Punks / l.h

XX17XX

"Depois de termos descoberto que tu estavas em coma a mãe e o pai decidiram ficar aqui contigo enquanto eu fui para casa. Não é que eu não quisesse ficar ao teu lado. Ficar separada de ti era o pior que me podia acontecer. Nós sempre fomos inseparáveis. Eu só não queria aceitar a ideia que tu estavas em coma. Nunca mais poderia ouvir o teu sorriso. Nunca mais poderia ouvir-te a cantar. Nunca mais veria os teus olhos cor de esmeralda. Esse "nunca mais" assustava-me. Assustava-me de morte. Portanto decidi ficar em casa. E tentar ignorar tudo o que se estava a passar. Abstrair-me do mundo. Da realidade. Foi só depois que eu me comecei a afogar. Comecei a contrariar a realidade. Comecei a isolar de tudo e todos. A dor já era tanta até o ter encontrado. O rapaz de quem eu gostava na altura passou a ser muito próximo de mim. Ele ajudou-me. Ou era isso que eu pensava. Ele comecou a abusar de mim. Não só psicológicamente como fisicamente.  Ele chamava-me tudo. A dor já não era só de não te ter aqui. Agora a dor que o rapaz me dava acumulava com a que já eu tinha antes. Piorando as coisas para mim. A mãe e o pai não sabiam de nada. Eu não tinha coragem de lhes contar. Tinha vergonha, medo, receio. Mas tudo tinha que acabar um dia." disse. As lágrimas voltaram a atacar e dou graças a deus que o Luke estava ao meu lado. A ajudar-me a ultrapassar isto. "Ele eventualmente violou-me como já se era de esperar. Mas esse não foi o fim. Ele morreu num acidente de carro. Comigo ao lado dele. E eu chorei por ele. Eu fui ao seu funeral. Eu desesperei por ele. Por mais estúpida que tenha sido. Ele tinha sido o meu primeiro amor e ele tin ha sido muito importante para mim, mesmo que eu não queresse. As coisas voltaram a desabar. Comecei a cortar-me sendo essa a única forma de controlar a minha dor à frente dos outros. Eu deixei de falar. Pintei o meu cabelo. Fiz umas tatuagens. Piercings. Estava perdida. Eu não estava só sozinha em espírito como em mente. Mas isso é o mais doloroso. Não é estares sozinho em espírto. Mas sim em mente."Fechei os olhos tentando evitar que as lágrimas continuassem a cair. O Luke deu um leve beijo na minha testa. Eu agarrei a mão do meu irmão. Gelada. "A mãe e o pai eventualmente descobriram o que se passava comigo e meteram-me na reabilitação. Foram os meses mais pacíficos da minha vida,esses que passei no centro. Acabei por sair e tentei dar uma tentativa de remediar a minha vida. Conheci a Mags e acabei a escola. " disse lembrando-me do dia em que a conheci. " Mas continuava a sentir-me vazia. Já não me encontrava-me sozinha portando não sabia o que se passava comigo. Eu pensava que era porque tinha saudades tuas. Mas ignorei esse sentimento. Até agora" comecei a brincar com os dedos do Luke tentando acalmar o meu nervosismo." Conheci-o a ele." disse sorrindo de orelha a orelha." Ele é tudo para mim. E o mais esquisito é que só o conheço há duas semanas e já somos tão próximos um do outro. Ele é tudo o que quero e mais. Ele é tudo o que podia desejar e mais. Ele é tudo. Desde o mais pequeno sentimento até ao maior e mais grandioso que posso vir a ter. Ele é oficialmente a minha rocha. A minha âncora. Ele está ao meu lado. O nome dele é Luke e ele é o meu punk." disse sorrindo mais uma vez.

"Eu não sabia que era tão importante para ti" disse o Luke beijando a minha face. 

" Mas fico feliz por saber. Muito Feliz." Olhei para ele e ele sorriu. 

"Tu também és tudo para mim. És a minha punk e eu o teu. Eu sou a lua e tu és o meu sol. A minha luz a minha melhor metade. Pelo mais cliché que isto esteja a soar. É a verdade."  Sorri-lhe mais uma vez. E podia continuar. 

E ficámos ali os dois. Sentados naquela cadeira de hospital. Nos braços um do outro. 

O meu irmão estava deitado na sua cama. E o meu coração comecou a sentir-se pequeno dentro do meu peito. Agarrei-me ao Luke. Porque verdade seja dita. Ele era o que me mantinha acima de água. E era ela que me empedia de me afogar mais uma vez.