CAPÍTULO XVII

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Jungkook se levantou do banco.
- Aonde você vai? Ainda não terminei de me inspirar — reclamou Haewon.
Ele pôs Jihye sentada no banco no lugar dele.
- Preciso levar o Jimin pra casa. Ele já aguentou a nossa família maluca por tempo demais.
- Tchau, Jimin — disse Jihye. — Obrigada por ter feito tudo o que eu pedi. - Era como se ela quisesse lembrar Jungkook, ou a mim, de que essa noite havia sido só uma encenação, que não era de verdade. Jungkook não precisava de lembrete. Ele tinha interpretado o papel com perfeição.
Haewon me abraçou sem usar as mãos, salpicadas de tinta, pressionando os pulsos contra os meus ombros.
- Foi bom te conhecer. Eu falei sério sobre a estrutura óssea. Volte para me ver.
Eu sorri.
- Ossos de dinossauro — Jihye falou quando Jungkook e eu saímos.
Jungkook olhou para mim algumas vezes enquanto andávamos pelo corredor.
- Minha família é esquisita, mas eu amo essas pessoas.
- Sua família é incrível. Sua mãe não é... — Eu me detive. Não queria tocar em um assunto desagradável.
- Não é o quê? Normal? Equilibrada? - Balancei a cabeça.
- Não, é claro que não. É que ela e a Jihye estavam discutindo e... Ela não é muito brava, é?
- Brava?
- Sim. Ela não ficou aborrecida com toda essa história da vingança?
- Não, ela não ficou brava. — Ele abriu a porta da frente para mim, e o ar frio atingiu meu rosto, que, só então percebi, estava quente. — E, se você acha que elas estavam brigando, é porque nunca viu a Jihye brigar.
- Não acredito que você contou para a sua mãe sobre os planos de vingança.
- Foi a minha irmã. Ela é o centro da nossa loucura.
- Eu percebi.
- Imagino que sim, considerando o que ela te obrigou a fazer hoje.
- Ela não me obrigou — respondi. Eu me diverti, mas não podia admitir. Estava me sentindo estranho, como se quisesse algo mais dele, e não queria. Nós dois havíamos representado. Seria ridículo pensar que havia mais que isso.
- Bom, eu sei que ela pediu a sua ajuda, então obrigado. Você foi ótimo. Nunca pensou em estudar artes cênicas?
Eu ri quando entrei no carro.
- Não, nunca.
- É divertido, sabia? Fazer uma cena como a que representamos esta noite equivale a uma droga natural. — Seus olhos brilhavam, e eu entendi que ele havia gostado da noite por um motivo diferente do meu.
- Foi divertido.
- Mas a minha mãe estava certa — ele disse. — Foi muito imaturo querer me vingar, mesmo eu me sentindo melhor agora.
- Pelo menos conseguiu encerrar o assunto? Eu sei que era isso o que você queria.
- Sim, consegui. Ficou para trás.
- Ficou para trás — repeti.
Fui explicando o caminho para minha casa e, quando ele parou, desci do carro antes de Jungkook desligar o motor. Não queria que ele tivesse que fingir novamente que havia alguma coisa entre nós. Por isso me surpreendi quando, já a caminho da porta, percebi que ele estava ao meu lado.
- Você é rápido — ele disse.
- Ah, não precisa me levar até a porta.
- É mais forte do que eu. Meu pai me criou desse jeito.
- Onde ele estava hoje?
- Ele dorme cedo e acorda com o sol.
- Sua mãe escolheu o seu nome. Ok. Mas você é mais parecido com ela ou com o seu pai?
- Quer saber se eu sou um espírito livre ou um conservador que acorda cedo?
- Isso.
- O que você acha?
- Não sei. Você foi comigo ao baile de formatura sem fazer perguntas.
- Eu fiz perguntas.
- Não as que realmente importavam.
- Você estava bonito demais para essas perguntas.
Sorri e tentei não me envaidecer, mas algumas borboletas bateram asas no meu estômago.
- Solitário demais, você quis dizer? - Ele fez uma careta.
- É, também.
Chegamos à porta, e eu encarei Jungkook.
- Então, o baile me fez pensar que você é parecido com a sua mãe.
Mas...
- Mas?
- Mas você me trouxe até a porta porque foi educado para ser um cavalheiro, e isso me faz pensar que é parecido com o seu pai.
- A minha mãe poderia se ofender com isso.
- Por quê?
- Porque, se ela te trouxesse pra casa, provavelmente te acompanharia até a porta.
- E nesse caso eu estaria na minha varanda com a sua mãe. - Ele riu.
- É, não é uma boa imagem.
- Está dizendo que se parece com a sua mãe?
- Não. Você entendeu bem. Tenho um pouco da minha mãe, um pouco do meu pai e muito de mim.
- É uma ótima mistura. — Peguei a chave para abrir a porta. — Foi uma noite muito divertida.
- O que você teria feito hoje se não tivesse saído comigo?
A festa do Yoongi. Eu não pensava nisso desde o começo da noite. No início, imaginava que iria correndo para lá assim que Jungkook me deixasse em casa, mas agora não tinha vontade de ir.
- Um amigo do colégio deu uma festa hoje. As festas dele são ótimas... - Fiz uma pausa, porque não conseguia lembrar a última vez em que uma festa tinha sido assim tão incrível. Jungkook inclinou a cabeça, me esperando terminar. Ele me olhava daquele jeito de novo, como se procurasse alguma coisa além do que eu oferecia. Ele ainda não tinha se dado conta de que o
que via era tudo o que existia?
- Continua — ele disse.
- Esquece. Era bobagem.
A porta da minha casa se abriu. Como eu pude esquecer que os meus pais sempre esperavam por mim? O meu pai apareceu.
- Jimin?
- Sim, sou eu. Desculpa. Já estou entrando. - Ele deu um passo para fora.
- Olá. Eu sou o sr. Park.
- É um prazer conhecê-lo, senhor. Eu sou o Jungkook.
Meu pai me olhou esperando a explicação sobre quem ele realmente era, e eu não sabia o que dizer.
- Ele só me trouxe para casa. Obrigada, Jungkook.
Entrei e ouvi meu pai se despedir com um boa-noite melhor que o meu, depois ele fechou a porta.
Minha mãe estava lendo no sofá.
- Estudaram bastante?
- Acho que ele não estava estudando — meu pai comentou.
- Quê? — Minha mãe parecia preocupada.
- Sabe a garota que você conheceu mais cedo? Era o irmão dela. Aquele de quem eu falei. Ele me trouxe para casa.
- Ah, por que você não disse? — Meu pai perguntou.
- Acabei de dizer. — Olhei para um e para outro, esperando as próximas perguntas, imaginando que diriam que eu não estava onde falei que estaria. Minha mãe dobrou o cobertor que estava usando e o deixou sobre o sofá. Tentei imaginar o que aconteceria se eu falasse com eles sobre vingança e namoros de mentira. As imagens na minha cabeça estavam cheias de discursos inflamados e olhares confusos. — Vou dormir.
- Vai se despedir do seu irmão. Ele vai embora amanhã cedo.
- Tudo bem. — Bati de leve na porta do quarto de Jin, mas não houve resposta.
Abri um pouco e vi que ele já estava deitado. Ele se virou e levantou um pouco a cabeça.
- Oi, Jimin. Já chegou.
- Sim. Só vim dar boa-noite. Boa viagem amanhã. Vai com cuidado. - Ele deixou a cabeça cair sobre o travesseiro.
- Qual é a da gótica? Por que você está andando com ela? Pensei que gostasse de garotos, principalmente os tontos com músculos igual ao Taemin.
- Ela é só uma amiga. Mais ou menos.
Meu irmão riu. Tenso, fechei a porta antes que ele dissesse alguma coisa grosseira.
Jungkook estava errado. Meu irmão não queria se aproximar de mim. Depois de passar um tempo com Jungkook e Jihye, eu entendia que o relacionamento que tinha com o meu irmão não era muito bom.
Quando cheguei ao meu quarto, criei um grupo no celular com Taehyung e Namjoon, para avisar que não iria encontrá-los na festa. Acabamos trocando mensagens sobre a minha noite. Eles me deram as respostas esperadas, vários pontos de exclamação e letras maiúsculas, mas esta noite isso não pareceu tão legal quanto normalmente era.

Namorado de AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora