C A P Í T U L O 2

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								Acho que tenho tudo o que preciso para pelo menos me aproximar do Cauê — menos vontade e coragem

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Acho que tenho tudo o que preciso para pelo menos me aproximar do Cauê — menos vontade e coragem. Todo mundo sabe que ele não é o tipo de pessoa que gosta de conversar, está sempre sério e muito seguro de si, como se tivesse a certeza de que é superior a qualquer um.

Sentei-me na mesa do fundo da biblioteca, havia uma pequena pilha de livros sobre ela, folheei alguns, não consigo ler quando fico ansiosa, e eu sabia que a qualquer momento Cauê apareceria sozinho, é o que geralmente ele faz durante o intervalo. Tento ignorar o barulho inconveniente da minha barriga, já começamos com nítidas diferenças, eu adoro os intervalos e uso eles para comer, mas parece que o meu pretendente — até parece piada — é do tipo que não se alimenta, pelo menos não de comida.

Recomponho-me quando o vejo cruzar a porta, coloco um dos livros de frente ao meu rosto, mas mantenho meus olhos bem atentos aos passos dele. Ao menos ele é bonito, diria que muito mais bonito do que os idiotas do terceiro ano que se acham os mais belos homens da terra. Cauê ajeita os cachos castanhos enquanto caminha por um dos corredores, provavelmente procurando por um livro específico, observo o jeito como aperta os olhos na tentativa de enxergar melhor, acho que ele nem percebe, mas quando está pensativo entorta os lábios — achei fofo.

Talvez beijá-lo não seja tão mal assim.

Finalmente crio forças para me levantar, não é como se ele fosse vir até mim em algum momento. Analiso minhas roupas por um segundo, estou com a camiseta da escola, ela tem um logo azul no lado esquerdo do peito, com as iniciais 'J" 'P' e 'S', escolhi o jeans mais descolado que encontrei no meu guarda-roupa, a calça tem alguns pequenos desfiados nos joelhos, é tudo o que eu podia fazer. Bom, também passei um batom discreto e fiz trança, foi o que Cecília me instruiu a fazer e até que fiquei bonita.

Fingindo despretensão, caminho lentamente em sua direção, ele parece muito concentrado e isso é ótimo. Desvio meu olhar de seu corpo esguio, e pronto, nossos ombros se chocam, agora tenho sua atenção pela primeira vez desde que entrei para o colégio.

— Oh, desculpe, estava concentrada nos livros e não vi você — Toco seu braço, acho que senti alguns músculos. Ele, porém, olha para mim nada surpreso, na verdade ele não tem expressão alguma.

Cauê volta a olhar seus livros, é como se eu fosse apenas um inseto irritante sem necessidade de atenção.

Uma pequena ira começa a surgir no meu interior, mas tento manter a postura de boa menina quando cutuco levemente seu ombro. Seus olhos escuros me alcançam outra vez, mas agora ele não parece estar tranquilo, por isso, tento esboçar um sorriso amigável que também julgo ser encantador.

— Eu estava me desculpando, mas acho que você não ouviu direito. — Cauê encara minha mão em seu ombro, fazendo-me retirar no mesmo instante.

— Eu ouvi.

— Ah! — pensa, Nanda, pensa. — Quer ajuda? — Aponto para a estante ao nosso lado.

— Não! — responde secamente, sua voz áspera me deixou surpresa e um pouco assustada, mas ele não se importa nem um pouco.

Cauê passa por mim sem dizer mais nada, sua atitude quase me convence de que sou mesmo insignificante, mas não, esse não é o tipo de coisa que costumo deixar pra lá, educação e respeito são aspectos básicos de um ser humano, e se ele não sabe disso, acho que precisa saber.

A passos largos e rígidos, vou de encontro a ele mais uma vez, agora não chego tão perto e nem toco em seu corpo, apenas cruzo os braços e, de queixo erguido, encaro seu rosto.

Sei que ele sabe que estou aqui, mas com toda a sua arrogância, apenas finge não enxergar. Permaneço da mesma forma, alguns alunos passam por nós, duas garotas me observam de canto, acho que estão esperando qual será o desfecho dessa história, não julgo, faria o mesmo.

Percebo sua impaciência quando ele força os dentes e solta um baixo rosnado. Mesmo sentindo um medo minúsculo, forço-me a continuar onde estou, algum de nós precisará ceder, e não serei eu.

— O que você quer? — questiona pausadamente sem olhar diretamente para mim.

— Quero que seja mais educado e ao menos se desculpe por tanta grosseria!! — Permaneço com o queixo erguido, ele está enganado se pensa que vou aceitar esse tipo de tratamento.

— Não considero pedidos de meninas irritantes. — Seu olhar frio se choca com o meu.

— Interessante! — Ele ergue a sobrancelha enquanto devolve o livro para a estante. — Mas não tem nenhuma menina irritante aqui, portanto eu exijo que me peça desculpas agora mesmo.

— Como é? — Seus passos o levam até mim, de repente é como se ele estivesse escurecido o ambiente com sua presença.

Foi preciso erguer um pouco mais meu rosto para que eu conseguisse encarar seus olhos. Minhas mãos começam a suar e posso jurar que meus joelhos querem se desprender de mim.

— Perdeu a coragem? — A satisfação em seu tom de voz não passa despercebida por mim.

— Claro que não!!

— Então repita! Parece que você estava me dizendo que exige algo... diz de novo, talvez dessa vez pareça mais convincente.

Ele continua se aproximando, até me fazer sentir sua respiração em minha pele. Dou alguns passos para trás, e então ele enxerga a oportunidade de avançar mais.

Atrás dele, um grupo de garotas nos assiste, Ligia me observa boquiaberta enquanto ergue o celular num ângulo perfeito capaz de registrar qualquer movimento meu.

Essa era a chance perfeita, eu só precisava beijá-lo, Ligia teria a prova em suas mãos, e então o desafio poderia chegar ao fim.

Cauê não esperava por isso, ninguém esperava por isso, mas seus lábios estavam próximos de mim, não poderiam me julgar.

Dei dois passos á frente e ergui meus calcanhares, pude ver suas sobrancelhas grossas quase se juntarem, ouvi alguns resmungos ao meu redor, mas nada foi capaz de me parar.

Então, eu o beijei...

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Prometo voltar amanhã🎄
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Um Desafio Para NandaOnde histórias criam vida. Descubra agora