Capítulo 14

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Nessa disposição não há segui-la.

— Sonho de uma noite de verão

Sam voltou para a villa em tempo recorde. Não conseguia se

lembrar da caminhada, ou de como murmurava para si mesmo,

nem de como suas mãos se fechavam em intervalos regulares. A

necessidade de bater em algo estava se tornando uma compulsão,

como se socar alguma coisa fosse livrá-lo da raiva.

Será que ela estava certa?, ele se perguntou. Será que todo

mundo pensava isso dele? Ele estava acostumado a não ser adorado

por todos — isso é normal quando se faz sucesso em Hollywood

—, mas, pela maior parte de sua vida, tinha sido muito amado e

admirado. Exceto pelo pai, é claro.

A raiva de Cesca evocou lembranças de Foster. Ele e Cesca

pareciam odiar Sam. Se ele podia provocar uma reação tão forte

nas pessoas, então talvez houvesse alguma verdade no que ela

dissera. Ele realmente era um merda? Sam entrou no banheiro e

jogou água fria no rosto quente. Tinha sido um idiota ao vir para a

Itália. Um idiota ainda maior por ficar na casa depois de Cesca ter

deixado claro quanto o odiava.

Olhou para o espelho acima da pia e seus olhos se estreitaram

quando observou a imagem refletida nele. Cabelo escuro

ondulado, herdado da mãe, bem como os olhos azul-claros e o

nariz. O bronzeado ele conseguira da mãe natureza, mas o resto do

rosto devia ter puxado do pai. As maçãs proeminentes e os lábios

sensuais que as pessoas adoravam, o maxilar firme que estava com

a barba sempre por fazer, mesmo que se barbeasse regularmente.

Um rosto amado por milhões, mas odiado por aqueles que eram

importantes para ele. Sam mal conseguia olhar para si mesmo.

Quando Cesca o encarou com expressão de fúria, ele sentiu

vontade de tocá-la. De abraçá-la. Para tirar a dor que via em seu

olhar. Seu terapeuta já havia dito que a raiva era apenas a dor

tentando lutar contra si mesma. Se fosse verdade, isso significava

que ele a fazia se sentir assim, e esse pensamento fazia seu peito

doer.

Cada vez mais ele se lembrava da garota de seis anos antes.

Aquela que quase saltitava em direção ao teatro, cheia de

animação, todas as manhãs. Aquela que explicara a ele as

motivações de Daniel, que o conduzira em cada cena e o

encorajara a demonstrar toda a emoção que podia.

Ele não gostou do modo como a lembrança o fez sentir. Como

aquele garoto que tinha sido um dia, vulnerável e ferido. Seus

relacionamentos eram como uma bomba-relógio, e era questão de

Um Verão Na Itália - As Irmãs Shakespeare Vol 01Onde histórias criam vida. Descubra agora