CAPÍTULO III

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-         Por que você está se desculpando? — Perguntou o Taemin substituto.
-        Não sei nem qual é o seu nome verdadeiro.
Ele riu, uma risada baixa que eu pude sentir em seu peito. Depois se inclinou, e seu hálito afagou minha orelha quando ele disse:
-         Meu nome é Taemin. Levantei a cabeça, assustado.
-         Sério?
Ele negou com a cabeça.
-         Sou um ator metódico. Tenho que incorporar o personagem.
-         Você é ator? — Eu não teria me surpreendido. O cara era mesmo bom nisso.
Ele olhou para cima, como se estivesse pensativo:
-         Você não me contou essa parte. Sou? Bati em seu peito e ri.
-         Bons amigos esses seus.
Ele olhou por cima do meu ombro, para onde meus amigos ainda estavam.
-         A maioria é legal. Só a Yuna que fica sempre tentando me excluir.
-         Por quê?
-         Não sei. Talvez ela me veja como o alfa da alcateia e ache que só tem espaço para um sem ter que recorrer ao canibalismo.
-         Vou interpretar essa analogia esquisita com os lobos e deduzir que ela quer ser a líder do grupo.
Dei de ombros e olhei para o outro lado do salão, onde a Yuna tinha enroscado o braço no de Taehyung e dizia alguma coisa para ele.

-         É a única coisa em que consigo pensar. Ela é a principal razão para eu precisar de você aqui hoje. A Yuna acha que eu estava mentindo. Eu não quis dar mais munição. Ela já tem o suficiente sem a minha ajuda.
O substituto ergueu as sobrancelhas. O que, eu já estava aprendendo, ele gostava de fazer.
-         Então, se ela descobrir que você está mentindo...
-         É, entendi. É exatamente o que eu estou fazendo agora, e não estava fazendo antes. Mas ela achava que eu estava mentindo. Se eu tivesse entrado aqui sem você, teria sido o fim.
-         Você não acredita que os seus outros amigos gostem de você o suficiente para impedir que ela faça isso?
-         Eles gostam de mim. Mas a Yuna está empenhada nisso há dois meses. Ela realmente acha que tem alguma coisa contra mim. Tem certeza de que escondo alguma coisa. Eu precisava desta noite.
-         Bom, se você é o alfa, por que não chuta essa garota para fora do grupo?
Eu já tinha pensado muito nisso. A principal razão era que eu não acreditava ser o líder, por mais que a Yuna me visse nessa posição. Mas havia outra resposta, aquela que eu só admitia nas noites mais sombrias: se eu pedisse para todo mundo escolher, eles poderiam preferir a Yuna. Por maior que fosse a confiança que eu aparentava ter, minha preocupação era que as pessoas não gostassem realmente de mim. E talvez estivessem certas em não gostar. Mas eu não ia contar isso a ele. Já tinha exibido fraquezas demais em uma noite só.
·         Porque eu não sou uma doença contagiosa.
-         O quê?
-         Às vezes eu chamo Yuna de doença contagiosa. Mas esse é o ponto... Acho que não quero ser igual a essa garota. O que precisa expulsar alguém de um grupo. Tenho torcido para encontrarmos um jeito de conviver, assinar um tratado de paz, definir um território neutro, sei lá. — Apesar dos outros motivos para eu temer criar confusão, esse também era verdadeiro. Eu queria mesmo que a gente se desse bem.
-         Você gosta de analogias, né?
-         É, eu gosto. As palavras são poderosas.

Ele inclinou a cabeça, como se a resposta o intrigasse.
-        Certo, mas eu ainda não entendi. Se elas viram fotos do cara, por que não acreditam que ele existe?
-        Eu ri, mas era uma risada sem humor.
-        Foram poucas. A gente não se encontrava muito para tirar fotos. Era um... namoro a distância. A Yuna cismou que eu pedi a um cara qualquer para tirar as fotos comigo.
-        Ele riu.
-        Não sei de onde ela pode ter tirado essa ideia. Fiquei vermelha e abaixei a cabeça.
-        É, eu sei. — Era patético eu estar ali com um namorado de mentira. Alguém que eu não precisaria levar se o meu namorado de verdade não tivesse terminado comigo.
·         Você está bem? Ficou chateado com a história do Capitão América?
Inspirei profundamente pelo nariz, tentando não deixar minha voz falhar quando respondi:
-         Não. Vai passar. A gente não tinha nada muito sério, claro. Foi só um namoro rápido e a distância. Nada muito importante. — Eu não sabia quem eu estava tentando convencer com esse discurso, se a mim ou a ele.
Ele ficou quieto por tanto tempo que levantei a cabeça para ter certeza de que ainda estava me ouvindo. Seus olhos estavam cravados em mim, procurando algo que eu não sabia se tinha. A música acabou, e a que começou em seguida era agitada. Dei um passo para trás.
-         Então. Qual é o seu nome verdadeiro?
-         Não podemos correr nenhum risco hoje, certo? Melhor você continuar achando que o meu nome é Taemin.
Finalmente, ele desviou o olhar, e eu consegui voltar a respirar. Depois estendeu a mão para mim e, quando a segurei, ele me girou uma vez e puxou, me envolvendo com os braços e se movendo no ritmo da música.
·         Você é bom nisso — reconheci.
-        Em quê? Atuar ou dançar?
-        Bom, as duas coisas, mas eu estava falando de dançar.
-        É porque você é a quinta pessoa que me pede para ser o namorado postiço no baile de formatura. Fui obrigado a treinar muito.
-        Sei.
-        Então, Park Jimin
-        O que é, garoto sem nome? Ele riu.
-        Não acredito que você me ofereceu dinheiro por isso. Você sempre anda por aí se oferecendo para pagar por serviços aleatórios?
-        Não. Normalmente meu sorriso basta para eu conseguir o que quero.
-        Na verdade, fiquei surpreso com a dificuldade para convencê-lo a sair daquele carro.
-    Que tipo de coisa já conseguiu?
-    Além de fazer você vestir um terno?
Ele olhou para baixo, para a própria roupa, como se eu o tivesse lembrado de como estava vestido.
·         Não foi por causa do seu sorriso.
-         Por que foi, então? — Eu estava muito curioso. Em um segundo, aparentemente, ele havia passado de tentar subir o vidro a aceitar o papel de namorado de mentira.
-         Jimin! — Eu me virei ao ouvir meu nome, e uma garota loira acenou para mim. — Votei em você! — Ela apontou para o palco, onde uma coroa brilhante repousava sobre uma banqueta, à espera de seu dono. Sorri para ela e balbuciei "obrigado". Quando olhei de volta para o meu acompanhante, os olhos dele brilhavam, debochados.
-         O quê?
-         Não sabia que estava dançando com a realeza.
-         Ninguém foi coroado ainda. Não se precipite.
-         Quem é aquela? — Ele indicou a garota loira.
-         Uma colega da turma de história.
-         E o que te fez aceitar fingir ser namorado de outro homem? Isso não te assustou?
-         Isso não me assusta nem um pouco! Ele enganchou meu braço no dele.
·         Acho melhor voltarmos para perto dos seus amigos.
Eles agora estavam sentados ao redor da mesa, falando sobre ir embora cedo e fazer algo mais animado. Era sobre a parte do "mais animado" que tentavam chegar a um acordo. Olhei para o palco. Eu sabia que não poderia ir embora antes do anúncio do resultado da votação. Mas a Yuna não estava preocupada com isso. Provavelmente era esse o motivo pelo qual ela queria ir embora cedo. Estava ressentida por não ter sido indicada. Não era algo que ela admitisse em voz alta, seria óbvio demais, mas eu via a cara que ela fazia cada vez que alguém tocava no assunto.
Quando me aproximei, Namjoon sussurrou:
-         Desculpa.
Eu não entendi por que ela estava se desculpando... talvez pelos meses que passou duvidando de mim em relação ao Taemin? Contornei a mesa sem soltar a mão do meu acompanhante, e nos sentamos de frente para a pista de dança.
Yuna ficou de pé e pegou o celular.
-         Todo mundo junto. Quero tirar uma foto. — Nós nos aproximamos, e, quando ela contou até três, senti meu namorado postiço chegar mais perto de mim e se inclinar para o lado, provavelmente escondendo o rosto atrás da minha cabeça. Yuna conferiu a foto e não sugeriu outra. Em vez disso, olhou para o falso Taemin. — E então, o que os universitários fazem para se divertir? Além de pegar garotos que ainda estão no colégio, é claro.
Ele não se abalou com o comentário. Provavelmente porque não se sentiu atingido por ele.
-         Bom, o Jimin e eu vamos a uma festa depois do baile, mas é só para convidados, o que não ajuda muito, acho. Não tem nenhum lugar por aqui aonde vocês possam ir jogar? Jogos eletrônicos, talvez? — Ele falou em um tom muito educado, como se realmente tentasse ser útil. Mas afagou meu joelho embaixo da mesa, e eu tive que morder a boca por dentro para não rir. Senti vontade de abraçá-lo por ter dito isso a ela. — Não moro aqui; não sei o que tem para fazer.
A Yuna era como um cão de caça. Todos os seus sentidos ficavam aguçados à primeira gota de sangue. Ela deveria ser detetive; conseguia pegar até as menores incoerências em uma história.
-        Mas, se você não mora aqui, como foi convidado para essa festa de que falou?
O Taemin de mentira foi igualmente rápido na resposta.
-        Quem disse que a festa é aqui? — E ali aconteceu uma espécie de cabo de guerra, porque os dois se encararam por alguns instantes. Yuna desviou o olhar primeiro, e eu suspirei aliviado. Eu só precisava sobreviver a esta noite. Se ela já estava farejando em busca de problemas, ia acabar deduzindo que o cara sentado ao meu lado não era quem eu dizia que era. Meu acompanhante deve ter visto a preocupação em meu rosto, porque se aproximou com aquela cara apaixonada que eu havia pedido e beijou meu rosto. Minha garganta ficou apertada. Ele era um ótimo ator.
-         Não faz essa cara de preocupado — ele cochichou. — Vai acabar entregando a gente. — E ajeitou meu cabelo atrás da orelha. — Dá risada, como se eu tivesse dito alguma coisa engraçada.
Eu fiz o que ele pediu. Não era difícil. Mas parei de rir quando olhei para a pista e vi uma coisa que me deixou sem ar. A irmã dele. Olhando fixo em nossa direção.

Namorado de AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora