Capítulo 1-

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Pobre é o amor que pode ser contado.

— Antônio e Cleópatra


— Você está demitida.

Não era a primeira vez que Cesca Shakespeare ouvia essas

palavras. Não era nem a sexta, mas foi a única dita dentro do

ridículo Cleopatra's Cat Café, o novo estabelecimento de alta

gastronomia para amantes de felinos em Londres.

Cesca pensou que seria uma ideia maluca combinar chá da

tarde com gatos peludos que pareciam ter prazer em espalhar seus

pelos por toda a comida e bebida. No entanto, desde que ela

começara a trabalhar ali, duas semanas antes, o lugar estava com

todas as reservas preenchidas e cheio de turistas barulhentos que

adoravam o jeito como os gatos se aconchegavam a eles enquanto

tomavam chá de lapsang em xícaras de porcelana fina, agarrados a

seus paus de selfie.

As pessoas, não os gatos. Os gatinhos preferiam lamber leite nos

pires pintados à mão.

— O quê? — Não fosse pelo fato de precisar desse trabalho, ou,

pelo menos, de ele pagar o aluguel, ela estaria rindo na cara da

dona agora. Não se podia mesmo descrevê-lo como o emprego dos

sonhos, carregar bandejas de sanduíches enquanto tentava não

tropeçar nos gatos, pois eles pareciam saltar deliberadamente na

sua frente. Mais de uma vez eles a tinham feito perder o equilíbrio,

derrubando pratos cheios de bolo em cima de clientes desavisados.

— É óbvio que você não está preparada para trabalhar aqui —

Philomena, a proprietária, falou. — No seu currículo, você dizia

que era apaixonada por gatos, mas não faz nada além de gritar com

Tootsie, Simba e os outros. E o que você acabou de dizer ao sr.

Tibbles foi imperdoável.

— Ele acabou de fazer xixi em cima de uma bandeja de chá da

tarde — Cesca protestou.

— Se você tivesse pegado a bandeja assim que eu fiz o pedido,

isso não teria acontecido. Esses gatos estão muito tensos. Eles

precisam marcar território. É nosso dever impor limites a eles. Você

me disse que tinha experiência com raças raras como a do sr.

Tibbles.

Pelo canto do olho, Cesca o viu vagando em direção a elas. O sr.

Tibbles era um gato sphynx, uma raça sem pelos que fazia parecer

que ele havia tirado toda a roupa para ficar saltitando pelo café,

todo pomposo.

— Tenho um pouco de experiência. Havia muitos gatos onde eu

Um Verão Na Itália - As Irmãs Shakespeare Vol 01Onde histórias criam vida. Descubra agora