Nono

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O súbito raio de luz que atravessou a sacada fez seu coração pular para a garganta e voltou a cabeça para o lado esquerdo, para observar as portas corrediças de vidro do quarto de Naruto, de onde vinha a luz. O que o teria acordado? Quando as portas de vidro permaneceram fechadas, virou-se de novo para a escuridão do jardim. Esperava que não estivesse procurando por ela, achava que não poderia enfrentá-lo naquele momento.

Talvez pela manhã, quando estivesse vestida em seu familiar uniforme de terapeuta, com seus short e camiseta e estivessem envolvidos na rotina de exercícios. Talvez então já tivesse recuperado o controle e pudesse agir como se nada incomum tivesse acontecido. Mas agora se sentia crua e sangrando, cada nervo exposto. Cansada, encostou a cabeça na grade, sem nem mesmo sentir o quanto estava gelada.

Um som de motor lhe chegou aos ouvidos e franziu a testa. Vinha do seu quarto... então parou bem atrás dela e soube. Naruto usara a cadeira de rodas porque podia se mover mais depressa do que no andador. Todo o seu corpo ficou tenso enquanto o ouvia sair da cadeira e lutar para se equilibrar, mas não ousou olhar para trás. Manteve a testa pressionada contra o metal frio da grade, esperando sem acreditar que percebesse que não queria ser perturbada, deixando-a sozinha.

Primeiro sentiu suas mãos, segurando-lhe os ombros, então a pressão quente e rija do corpo dele contra suas costas e o hálito em seus cabelos.

- Saks, está congelando - murmurou. - Venha para dentro, conversamos e eu a aquecerei.

Ela engoliu em seco.

- Não há nada para conversar.

- Há tudo para conversar - havia uma dureza na voz dele que jamais ouvira antes e estremeceu. Sentiu o movimento dos músculos dela sob os dedos e puxou-a para perto. - Sua pele está gelada e vai entrar comigo agora. Está em choque, amor, e precisa que cuide de você. Pensei que compreendia, mas me surpreendeu completamente esta noite. Não sei o que está escondendo, do que tem medo, mas certamente vou descobrir antes que a noite termine...

- A noite terminou - disse, a voz num sussurro.- Já é de manhã.

- Não discuta comigo. Caso não tenha percebido, não tenho nenhuma peça de roupa sobre o corpo e estou congelando, mas vou ficar bem aqui com você. Se não entrar, provavelmente vou pegar uma pneumonia e perder todo o progresso pelo qual você trabalhou tanto. Venha. - o tom mudou para um de lisonja - não precisa ter medo, vamos apenas conversar.

Balançou a cabeça, os longos cabelos voando e atingindo o rosto dele.

- Não compreende. Não estou com medo de você, nunca estive.

- Bem, pelo menos é alguma coisa - resmungou, então enlaçou sua cintura e a obrigou a se virar.

Desistiu e apaticamente o deixou guiá-la para dentro, apoiando-se nela para se equilibrar. O passo dele era lento, mas firme e, na verdade, não descansava seu peso nela. Parou para fechar as portas deslizantes e levou-a para a cama.

- Aqui, entre debaixo das cobertas - ordenou, enquanto se abaixava para acender a luz de cabeceira. - Quanto tempo ficou lá fora? Até o quarto está gelado.

Ela deu de ombros, não tinha importância quanto tempo tinha. Fez o que dissera e entrou debaixo do edredom, puxando-o até o pescoço. Naruto estudou a expressão rija e pálida por um momento, e seus lábios se comprimiram. Ergueu o edredom e se deitou ao lado dela, enquanto olhava para ele, chocada.

- Também estou com frio - disse Naruto, o que era apenas uma meia mentira.

Passou o braço sob o pescoço dela, curvou a outra mão em torno de sua cintura e a puxou para o casulo do calor do seu corpo. No começo, ficou rígida, então o calor começou a penetrar em sua pele gelada e tremeu. A mão dele fazia a mais leve das pressões e ela se moveu, inconscientemente, se aproximando em busca de mais calor.

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