CAPÍTULO XIV

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— Então, qual é a história? Quem é o Lee? — Olhei para a mesa onde ele e Minah continuavam sentados, ela com a cabeça apoiada no ombro dele.
— Meu melhor amigo... Bom, era meu melhor amigo desde o quinto ano. — Uma linha surgiu entre seus olhos.
— Puxa. Sinto muito.
— Acontece.
— Nem por isso deixa de ser uma droga.
— Trocamos alguns olhos roxos. Agora está tudo bem.
— Mesmo? Ainda são amigos?
— Não, de jeito nenhum. Mas agora não quero mais bater nele até ele apagar, o que já é um progresso, acho.
A tensão em seu queixo me fez pensar que talvez não fosse verdade, mas não falei nada.
— É um grande passo, sim.
Ele afagou meu quadril e encostou a testa no meu ombro. Não pude deixar de notar que minha altura era ótima para isso. Com Minah ele não teria conseguido.
— Tenho que me desculpar. Falei que viríamos como amigos e acabei mudando de ideia. Acho que pensei...
— Que ela fosse pedir perdão? — interrompi.
— Sim. Isso é errado? Eu só queria um pouco de justiça. Carma, alguma coisa assim.
Em vez disso, estou fazendo um jogo idiota. Não faço essas coisas. Não brinco com a cabeça das pessoas.
Afaguei o cabelo em sua nuca esperando que Minah estivesse olhando, porque a história me fazia sentir que eu tinha o direito de jogar também.

— Talvez desta vez você possa se permitir dar a ela um pouco do próprio veneno. E eu sei exatamente o que você está fazendo. Você não está se aproveitando da ingenuidade de um garoto qualquer para provocar ciúmes na sua ex. Eu sei o que estou fazendo aqui e apoio inteiramente a ideia de fazer essa garota sentir pelo menos um pouquinho de arrependimento esta noite.
— E amanhã nós dois seremos melhores que tudo isso, certo? - Eu ri.
— Com certeza.
Ele me enlaçou pela cintura, me tirou do chão e me girou no ar uma vez.
— Você é incrível. — Quando me pôs no chão, me olhou daquele jeito intenso, como havia feito no baile. — E aí, pronto?
Eu ri sem saber se realmente estava pronto, se a intenção dele era cumprir todas as etapas desse jeito.
— Sim.
Jungkook segurou minha mão e me levou na direção oposta à de Minah, para a praia.
— Estamos indo para o lado errado — falei.
— Não. Ela vai ficar maluca com isso, com a gente saindo no meio da festa.
— Ah, certo.
— Tem um lugar por aqui que é mais reservado. Espero que não esteja ocupado.
Contornamos algumas pedras altas, depois ele olhou para trás, provavelmente para ver se Minah tinha notado.
Era verdade, o lugar era bem escondido. Um semicírculo de pedras nos impedia de ver a festa, mas oferecia a visão perfeita do oceano. Ele devia ter passado muito tempo ali com Minah. Jungkook sentou na areia macia e puxou minha mão, e eu sentei ao seu lado.
Ficamos ombro a ombro olhando o mar.
— Você não me contou que a sua irmã se vestia como uma...
— Traficante?
— Não era isso o que eu ia dizer. Mas foi por isso que eu não a reconheci na formatura. Ela estava muito diferente do colégio.

— É, eu sei. É só uma fase. Em poucos meses ela vai estar em outra.
— Como assim? Por quê?
— Não sei, acho que é um jeito de não deixar ninguém chegar muito perto. Ela gosta de manter o mundo a certa distância.
— Ela também já pôs a mão no fogo e se queimou? - Jungkook inclinou a cabeça, com ar pensativo.
— Na verdade, não. Talvez aprenda com as pessoas com quem convive.
— Mas vocês parecem próximos.
— Nós somos. Temos uma família unida, mas isso pode ter sido prejudicial para ela, porque a minha irmã acha que ninguém pode amar quem ela realmente é, não tanto quanto nós a amamos. — Ele pegou um punhado de areia e deixou os grãos escorrerem lentamente por entre os dedos. — E você? Se dá bem com a sua família? eles... te aceitam?
— Sim — respondi imediatamente, mas me detive. Lembrei o que Jin falou sobre meus pais não terem realmente me apoiado depois do rompimento com Taemin.
Balancei a cabeça para me livrar do pensamento e assenti. — Sim. Jungkook levantou as sobrancelhas.
— Tem certeza?
— Me dou bem com os meus pais, mas o meu irmão... Não sei, ele está sempre tentando criar confusão. Agora que está longe, na faculdade, a casa está muito mais tranquila. — Pensei em Jin se oferecendo para me ajudar a descobrir se Taemin me traía. — Mas acho que ele tem boas intenções. Quer ser um bom irmão. Só não faz as coisas da melhor maneira de vez em quando.
— Isso é bom. Se está tentando, é porque ele se importa.
— Você acha? — Talvez eu não estivesse pronto para abrir mão de um relacionamento com o meu irmão, afinal. Ouvir que ele podia se importar mais do que eu pensava me deixou feliz.
— Sim, eu acho. — Ele se apoiou nas mãos e olhou para o mar, e eu vi várias ondas quebrando na praia. — Estou me sentindo egoísta. Eu devia levar você para casa.
— São oito da noite.
Um canto da sua boca se ergueu num meio sorriso.


— E o aluno do ensino médio não devia ir para a cama cedo? - Eu ri.
— Não tenho aula amanhã. Além do mais, você também está no colégio, e nós vamos nos formar daqui a quatro semanas. Falando nisso, por que a sua namorada está dando uma festa tão cedo?
— Todo mundo está planejando dar festas no fim do mês, e a Minah queria que a dela fosse a primeira e a melhor. Além do mais, ela deve viajar para algum lugar distante e exótico assim que se formar.
— Certo.
— E ela não é minha namorada. — Ele se inclinou para a frente e tirou os sapatos. — Estão cheios de areia — explicou, enquanto os deixava de lado.
A marca das suas mãos era visível na areia entre nós. Tracei uma linha em torno delas e coloquei minha mão dentro da marca.
— Você tem dedos longos — ele comentou, notando que os meus dedos quase alcançavam o topo da impressão na areia.
— Tenho. Mas a parte de baixo do desenho desapareceu.
— Acho que não. — Ele levantou a mão aberta e fez um gesto indicando a minha.
Grudei a mão na dele, alinhando as palmas. As pontas dos meus dedos mal alcançavam a primeira articulação dos dele.
— Acho que você tem razão — ele disse. Nossas mãos continuaram unidas por um bom tempo. — Você está com areia na mão. — Ele segurou meu pulso e começou a limpá-lo com delicadeza.
Meu celular tocou, e eu pulei de susto. Eu havia deixado o aparelho no bolso.
Ele soltou a minha mão.
— Quer atender?
— Não.
— E se forem os seus pais?
Olhei para a tela e vi o nome de Taemin. Jungkook e eu ficamos olhando para o celular até ele parar de tocar.
— Ainda insistindo? — ele perguntou depois de um momento de silêncio.


Dei de ombros.
Jungkook moveu os dedos, me pedindo o telefone.
— Não vai ligar para ele, vai?— Entreguei o aparelho.
— É claro que não. — Jungkook digitou um número e mandou uma mensagem.
Depois me devolveu o telefone. Eu li o texto enviado.

"Decidi que o Taemin não me faz bem. Não preciso falar com ele nunca mais. Ele me dispensou no baile de formatura, me deixou sozinho no estacionamento e sem carona para casa. Além do mais, ele é velho demais para mim."

— Para quem você mandou isto? - Perguntei confuso.
Assim que fiz a pergunta, o telefone dele apitou. Jungkook pegou o celular, olhou para a tela e digitou alguma coisa, depois guardou o aparelho no bolso. E moveu a cabeça, indicando meu celular no instante em que uma mensagem chegou.

"Você é muito inteligente. Concordo totalmente. Fico feliz por ter tomado a decisão certa. JK (vulgo DDT") - Eu ri.

— Você acha mesmo?
— Depois de ter sido Taemin por uma noite, posso dizer com toda a franqueza que ele não é bom para você. Você pegou o cara dando em cima de uma garota aleatória, lembra?
Bati no ombro dele.
— Acho que era a irmã dele.
— Eca. Pior ainda. - Eu sorri.
— Bom, se você vai tomar decisões por mim, eu também posso decidir por você.
— Tudo bem. É justo. Qual é a decisão?
— Você sabe o que eu vou dizer. - Ele não negou.
— Você merece coisa muito melhor. Ela traiu você de verdade, e com o seu melhor amigo. Você tem que esquecer os dois... pra sempre.
Como se percebesse que falávamos dela, Minah chamou: — Jungkook? Está por aqui?

Sem pensar duas vezes, me joguei em cima dele. Só queria sentar no seu colo, mas o impulso o jogou de costas na areia, e eu caí deitado em cima dele.
— Hum... oi — ele disse, olhando para mim.
— Oi. — De perto, seus olhos eram incríveis, perfeitos.
A voz de Minah agora era mais alta, vinha de trás da pedra, a menos de três segundos de nos encontrar ali.
Jungkook segurou meu rosto entre as mãos. Ele me puxou, e o desejo em seus olhos traiu sua intenção.
— Não faça isso, a menos que seja de verdade— cochichei a centímetros de seus lábios. Era para ser uma piada, mas minha voz saiu ofegante e séria.
Ele parou imediatamente, e a preocupação substituiu o desejo. Então ele virou minha cabeça e beijou meu rosto. Senti decepção e alívio ao mesmo tempo. Balancei a cabeça e lembrei o que estávamos fazendo de verdade. Se isso não provocasse o ciúme de Minah, nada mais provocaria.

Namorado de AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora