Capítulo 15

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Senhora, você se conhece, fique de joelhos.

— Do jeito que você gosta

Sam dormia naquele quarto desde que era criança. Embora tivesse

sido redecorado desde então, não mudara muito. Ainda tinha

paredes azul-claras, uma cama grande com colcha bordada e

móveis antigos que estavam na família Palladino havia séculos.

Fortes e resistentes ao toque, ainda que visualmente delicados.

Como tudo o mais na casa da mãe, ele os tratava com respeito.

Tudo exceto a pessoa que estava no andar de baixo.

Filha única, a mãe de Sam, Lucia, havia herdado tudo quando

os pais morreram em um acidente de carro. Isso aconteceu quando

Sam era um bebê e eles moravam em Nova York, onde Foster era

um produtor de teatro em ascensão. Todo verão desde então, Lucia

levava a família para passar os dias quentes brincando ao sol. A

Villa Palladino se tornou um porto seguro na vida de Sam, mesmo

que ele a evitasse nos últimos anos. Era ali, onde não havia

telefone nem wi-fi, que ele mais se sentia ele mesmo. O Sam antes

de Hollywood, que adorava ler, brincar e ficar com a família.

Aquele que nunca agradava ao pai, mas não conseguia entender

por quê.

Ele se deitou na cama e o colchão rangeu. Era irônico que

tivesse vindo para a Itália para escapar dos problemas, mas só

tivesse conseguido se envolver em mais confusão. Ele deveria voltar

para LA, enfrentar os demônios criados por ele mesmo e esquecer

que Cesca Shakespeare existia. No entanto, achou difícil fazer isso.

Mesmo quando fechava os olhos, ela estava lá, olhando para ele

com toda a sua raiva e fúria, o que de alguma forma a fazia ficar

mais bonita.

Porque ela era linda. Era impossível ignorar. Mais que isso, era

talentosa, forte e não tinha medo de falar o que lhe vinha à cabeça.

Havia uma selvageria nela que o seduzia, que o fazia querer saber

mais. Era por isso que ele tinha sido tão absorvido por sua peça.

Ver sua inteligência apresentada em preto e branco, no diálogo

entre os personagens em que ela trabalhara com tanto cuidado,

abrira seus olhos. Isso lhe dera a visão da mulher que existia

embaixo daquela armadura. Na noite anterior, enquanto lia suas

palavras e acrescentava comentários ao seu texto, sentia como se

houvesse um diálogo entre ele e Cesca, embora nenhum dos dois

tivesse dito uma palavra.

Era uma conversa que ela não queria ter. Uma conversa que ela

rejeitara abertamente, e que se parecera com um chute rápido e

Um Verão Na Itália - As Irmãs Shakespeare Vol 01Onde histórias criam vida. Descubra agora