CAPÍTULO XXVI

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Passamos a cena duas vezes, e eu só tive que ajudá-lo uma vez.
-         Você faz muito bem o papel de cara meio doido.  - Ele inclinou a cabeça.
-         Obrigado.
-         Quem vai interpretar o Oscar? - Perguntei.
-         Outro aluno da turma.
-         E ele é tão bom quanto você? - Ele me encarou e sorriu.
-         Como vou responder? Se eu disser que não, vou parecer arrogante. Se disser que sim, você vai achar que eu não sou nada especial.

Girei a colher dentro do copo vazio.
-         Eu queria poder assistir à cena.
-         Seria chato para você. - Ele disso ao me encarar.
-         Não seria, não. – Falei.
-         Você gosta de teatro?
-         Não sei. Nunca fui.
-         Sério?
-         Sério.

Jungkook pôs a mão no peito.
-         Estou chocado, Jimin. Não sei se podemos ser amigos.
Quando eu me preparava para rir, ouvi uma voz atrás de mim que me paralisou.
-         Jimin?
Fechei os olhos por um instante, depois me virei para Yuna.
-         Oi.
Ela sorriu para Jungkook.
-         Taemin, certo?
Eu me encolhi, respirei fundo e disse: — N...  - Jungkook ficou de pé e me interrompeu.
-         Sim. E você é...?
Jungkook sabia quem ela era. Mas a aparência inocente em seu rosto não revelava. Eu queria rir, mas me controlei.
-         Yuna. A gente se conheceu no baile... Você não lembra porque estava ocupado com... outras coisas. — Ela olhou para mim, depois para ele de novo. — Não sabia que estavam juntos de novo. O Jimin falou sobre outro cara com quem estava saindo.
-         Não, não estou saindo com outro cara — interferi depressa, temendo que Jungkook pensasse que eu estava dizendo às pessoas que estávamos saindo. Apontei para ele. — E também não estamos juntos de novo. Estamos só conversando. — Ela queria me encrencar com o "Taemin" contando que eu estava saindo com outra pessoa?
Yuna me mediu da cabeça aos pés.
-         Acabou de sair da academia? Está com uma aparência tão... natural.
— Tem razão — disse Jungkook. — Ele tem uma beleza natural. — Ele entrara no personagem. Até segurou minha mão, apesar de eu ter acabado de dizer a Yuna que não estávamos juntos. Olhei para ele, mas não soltei sua mão.
Yuna viu o livreto em cima da mesa.
-         De quem é o roteiro? O Jimin disse que você fazia administração.
-         Também faço um curso de teatro. É uma válvula de escape para mim.
-         Que divertido. — Ela ajeitou a alça da bolsa sobre o ombro. — Usa óculos — comentou, quase como se fizesse uma lista.
-         Quando não estou de lente de contato, sim.
-         O Jimin nunca mencionou que você usava óculos. - Franzi a testa.
-         Por que deveria ter mencionado?
-         Bom, parece uma dessas coisas que você mencionaria. Enfim, vim fazer umas compras para a minha mãe. Sabe como ela é. Liga para mim, Jimin. - A gente nunca ligava um para o outro. Ela subiu a rua. Jungkook ficou ali parado ao lado da minha cadeira, segurando minha mão e observando
Yuna.
-         Não gosto dessa menina. – Ele disse.
Afaguei a mão dele, depois a soltei. Teria continuado de mãos dadas pelo tempo que ele quisesse, mas seus olhos brilhavam daquele jeito, como se ele tivesse acabado de fazer uma apresentação excelente. Eu não queria mais ser só uma coadjuvante nessa encenação.
Jungkook sentou, pegou o roteiro e o dobrou ao meio.
-         Ela lembra de tudo o que você fala? – Perguntou.
-         Só para poder usar contra mim no futuro.
-         Por que você anda com ela mesmo?
-         Porque os meus amigos gostam dela.
Ele olhou para a rua, onde Yuna não era mais visível.
-         Eu piorei a situação?
-         Não acredito que possa ficar pior. Está tudo bem. — Mexi a colher no copo vazio novamente e mordi o lábio. — Mas eu ia contar a verdade a ela.
-         Eu sei, mas acho que devia contar aos outros amigos primeiro.
-         Tem razão. Tenho que contar aos outros primeiro. — Eu tentava negar esse fato.
Tentava fingir que não precisava contar tudo a eles. Como se todos nós houvéssemos seguido adiante, superado. Mas não era assim que funcionava. Eu estava mentindo para eles, e não é isso que os amigos fazem. Eu precisava contar a verdade.
Alguns minutos mais tarde, vi Yuna sair da cafeteria no fim da rua segurando um copo.
-         Já volto.
As palavras de Namjoon ecoavam em minha cabeça. "Tenta ser legal com ela. A Yuna tem passado por tanta coisa..." Eu disse a Taehyung que ia tentar. E não estava tentando.
-         Yuna!
Ela parou e se virou.
-         Oi?
-         Eu... — Não sabia nem como começar. Pensei nas coisas que ela falava quando estávamos todos juntos. Yuna tinha um relacionamento horrível com a mãe. No começo pensei que ela reclamava dos pais como todo mundo faz, mas, obviamente, era pior do que eu havia percebido. — Está tudo bem? Com a sua mãe?
-         O Tae te falou alguma coisa? — Ela parecia brava.
-         Não. Da última vez que almoçamos juntos, você comentou que tinha brigado com ela. Ainda estão brigadas?
Ela olhou para o copo térmico em suas mãos.
-         Estamos sempre brigadas.
-         Por quê?
-         Ela quer mudar... de novo. Só quero que ela espere até eu me formar, até ir para a faculdade, mas ela está fugindo do homem cinquenta e um ou setenta e cinco. Perdi as contas. E já empacotou metade da casa.
Uau. Devia ser horrível. Eu não conseguia imaginar minha mãe juntando tudo e mudando de casa cada vez que tinha um problema. Estava me sentindo mal por ela.
Lembrei que ela havia comentado alguma coisa sobre a mãe namorar demais. Homens horríveis, normalmente.
-         Sinto muito.
Os olhos dela encontraram os meus e endureceram.
-         Não é tão grave. O Taehyung disse que eu podia ir morar com ele por algumas semanas, se isso acontecesse.
-         Ah. Bom, que legal. Isso vai ajudar. Só queria saber se você estava bem.
Ela olhou por cima do meu ombro, para onde Jungkook continuava sentado.
-         Está fingindo que se importa porque está preocupada comigo, ou porque tem medo do que eu sei?
-         O quê?
Ela forçou um sorriso.
-         Fica esperto, Jimin. Estou quase descobrindo. — Ela começou a se afastar, então disse sobre o ombro: — Noventa dias.

Namorado de AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora