CAPÍTULO XV

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-         Ah — ouvi Minah exclamar. — Desculpem.
Sentamos como se tivéssemos sido pegos no flagra.
Jungkook passou a mão no cabelo, se livrando da areia e bagunçando completamente o que eu havia arrumado.
-         Oi, Minah. Precisa de alguma coisa?
-         Não. Quer dizer, sim. O Hoseok está te procurando. - Os olhos de Jungkook brilharam.
-         O Hoseok está aqui?
-         Acabou de chegar. Eu disse que você viria.
Jungkook se levantou depressa e estendeu a mão para me ajudar. E fez isso com tanta força que quase fui parar no chão outra vez. Depois começou a andar, e olhou para trás uma vez para ver se eu o seguia. Eu tentava, mas ele estava indo rápido demais.
-         Eles têm um caso de amigos — Minah comentou, e aí eu percebi que ela estava andando ao meu lado. — Mas você já deve saber disso.
-         Ainda não conheci o Hoseok.
-         Não? Eles são praticamente a mesma pessoa. Apesar de o Hoseok ser um pouco exagerado para o jeito tranquilo do Jungkook.
Vi Jungkook abraçar um cara, e eles trocaram vários tapinhas nas costas antes de se afastarem. Eu conseguia ouvir a risada dos dois de onde estava, a uns dez metros.
-         Ele vai querer te apresentar — Minah falou e me deu um empurrãozinho.
-         Ah. Certo. — Eu não queria que Jungkook tivesse que sustentar a mentira com pessoas de quem gostava de verdade, mas, com Minah ali parada, eu não podia fazer nada.

Continuei andando até parar ao lado dele. E pela primeira vez vi de fato o rosto de Hoseok, os olhos escuros, quase pretos, com aquela luz, e quase recuei um passo. Eu o conhecia. Bom, não realmente. Ele tinha saído com um amigo uma vez havia dois anos, e eu fui fazer companhia. Só lembrava disso porque ele tinha sido um tremendo babaca, o tratou mal o tempo todo e ainda tentou transar com ele no fim da noite.
Jungkook estava contando a Hoseok sobre uma cena que ele teve que fazer na aula de teatro.
-         ... e aí eu perguntei à professora: "Pode ser um monólogo?" Hoseok riu.
-         O que a menina falou?
-         Ela achou que eu estava brincando.
-         E você continuou?
-         O que mais eu podia fazer?
-         Não sei... talvez parar de se preocupar com os sentimentos dos outros pelo menos uma vez e pensar na sua nota.
Jungkook deu de ombros.
-         Tanto faz. No fim deu tudo certo.
Hoseok olhou para mim, e eu fiquei esperando que ele também me reconhecesse, mas não aconteceu. Ele só parecia se perguntar por que aquele garoto esquisito estava interrompendo a conversa. Fazia dois anos, e o encontro nem havia sido comigo. Era compreensível que ele não me reconhecesse.
Jungkook olhou para mim com aquela expressão feliz, e foi como se voltasse de repente à realidade.
-         Ah, oi, Jimin.
-         Você conhece ele? — Hoseok perguntou.
-         Conheço. Ele veio comigo.
-         Sortudo. Como um cara sem graça como você descola um garoto interessante como ele, hein Jk? – Hoseok Falou
-         Deve ser meu charme fatal. -  Jungkook olhou para mim.
-         É isso mesmo? -Hoseok me perguntou com um ar irônico.
-         Ele é bem charmoso. - Disse encarando Jungkook.
-         Humm. Pensei que charme fosse especialidade minha. - Disse Hoseok e Minah, que havia se juntado a nós, riu.
-         Existe uma diferença entre ser charmoso e ser atrevido, Hoseok. - Exclamou ela.
-         E você deve conhecer bem essa diferença — ele respondeu.
Minah ergueu uma sobrancelha. Esperei pela resposta, mas ela e Hoseok riram. Depois ele a agarrou e a jogou em cima de um ombro.
-         Eu já volto. Só vou jogar esta garota no mar. Faz parte do presente de formatura. — E saiu correndo, como se fosse justamente essa a sua intenção.
-         Nem vem! — ela gritou, batendo em suas costas. — Jungkook, me salva!
Jungkook se limitou a dar de ombros e continuou sorrindo.
-         Lee!— Minah berrou.
Jungkook e eu vimos Hoseok correr para o mar. Antes de ele chegar lá, Lee os alcançou e os dois fingiram uma luta na areia. Jungkook suspirou. Pela primeira vez na noite, ele parecia feliz. Eu não precisava contar a ele que Hoseok havia sido um babaca com meu amigo dois anos atrás. Hoseok nem se lembrava disso, era evidente, e devia ter mudado muito depois daquilo. Parecia diferente, mais legal.
-         Seus amigos são divertidos — eu disse.
-         É, a gente se divertia muito.
-         Tem saudade disso?
-         Tenho saudade de como era antes. Agora é tudo diferente, e é inútil tentar fazer voltar a ser como era.
Eu esperava que isso significasse que ele tinha desistido de tentar reatar com Minah. Ela e Lee não o mereciam.
Jungkook estava sentado em uma mesa conversando com Hoseok quando voltei do banheiro. Eu me aproximei dele por trás e passei os braços por cima de seus ombros, colando o rosto ao dele. Segura essa, Minah, pensei quando ela passou por nós com Lee. A noite estava bem mais fria, e o rosto de Jungkook era morno. Senti seu sorriso quando ele entrelaçou os dedos nos meus.
-         Vocês dois são fofos de dar nojo, sabiam? — Hoseok comentou.
Jungkook ficou tenso e mudou de posição na cadeira. Seus dedos soltaram os meus, e ele cruzou os braços. Ah, não. Estava se sentindo culpado. Queria contar ao amigo que era tudo mentira. Eu sabia, porque conhecia o sentimento. Uma coisa era mentir para Yuna, porque era como se ela merecesse; outra, completamente diferente, era mentir para Taehyung e Namjoon.
-         Por favor, não — cochichei. Jungkook não podia contar esta noite, não sem saber como o amigo reagiria à notícia. Hoseok poderia contar tudo a Minah, e então a noite teria sido inútil. — Você pode terminar comigo amanhã e contar para ele.
Jungkook assentiu, tenso. Beijei a pele sob sua orelha. Ele estava tão perfumado que eu queria ficar ali, tirar vantagem dos últimos momentos de contato físico que teríamos.
Senti quando ele se arrepiou e me afastei.
-         Quer ir embora? — ele perguntou.
-         Fica aí conversando mais um pouco. Vou buscar seus sapatos. - Ele olhou para os seus pés descalços.
-         Ah, é. Deixei perto das pedras. Obrigado.
Estava ficando tarde. Havia escurecido, e era mais difícil enxergar o caminho na praia.
Contornei as pedras e vi duas pessoas se agarrando.
-         Ai, desculpa!
Minah e Lee levantaram a cabeça para olhar para mim, ela ajeitando o cabelo.
-         Desculpa — repeti. — Só preciso pegar os sapatos do Jungkook. Estão ali.
Peguei os sapatos.
-         Vocês vão embora? — Minah perguntou.
-         Vamos.
-         Obrigada por terem vindo — Lee falou quando eu estava prestes a sair dali. — É bom ver o Jungkook feliz de novo.
É tudo encenação, seu babaca, eu quis dizer. Você é o pior amigo do mundo, e não use a felicidade dele para se sentir menos culpado. Mas não falei nada, claro.
-         Ah, com certeza. A gente se vê.
Jungkook estava caminhando na minha direção quando eu saí do semicírculo de pedras.
-         Obrigado — ele disse, apontando para os sapatos quando nos encontramos. Eu me senti feliz por ter sido eu a pegar Minah e Lee atrás daquelas pedras, e não ele. Jungkook não precisava ver mais do que já havia visto naquela noite.
Ele me abraçou e escondeu o rosto no meu cabelo.
-         Obrigado por hoje. - Fechei os olhos.
-         Tudo bem. Foi divertido. — E me surpreendi ao perceber que estava sendo sincera.
Jungkook era uma companhia agradável.
Ele envolveu minha cintura com um braço, e com a outra mão acariciou minhas costas. Talvez também quisesse tirar proveito dos últimos momentos de contato físico que teríamos.
-         Eu também me diverti. Vou te levar para casa. — Ele me soltou e pegou minha mão.
Olhei para trás e vi Minah parada ao lado das pedras, nos olhando. Eu devia ter imaginado que ela era a razão para o contato físico.

Namorado de AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora