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SUN
As letras miúdas a sua frente não eram capaz de distrai-lá da sensação intensa de calor que pairava sob sua pele; sem contar o quão a casa estava abafada. Deveria fazer uns trinta e cinco graus, com sensação térmica de quarenta. As gotículas de suor escorregavam por sua testa e têmporas, e seu peito quase desnudo já brilhava. Ventilador ligado, janelas e portas abertas, nada funcionava. Maldita hora que o ar condicionado havia se quebrado.
Philippe andava pela casa, agoniado, passava as costas das mãos pela testa e abanava-se com um leque preto, que ganhara numa festa. Você fechou o notebook, jogando-se para trás e encostando no sofá.
— Para melhorar, vai cair um toró! — Você exclamou olhando para a sacada, nuvens escuras e o céu cinza.
— É... no mínimo para manter-nos vivos.— Dramatizou, seu namorado.
Ele se aproximou da sacada e voltou minutos depois, correu até a cozinha como se estivesse esquecido de algo, e você o acompanhou com o olhar.
— Amor!!! Eu havia me esquecido dos picolés que fiz!! — Ele exasperou, de forma engraçada.
Você arqueou as sobrancelhas e riu-se enquanto se levantava. Garfield, o gato, mantinha-se por perto na esperança de também saber o que estava acontecendo. Colocando a forma em cima da bancada, o rapaz cantarolou animado enquanto retirava os picolés de frutas distintas de dentro das forminhas.
— E você os fez sozinhos? — Indagou você, analisando o produto caseiro.
O gato pulou e pousou logo ao seu lado. Ambos trocaram olhares curiosos.
— Qual é?! Eu sou um cozinheiro! — Gabou-se estendendo o picolé amarelo. — Maracujá, pegue.
Receosa, você pegou e levou-o a boca fechando os olhos pronta para experimentar. Mordiscou com certo esforço devido a sensibilidade dos dentes e esperou pelo gosto ruim, mas não o obteve. Estava realmente bom.
— Está bom não está? Perfeito.— Estalou o rapaz.— Venha, vamos lá para fora.
Pegou os demais picolés depositados sobre um prato e caminhou para a sacada; deixou-a segurando o prato enquanto trazia o ventilador para mais perto; Pegou num tapete e colocou na sacada, juntamente a algumas almofadas. As gotas de chuva já caiam sobre o chão, a sacada era coberta e larga, não se molhariam ali.
Então ele se descalçou de seus chinelos e se sentou, puxando-a para seu colo. Você depositou o prato ao lado de onde estavam, enquanto se deliciavam com os sorvetes você estendeu outro para o gato, afinal, ele merecia também.
— Viu só? Eu sou um gênio! — Exclamou Philippe, animado.
— É sim, um gênio.
Segurou um riso e virou-se para o gato, logo sentindo a mão gelada sobre seu rosto a puxando para um selar rápido, seguido de outro e mais outro. Ambos se riam.
Encostada sobre o peito alheio, observavam silenciosamente a chuva engrossa e cobrir a paisagem. Num silêncio acolhedor e refrescante.
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