CAPÍTULO V

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Meus pais estavam me esperando, como sempre faziam, quando Taehyung e seu par me deixaram em casa. Eles tentaram me convencer a sair com eles depois do baile, mas eu não quis. Achavam que meu desânimo tinha a ver com o fato de eu não ter sido eleito rei do baile. Talvez fosse, em parte. Ou isso ou a constatação de que Yuna mudou seu status de carrancuda a feliz depois do anúncio do resultado. Talvez meu humor tivesse mudado por eu não querer sentir o que sentia por um garoto idiota.
Minha mãe se esticou toda no sofá para me olhar. Demorei um instante para perceber que ela estava procurando o Taemin.
- Ele não veio — resmunguei.
Meu pai se levantou e bocejou. Eu estava em casa. Ele podia ir para a cama.
- Ele podia ter te acompanhado até a porta, pelo menos — meu pai falou quando me abraçou e beijou o topo da minha cabeça.
Francamente, eu não queria contar tudo que tinha acontecido naquela noite, mesmo sabendo que meus pais ficariam contentes com a notícia do fim do namoro. — Estou cansado. Obrigado por terem esperado. — Abracei minha mãe e fui para o quarto. Tirei o meu terno de baile e o deixei no chão, sem me dar o trabalho de pendurá-lo com cuidado. Não era uma lembrança que eu queria guardar.
Vesti o pijama e, descalço, fui cumprir o ritual noturno de lavar o rosto e escovar os dentes. Quando voltei ao quarto e avistei o terno, olhos como chocolate derretido brilharam em minha memória. Fiquei surpreso com a recordação que minha mente decidiu associar àquela peça de roupa. Por que ele aceitou ser meu namorado de mentira, aliás? Ele falou que não foi por causa do meu sorriso, mas fomos interrompidos antes que ele pudesse dizer o que o havia convencido. A curiosidade queimava dentro de mim. Talvez ele me achasse bonito? Ou teve pena de mim. Mas eu fiquei esplêndido com aquele terno.
Eu o peguei do chão e, com cuidado, coloquei sobre a cadeira da escrivaninha. Por que eu estava analisando os motivos dele, afinal? Não tinha importância. Não fazia diferença. Era cansaço mental. Eu precisava dormir.
Mas minha cabeça não desligava. Eu continuava analisando. Pensava no baile e no fato de metade do colégio ter assistido à encenação do fim de namoro com o falso Taemin. Amanhã todo mundo estaria comentando. Eu não precisava de ninguém com pena de mim, "Olha só, o menino gay que foi rejeitado na frente da escola toda". Como eu poderia dar um jeito nisso? Entrei no Twitter.

"Solteiro de novo. Quem vai fazer uma festa para mim?"

Pronto. Agora todo mundo ia saber que eu estava bem. Porque eu estava mesmo. Muito bem. Olhei para a tela e senti crescer em mim o impulso de apagar aquele tuíte. Dormir. Eu só precisava dormir. Tudo ficaria melhor de manhã.

Só que não ficou. Minha mente decidiu preencher a noite com sonhos sobre um garoto sem nome e seus motivos misteriosos. Mesmo que eu quisesse falar com ele de novo, era um garoto a quem eu só teria acesso por intermédio de uma menina que me odiava. Ela nunca me ajudaria a entrar em contato com seu irmão. Provavelmente ele nem queria falar comigo de novo, mesmo que eu só quisesse conversar outra vez para matar minha curiosidade.
Desci as escadas e encontrei meu pai sentado à mesa da cozinha com seu caderno de desenho. Eu sabia que não devia interrompê-lo enquanto ele tentava recuperar um sonho perdido. Meu pai já quis ser animador da Disney. Aparentemente, é um objetivo quase impossível de alcançar. Um sonho muito distante de onde ele foi parar, um contador que passa o dia sentado atrás de uma mesa, usando só o lado esquerdo do cérebro. Seu lápis deslizava sobre o papel com uma facilidade que ele não demonstrava em nenhum outro campo da vida. Ele era bom de verdade.
As tigelas estavam no armário atrás da cadeira dele, por isso peguei só uma banana e virei para voltar ao quarto, mas meu pai me chamou:
- Bom dia, Jimin.
- Oi, pai. A mamãe foi ao mercado?
Ele assentiu. Nossa casa era como um relógio que funcionava perfeitamente. Todo mundo respeitava os horários, dizia as coisas certas e mantinha o ritmo todos os dias, sem nenhum desvio. Era bom ter essa rotina. Sentir-se enraizado em algum lugar. Seguro.
- Senta aqui e me conta sobre o baile.
- Deixa pra lá. Você está ocupado. Está no meio de alguma coisa aí.
Ele apontou para o caderno de desenho, e a atitude relaxada de alguns momentos atrás deu lugar a costas eretas.
- Não estou no meio de nada. Na verdade, acho que já passei muito do fim.
Sentei na cadeira diante dele, ciente de que ele não ia desistir enquanto não ouvisse um resumo. Além do mais, era hora de contar o que ele esperou dois meses para ouvir.
· O Taemin terminou comigo.
Ele arregalou os olhos, primeiro em alegria, depois em solidariedade, tudo em menos de um segundo.
- No baile de formatura?-  Dei de ombros.
- Não é tão grave.
- Quer que eu vá até a KAIST e dê uma surra nele? - Ergui as sobrancelhas.
- Tem razão. Ele é muito grande para mim. Vou mandar seu irmão no meu lugar.
Soltei a risada pela qual ele esperava, depois mordi a banana, sabendo que, mesmo que meu pai estivesse falando sério, Jin nunca bateria em ninguém por minha causa. Não éramos próximos o bastante para isso.
Meu pai cruzou as mãos em cima da mesa.
- Levanta a cabeça. Tem outros peixes no mar. O oceano é imenso. Às vezes a gente precisa pescar e devolver alguns antes de achar aquele que vale a pena manter. Continue nadando. Só isso.
- Acho que essa última metáfora não se aplica aqui.
- Era uma sequência aquática; só acrescentei mais uma. Sorri, levantei e fui jogar a casca de banana no lixo.
- Só peço que me espere sair de casa antes de organizar a comemoração com a mamãe.
Ele assentiu, muito sério, e eu saí da cozinha. Pronto. Não foi tão ruim.
Eu já podia riscar da lista a conversa com meus pais sobre o rompimento.
Meus pais sempre foram compreensivos referente as minhas escolhas.

Namorado de AluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora