uma pequena viagem de avião até Rio Grande do Sul, aonde fica a fazendo dos meus avós, passamos pela micro cidade do centro, continuamos andando até nós chegarmos. Desde o último ano que eu passei nesse lugar a Fazenda havia mudado algumas coisas, haviam mais gados e tinha um celeiro muito maior que o último. Ao meu pai estacionar o carro, olhei no celular, sem pontinhos de sinal.

– Estamos sem sinal._ falo. Meu pai me olhando pelo retrovisor e sorrir, eu raramente o via esboçar algo do tipo.

Minha avó saiu de dentro do casa e venho nos recepcionar, ela estava com um sorriso lindo no rosto, apesar das circunstâncias da nossa visita.

– Nicolas, que bom que voltou, sentimos sua falta._ disse ela me abraçando. Beijo seu rosto e limpo a farinha de seus cabelos grisalhos.

– Também sentir sua falta._ digo.

Enquanto eu entreva, meus pais a cumprimentava. Chegando na sala vejo Arthur e Alfredo vindo da cozinha com a boca cheia, ao me verem sorriram e vinheram me abraçar, me tirando do chão. Um gruído de surto saio de mim e eu sorrir.

– É bom ver vocês também._ digo.

Eles se olharam... os dois vieram em minha direção e me abraçaram forte, me esmagando com aqueles peitorais grandes, eu me senti em um sanduiche esmagado no meio dos dois.

– Veio pra ficar quanto tempo?_ perguntou Arthur.

– Acho que até Seu Tião melhorar._ digo.

Eles sorriram, antes mesmo de fazerem outras perguntas, minha vó chamou eles para carregarem nossas malas até os quartos. Subi para o quarto dos meus avós, aonde meu avô estava deitado.

– Olá._ digo entrando.

Eu e meu avô passamos por alguns probleminhas no ano passado. Mas sabíamos que não seria fácil a nossa convivência, mas tentamos nos manter calmos, mas ele ferrou com tudo.
Ele me olhou na porta, eu entrei e fui até ele.

– É Seu Tião, essa coração é forte ehm._ digo abraçando ele.

Ele sorriu e torcio um pouco.

– Essa velho aqui tem muita coisa pra fazer nessas terras ainda._ disse sorrindo.

Sorriu com ele.

– Não descordo._ eu respondo.

Meus pais entraram no quarto, me despedir dele e fui atrás de minha avó. Que estava na cozinha fazendo um bolo, que estava cheirando por toda casa.

– Eu vi que vocês cresceram o celeiro._ digo, puxando a cadeira de mesa para me sentar.

– Foi ideia do seu avô, Alfredo e Arthur o ajudaram.

– Com certeza foi ideia dele...

Naquela tarde na fazenda, enquanto caminhava pelos campos verdejantes, a lembrança de momentos compartilhados com Ricardo começou a invadir meus pensamentos. Flashbacks de risadas, discussões calorosas e toques delicados sutilmente se desenrolavam em minha mente.

Lembrava-me de uma tarde ensolarada na cidade, quando Ricardo e eu nos refugiávamos em um café acolhedor. A suavidade do aroma do café e a forma como nossas mãos se tocavam naquela mesa de madeira pareciam agora distantes, como fragmentos de um passado que eu queria guardar em uma caixa e esconder no fundo do armário.

Sentado sob a sombra de uma árvore na fazenda, as memórias de discussões acaloradas ressoavam em minha mente. Éramos diferentes, opostos que se atraíam e se repeliam como ímãs. O eco de nossas vozes misturadas com o som suave do vento nas folhas das árvores criava uma sinfonia de sentimentos contraditórios.

Ao chegar ao lado do meu avô, Seu Tião, uma sensação de conforto e familiaridade me envolveu. Decidi compartilhar algumas dessas memórias com ele, esperando encontrar orientação em suas palavras sábias.

– Seu Tião, lembra-se de quando papai e eu passamos o último verão aqui?_ perguntei, buscando um ponto de conexão entre as gerações.

Ele sorriu com doçura, olhando para o horizonte.

– Lembro-me, Nicolas. Vocês eram como pássaros jovens, testando as asas da vida. Mas às vezes, para voar mais alto, é preciso entender a força do vento e a direção do sol.

Aquelas palavras ecoaram em mim, não apenas como conselhos para minha relação com Ricardo, mas como lições para toda a minha jornada. O peso do passado parecia mais leve quando compartilhado com alguém que trazia consigo décadas de experiência e sabedoria.

Ao entardecer, durante o jantar, percebi um leve desconforto entre os membros da família. Pequenos desentendimentos sobre os rumos da fazenda e divergências de opinião sobre o tratamento do gado adicionaram uma tensão palpável ao ar.

– Família, como disse Seu Tião, somos como as árvores desta fazenda. Devemos nos enraizar profundamente para suportar qualquer tempestade. As diferenças fazem parte, mas o respeito é o alicerce que sustenta nossas raízes. _ proferiu meu pai, tentando dissipar a tensão.

"O que era aquilo que meu pais estava falando?" pensei comigo mesmo, um sorriso se fez em meu rosto. Enquanto observava a dinâmica familiar, refleti sobre como as raízes que formamos, seja com familiares ou amores passados, moldam quem somos e para onde estamos destinados. Era como se cada conflito na fazenda fosse um eco dos desafios que eu enfrentava em minha própria jornada.

Em meio à noite na fazenda, encontrei um momento de solidão para refletir sobre meu passado na cidade. Encostado em uma cerca, observando as estrelas pontilhando o céu noturno, permiti-me mergulhar nas profundezas dos meus sentimentos. O brilho distante das luzes urbanas era um contraste marcante com a serenidade rústica da fazenda.

"O que eu realmente quero?" - A pergunta ecoava em minha mente. A cidade oferecia promessas e perigos, enquanto a fazenda representava raízes profundas e tradições. Minha jornada estava no ponto de bifurcação, e cada escolha se tornava uma peça no quebra-cabeça do meu destino.

Nos dias seguintes, ao interagir mais com Alfredo e Arthur, descobri suas histórias únicas e sonhos não ditos. 

As manhãs na fazenda começavam com o aroma fresco da terra molhada pelo orvalho. Ao percorrer os campos, sentia a textura áspera das folhas de milho e ouvia o sutil murmurar do vento. O canto dos pássaros e o mugido distante do gado se tornaram uma sinfonia que transcendia as palavras, conectando-me mais profundamente com a natureza.

Naquele cenário rural, onde as cores vibrantes do campo contrastavam com o azul intenso do céu, minha mente encontrava paz. O tempo parecia desacelerar, permitindo-me apreciar cada momento como se fosse uma pintura que se desdobrava diante dos meus olhos.

No entardecer, enquanto ajudava minha avó na cozinha, o aroma irresistível de um bolo recém-assado impregnava o ar. 

Ao avistar Ricardo nos campos, percebi que o passado e o presente colidiam em um único ponto. O calor em meu peito naquele momento trouxe à tona uma série de emoções complicadas. 

Querido Peão 2Onde histórias criam vida. Descubra agora