PM significa Preso ou Morto

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Eu vi eles se afastarem enquanto o metrô saia da estação, mas com certeza não tava nem um pouquinho preocupado com isso. Que vacilo vey, eles me ignoraram completamente.
Mas agora eu tinha mais coisa pra resolver, minha irmã e minha mãe são minha responsabilidade.

Peguei meu celular pra verificar se tinha alguma mensagem, mas me esqueci que a internet não funciona bem dentro do vagão.

Wpp on:

Sofia: Você está vindo??

Eu: Cara o que tá acontecendo???

Sofia: Eu explico quando você chegar.
           Ou melhor, você vai ver quando chegar

Eu: Cara você sabe que eu vou ficar louco se você não disser, ele tá aí?? ela tá bem?

Sofia: CALMA, não se desespera, só vem.

Wpp off

Desliguei o telefone por que já tinha chegado minha vez de descer, e por que aquela conversa não ia dar em nada. Sofia gostava de fazer suspense, mas aquele com certeza não era o momento pra isso, sabe?

O sol tinha acabado de se pôr, mas ainda sim continuava calor como se fosse meio dia. Eu teria que diminuir um pouco o passo se quisesse chegar em casa com energia pra enfrentar o que tivesse acontecendo, msm nao sabendo o que era.

Foi só descer do metrô que eu voltei a sair correndo. Passei pela passarela tropeçando em todo mundo na frente. Quando andei na rua percebi uma sirene de polícia tocando. Mesmo eu correndo o som parecia não se afastar, e misturado com as cores vermelho e azul que não saíram de perto.

Conclui que devia tá acontecendo alguma confusão envolvendo os camelôs que tinham na rua, então continuei a correr com a consciência limpa. Até que

*Pow*

Ouço um barulho de tiro. Imediatamente eu paro e ajoelho no chão. Eu fiquei tenso, mas pensei que, mesmo correndo daquele jeito, eu não estava fazendo nada de errado então provavelmente não era comigo.

Policial 1:  Mãos na cabeça! — uma voz grave berra atrás de mim, e sinto uma luz forte sobre as minhas costas

Eu: Ah merda — sussurrei pra mim mesmo

Falei cedo demais. Era comigo. Coloquei devagar as mãos atrás da cabeça, mas como eu estava de costas para a viatura não sabia se tinha permissão pra ficar de pé.

Sinto uma mão no meu ombro me puxando pra levantar. O policial empurra o cano da arma nas minhas costas e me guia até o capô do carro da polícia, onde me debruça.

Um segundo policial vem até mim e começa a me revistar, ele pega a minha mochila e vira no chão, deixando todas as minhas coisas caírem enquanto grita.

Policial 2: Cadê os bagulho mlk??? Tava correndo por que?? eu sei que cê tem droga aqui!! — ele pega meu celular entre as coisas no chão— Desbloqueia o telefone. Vamo ver que merda cê tem aqui.

Ele volta até mim e me entrega o aparelho. Eu juro que nunca tremi tanto na minha vida. Meus dentes chegavam a bater uns nos outros, como acontece quando se está com frio. Eu suava frio.

Assim que eu desbloqueio, a tela abre pra conversa com a minha irmã.

Policial 2: Que porra é essa? Tava correndo por isso né, vai fazer o que lá hem?? — ele me empurrava enquanto dizia isso e o cano da arma do outro batia nas minhas costas

Eu: Não é nada, é minha mãe, mi-mi- minha mãe tá doente, ela tá doente. —eu comecei a entrar em desespero.

Durante todo esse tempo o primeiro policial não deixou de mirar minhas costas, do lado esquerdo, abaixo do ombro. Uma multidão havia se aglomerado por perto pra ver o que acontecia. Até que eu vejo uma mulher gravando a cena com um celular.

Ela percebe que eu a vi, abaixa o aparelho e volta a apontá-lo pra nós três, dessa vez com o flash da câmera ligado. O policial que me revistava olhou pra ela, mas não pude ver a expressão em seu rosto.

Policial 1: O que a senhora pensa que está fazendo? Poderia desligar essa câmera?

Mulher: Eu tenho pleno direito como cidadã a filmar uma abordagem policial se a estiver considerando abusiva de acordo com o art. 5º, X da Constituição Federal e art. 20 do Código Civil.

Wow. Ela sabia do que tava falando. Eu juro que não tinha entendido praticamente nenhuma palavra do que ela disse, mas parece que os policias entenderam. Ela devia ser advogada.

O que mirava minhas costas pegou minha identidade nas coisas no chão e entregou pro outro. Esse levou meu documento até a viatura e em três minutos estava de volta.
Devolveu meu telefone e minha identidade.

Eu não lembro do que aconteceu depois. Lembro da multidão dispersando aos poucos, e de me ajoelhar na calçada pra guardar minhas coisas. Do flash do celular da moça desligando e ela chegando perto, deve ter dito alguma coisa mas eu não escutei direito.

O meu caderno de desenho tinha ficado sujo e algumas das folhas tinham rasgado. A tela do meu celular quebrou em uma extremidade, e eu tive a sensação de catar menos dinheiro do que tinha antes na carteira. Alguém deve ter pegado ou eu não consegui pegar todas as moedas com as minhas mãos tremendo daquele jeito.

Quando levantei a mulher continuava lá. Naquela hora não tinha enxergado ela direito por que minha visão estava embaçada pelo flash, só consegui ver o seu terno, por isso concluí que ela era advogada. Agora que a observava de perto tive certeza.

Ela tinha o cabelo cacheado castanho claro que estava amarrado pra trás, olhos esverdeados, e seu terno cinza carregava cartões de contato no bolso. Ela também levava uma pasta.

Mulher: Ah você quer um desses? — Ela me entregou um dos cartões e me estendeu a mão — Prazer. Quer que eu te acompanhe até em casa? Eu posso te pedir um táxi.

Eu neguei com a cabeça, e apertei sua mão. Olhei para o cartãozinho onde estava escrito:

Letícia Moraes
Advogada
21 9876-5432
Preparada para representar você :)


Eu estava confuso, mas preferi guardar o papel.

Eu: O que eles fizeram com minha identidade, agora eu tenho ficha na polícia?

Letícia: Eu não sei... Eles devem ter ido conferir isso. Ou verificar se você não batia com a descrição de alguém...

Eu: Entendi. Valeu.

Ela sorriu e depois foi embora. E como se tivesse levado um choque de adrenalina eu lembrei que tinha que chegar logo em casa.
Meu deus eu já tive problemas demais por um dia.

Estava prestes a correr de novo. Mas andei algum tempo e depois peguei um táxi. Ah merda, o que mais me espera hoje???

Cry, if you want to Onde histórias criam vida. Descubra agora