CAPÍTULO VII

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-         Jihye? — perguntei.
Ela sorriu com frieza, se virou para a frente e pegou um lápis na mochila.
-         Não é justo — eu disse. — Você estava muito diferente no baile. — Apontei para sua roupa, que era preta em camadas de preto, e para o rosto, tão maquiado quanto o da vovó em noite de bingo.
-         Era um experimento social. Você falhou. — Jihye fez uma pausa. — Ou não, porque provou que tínhamos razão. Tanto faz.
-         E você ficou furiosa comigo por eu não ter te reconhecido, sendo que fez tudo para não ser reconhecida.
-         Se essa fosse sua pior mancada, eu teria sorte.
-         Se essa fosse sua pior mancada, eu teria sorte.
Eu tinha feito alguma coisa para ela? Alguma coisa pior? A sra. Rios pigarreou.
- Pessoal, silêncio. Estamos em prova.
·         Meninas, silêncio. Estamos em prova.
A manhã tinha começado mal. O dublê de Taemin podia ter me dito que a irmã costumava se vestir de roqueira. Eu teria me lembrado dela. Ela era nova no colégio, tinha chegado poucos meses atrás, no meio do ano. Até onde eu lembrava, não havíamos trocado mais que duas palavras, por isso eu não conseguia imaginar como podia tê-la ofendido.
Fiz a prova inteira distraído, quase sem pensar nas perguntas, muito menos respondendo de maneira inteligente. Fiz o melhor que pude, depois fiquei olhando para Jihye até o fim da aula, esperando a oportunidade para falar com ela. Quando o sinal tocou, peguei minha mochila tão depressa quanto ela pegou a dela e a segui para fora da sala.
·         O que é?— Jihye rosnou quando chegamos ao corredor.
- O que é?— Jihye rosnou quando chegamos ao corredor.

Eu queria perguntar o nome do irmão dela, mas não podia admitir que ele não tinha me contado.

- Preciso do telefone do seu irmão.

-         Por quê?
-         Quero mandar uma mensagem agradecendo. — Claro. Uma mensagem agradecendo. Alguma coisa como: "Querido Taemin postiço, obrigado por mentir por mim e enganar meus amigos fingindo ser meu namorado. Agora você pode me contar por que decidiu ir ao baile comigo? Por que quis me ajudar? Por que me olhou daquele jeito superintenso enquanto dançava comigo, como se visse em mim alguma coisa que eu nem sabia que existia? Assim eu posso tirar você da cabeça. Obrigado".
-         Se ele quisesse que você soubesse o número, ele mesmo teria dado. -  Jihye pareceu sentir prazer com a declaração.
-         Se ele quisesse que você soubesse o número, ele mesmo teria dado.
-        Teria, mas ele foi embora de repente depois daquela coisa da briga de mentira.
Ela gemeu como se lembrasse novamente como eu o havia usado.
-         Se eu te der o meu número, você passa para ele?
-         Se eu me jogar da escada, você me deixa em paz?
Estávamos do lado de fora do prédio, no alto da escada. Um garoto com o mesmo estilo dela estava parado lá embaixo, olhando para nós. Ela não esperou pela resposta, que, tecnicamente, poderia ser sim ou não, e desceu para encontrá-lo.
-         Oi, Jimin — o garoto falou quando os alcancei, ao pé da escada. Surpresa, percebi que era ele quem estava no baile com Jihye.
-         Oi. Desculpa, não sei o seu nome. Ele deu de ombros.
-         Só fizemos quatro matérias na mesma turma nos últimos três anos.
Por que você saberia?
Fiquei vermelho. Era verdade? Olhei para ele de novo com mais atenção. Honestamente, ele não me parecia familiar, exceto pelo encontro no baile. Estudávamos em uma escola pública; as turmas eram grandes.
-         Cuidado — disse Jihye —, seus amigos populares podem ver você com a gente.
Levantei a cabeça e vi Taehyung e Namjoon vindo na minha direção. Provavelmente eles não a reconheceriam, mas Jihye estava certa: se a vissem e percebessem que era a mesma menina do baile de formatura, isso estragaria tudo. Mudei de direção e me afastei dos dois.

-         Covarde — Jihye falou quando eu estava a uns dez passos de distância.
Eu tropecei de leve, mas não parei.
-         Você conhece aqueles dois?— Namjoon perguntou quando me aproximei dela e de Taehyung.
-         São da minha turma de política. Tivemos prova surpresa. Quem dá uma prova surpresa na segunda-feira depois do baile de formatura? Nossa professora é o satanás, já decidi.
Eles não pareceram notar que eu havia evitado a pergunta mudando de assunto.
-         Sim, eu vi a sua postagem. As pessoas estão retuitando loucamente.
-         Jimin! — um garoto me chamou ao passar por nós. — Obrigado pelo aviso. Você é meu heroi.
Namjoon riu.
Taehyung puxou meu braço para recuperar minha atenção.
-         Você e a Yuna brigaram de novo? Outra pergunta que eu preferia evitar.
-         Ela está me atormentando por causa do Taemin há dois meses, e ainda não desistiu.
-         Mas todas nós o conhecemos. Qual é o problema agora?
Minha língua parecia ter o dobro do tamanho adequado para a boca. Agora era a hora de contar a verdade, explicar o que Yuna poderia descobrir e confessar como eu me sentia idiota por ter mentido. Assim ela não teria mais nada contra mim.
Namjoon segurou minha mão.
-         Tenta ser legal com ela. A Yuna tem passado por tanta coisa...
-         Eu sei, é que... — Então meu celular tocou, e instintivamente olhei para a tela.
Taehyung devia estar olhando por cima do meu ombro, porque disse:
-         Não se atreva a ligar para ele.
Meus olhos ainda estavam arregalados de espanto. Era uma mensagem do Taemin.

Estive pensando na noite do baile... Me liga quando chegar em casa.

Eu estava em casa, olhando para o celular sem ligar para o Taemin. O que eu disse ao Daniel era verdade: não gosto de repetições. Mas o Taehyung também estava certo: era sempre eu quem terminava os relacionamentos. O rompimento com Taemin foi repentino, e eu não estava preparada. Talvez tenha sido prematuro. Minha mente tentava me lembrar de que ele havia me deixado no meio do estacionamento do baile de formatura. Eu não queria voltar. Mas não faria mal nenhum telefonar para ele, encerrar melhor o assunto. Se eu contasse o que senti quando fui deixado por ele, talvez me sentisse melhor. Talvez me ajudasse a superar mais depressa, porque eu ainda sentia uma porcaria de nó na garganta cada vez que pensava nele.
Eu precisava ligar. Já havia digitado todos os números, só faltava apertar a tecla para iniciar a ligação. O que me impedia? Nada.
Apertei a tecla. Meu coração disparou quando ouvi chamar do outro lado. Eu ia fazer o que planejava. Ia terminar tudo de vez. Então por que fiquei aliviado quando ouvi a mensagem da caixa postal?
-         Oi — ele dizia na gravação. — Não posso atender. Mas tenho seu nome e o número no identificador de chamadas, então, a menos que eu não queira falar com você, ligo de volta.
Eu ri. O Taemin era engraçado. Tive a sensação de que não ouvia a voz dele havia uma eternidade, embora tivéssemos conversado apenas dois dias atrás. Desliguei sem deixar recado, depois joguei o celular na cama e o deixei lá enquanto dedicava as horas seguintes à lição de casa.
Quando voltei para o quarto, meu telefone tinha várias notificações, mensagens do Taehyung e uma chamada perdida do Taemin. Respondi às mensagens, mas eu tinha tomado uma decisão importante com relação ao Taemin. Era melhor esperar para falar com ele. Eu precisava de tempo para me acalmar. Não queria que minhas emoções contassem uma história diferente da que eu tinha na cabeça. Enquanto isso, eu precisava ver o dublê de Taemin mais uma vez. Ele precisava me dar uma simples resposta: por que havia topado? E queria que ele respondesse longe da noite do baile, em circunstâncias normais. Usando a camiseta de nerd e com o cabelo despenteado. Depois disso, eu encerraria a história com os dois Taemins e poderia seguir com a minha vida.
Esse era o plano, e eu estava disposto a segui-lo. Comecei abrindo o armário e pegando os anuários do colégio na última prateleira.

Namorado de AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora