C A P Í T U L O 3

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								Se antes alguém já me achou maluca, agora tem plena certeza

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Se antes alguém já me achou maluca, agora tem plena certeza.

Digamos que cumpri o desafio, mas ganhei duas advertências; uma delas por obviamente ter beijado um garoto na biblioteca e outra por ter causado um grande alvoroço na biblioteca.

Como se não fosse o suficiente ter meu histórico escolar manchado e ser chamada de "beijoqueira" pelos alunos, ainda fui castigada pelos meus pais; estou proibida de sair para qualquer outro lugar que não seja a escola. Achei irônico, porque a escola é o único lugar que não quero frequentar.

— Amiga, viramos assunto no colégio, sorte sua que essa é a nossa última semana. — Cecilia cochicha ao meu lado.

O professor de filosofia nos juntou em duplas para uma dinâmica, oportunidade ótima para que o pessoal tenha liberdade de falar sobre mim até durante a aula.

Depois do beijo, Cauê não disse nada, apenas saiu furioso esbarrando em todos que se puseram no seu caminho, Ligia fez questão de espalhar o vídeo que foi feito na biblioteca para todo mundo, eu deveria saber que de um jeito ou de outro, eu sairia prejudicada nessa história toda.

— Eu virei assunto, você não. — Giro o lápis sobre a mesa.

— Oh, sério? Então por que me chamam de: "a amiga da beijoqueira"?

A sala ficou em completo silêncio e minha única reação foi afundar a cabeça em meus braços.

Durante o intervalo, cada risada era torturante para mim, por isso, decidi fugir para os cantos menos frequentados e sentei-me nos pés de uma das árvores, com os fones no último volume.

Fechei meus olhos por um tempo, mas senti o impacto de algo áspero em meu braço, era uma folha amassada, provavelmente retirada do caderno de alguém. Alguns garotos me olhavam, mesmo assim decidi descobrir o que tinha ali. Senti algumas lágrimas brotarem em meus olhos quando li a seguinte frase:

"Estou esperando o próximo beijo, mas lembre-se de conferir o seu hálito antes disso"

Sou forte e posso ignorar muitas coisas, mas não irei engolir esse tipo de provocação, não daquele ser irritante que por alguma razão acha que pode me insultar.

Ando a passos largos, ignorando cada pessoa que encontro pelo caminho, procuro por ele em todos os cantos da biblioteca, uma das professoras me encara com seriedade, como se eu fosse causar novos problemas, mas não dessa vez, afinal, Cauê não estava ali.

A quadra foi o último lugar onde imaginei que ele estaria, ouvi o som do seu violão, que por sinal não deveria estar com ele, até onde sei, não podemos tocar instrumentos na escola.

Seus amigos me notam imediatamente, ambos são esquisitos, já era de se esperar que Cauê tenha amigos assim, nenhuma pessoa com juízo iria querer estar perto dele.

Ele está concentrado demais enquanto seus dedos passam lentamente por cada uma das cordas, vejo seus olhos fecharem enquanto uma melodia quase inaudível soa de seus lábios. Aqueles cachos irritantemente brilhantes caiam sobre sua testa, mas ele nem se importava, Cauê provavelmente estava com os pensamentos longe demais, e me peguei desejando mandá-lo inteiramente para o espaço e contar com a sorte de não o ver nunca mais.

Amassei o papel outra vez e o arremessei diretamente em seu rosto. Presenciei com exclusividade o pior tipo de raiva que qualquer um daqui já viu. Pude perceber que seus amigos sentiam pena de mim, provavelmente Cauê tentaria me matar, porque tenho certeza de que essa expressão é um tipo de aviso bem sinistro.

— Quem você pensa que é pra escrever esse tipo de coisa? — gritei com toda a minha repulsa. — Você é um idiota, e está muito enganado se pensa que vou deixar que me desrespeite dessa forma!!

Lentamente, Cauê se levanta, apoia o seu violão no muro atrás de si, e balança a cabeça para os lados enquanto tenta digerir minhas palavras.

O silêncio predomina por um tempo, e fico confusa quando me dou conta de que não sei qual é o momento exato de ir embora com a minha dignidade intacta.

— Eu não sei do que você está falando, mas sugiro que suma da minha frente antes que se arrependa.

A calma em sua voz não condizia com a raiva dos seus olhos, por um momento fiquei imóvel, mas depois cruzei meus braços e soltei um riso sem humor algum.

— Você sabe exatamente do que estou falando, e aposto que não teve coragem de dizer aquilo na minha frente, por isso mandou que alguém jogasse a droga desse papel em mim!!

Meu Deus, você é completamente louca! — Olhou-me com desprezo. — Não tenho nada a ver com esse papel, tenho muito mais a fazer do que dar a você a atenção que tanto quer.

— Eu não quero a sua atenção, e não acredito que não saiba do que tem ali. — Aponto para o papel no chão.

Seu olhar se divide entre cada um dos seus amigos, depois ele se abaixa até o papel e atentamente analisa cada palavra.

— Concorda com o que está escrito aqui?

— Como é? — Apoio as mãos em minha cintura enquanto o observo se levantar.

— Eu perguntei se concorda com o que está escrito nesse papel.

— Mas é claro que não!! — respondo apressadamente.

Cauê amassa a folha mais uma vez e a joga para longe, ele não parece abalado ou surpreso com nada, aspectos que fazem dele culpado. Porém, há algo em seu olhar que me faz ter sérias dúvidas a respeito disso, ele não parece ser do tipo que se esconde atrás de mentiras, algo que me faz admirá-lo por um momento.

— Então não tem motivos para se preocupar.

Fico paralisada ali enquanto ele tranquilamente volta a se sentar e tocar seu violão, como se eu simplesmente não tivesse feito um escândalo o acusando de algo que não fez.

Seus amigos, ainda calados, acomodam-se ao seu lado, um deles pega um livro e inicia sua leitura, enquanto o outro apenas me observa como se eu fosse a única estranha naquele lugar.

Gostaria de poder sumir num passe de mágica, até que todas as pessoas que me conhecem se esqueçam completamente de mim. Depois eu voltaria como se nunca houvesse passado uma única vergonha na vida.

"Talvez eu deva escrever uma carta para o papai Noel, porque claramente já tenho o meu pedido."

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Um Desafio Para NandaOnde histórias criam vida. Descubra agora