Ensaio sobre a necessidade de intervenção

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Como uma última tentativa de violar a ordem natural da entrevista, os coordenadores adentraram a sala onde ocorria a interação temporal entre Marco e o Contato. Na análise de todos os fragmentos anteriores, nenhuma hesitação sequer ocorreu na comparação entre o documento conhecido e a interação que se seguiu. Cada palavra se encaixava perfeitamente na transcrição prévia que os analistas detinham em mãos. Se tratava da porção final do último fragmento, colocar à prova inclusive as regras do próprio experimento seria o teste final para que se chegasse à uma conclusão irrefutável. 

Marco se questionava à esse momento, qual era a missão que lhe seria imputada para tentar impedir essa catástrofe. Questionava desesperadamente o que deveria fazer para que bilhões de pessoas não perdessem as suas vidas. O coordenador assumiu a interface e lhe respondeu prontamente:

- Não, Marco. Não se trata de um plano, um apelo ou uma missão. Estamos analisando o seu discurso. Após a análise de outras dez evidências de interação com o passado iguais à esta, concluímos que não importa qual será a ação dos modificados no tempo passado ou futuro. Não há como alterar o curso da história. O que aconteceu, acontece e acontecerá. A própria existência deste momento, a sua ciência sobre os fatos se mostra irrelevante ou contribui com o fluxo inevitável do tempo. Eu sinto muito que alguém tenha que conviver com esse tipo de conhecimento sobre o seu próprio destino. Mas não poderia ser de outra forma. Me sinto no dever de pelo menos encerrar qualquer dúvida que lhe pudesse atormentar pelos anos que se seguem.

Neste momento, Marco recebe um último e-mail. Este sem nenhuma palavra escrita, apenas um arquivo de imagem. Tratava-se do fragmento, uma reprodução de suas palavras nos últimos momentos. Ao observar atentamente, percebeu que a imagem encontrava-se incompleta. Existia um pedaço superior de uma frase dita por Marco que foi cortado pelo limite da imagem.

Mas Marco ainda não tinha digitado essa frase. Se o fragmento for real, ele precisa estar completo para que o destino seja realmente inevitável. Basta apenas nunca concluir aquela conversa. Talvez um evento dependesse do outro, talvez fosse uma evidência de que o coordenador do experimento estaria errado. De qualquer forma, seria uma esperança sobre a não concretização da catástrofe.

Ele decidiu jamais enviar esta frase. Para se certificar, entrou em sua conta do blog e optou por se desfazer da publicação de uma vez por todas. Ao fechar a sua conta na plataforma, se deparou com uma frase padrão do servidor. Um conjunto de palavras abaixo de suas últimas postagens e que se encaixava perfeitamente com àquelas cortadas pela imagem do fragmento:

*encerrado pelo autor

Caso encerrado em 3034Onde histórias criam vida. Descubra agora