CAPÍTULO 8

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Enzo caminhava pelo salão quase escuro, bem próximo de Kuaz. Seu globo rodava os dois de forma lenta , fazendo uma espécie de escudo. Enzo começou a olhar ao redor e avistou grandes tubos com um líquido verde. Lâmpadas iluminavam os tubos e eram a única iluminação do ambiente. Ele tentava se aproximar de Kuaz, para achar algum abrigo. O mesmo percebia a aproximação da criança.

-...Sabe, filhote. Eu vou te contar uma história... - Kuaz tentava puxar assunto.

Ao redor deles, mesas e macas com iluminação de cima para baixo, tentavam iluminar corpos de coisas que estavam deitados. Eles estavam amarrados pelos membros. Alguns pelos vários tentaculos.

-Sabe... existiu um garoto que tinha uma infância muito confusa e tortuosa. Ele possuía um pai que o ajudou muito a sobreviver em um mundo totalmente destruído... - Kuaz dizia ao menino enquanto se aproximava de algumas prateleiras na direção oposta às macas enfileiradas. - O pai do garoto era direito. Fez o possível para dar ao garoto uma infância normal. Mas trabalhando na defesa das orlas, era difícil estar presente. Viagem espacial dura dias para uns, enquanto para outros, duram anos.

Enzo chegava próximo a uma maca e tentava ver melhor o que estava na mesa.

-A mãe era dona da própria vida... - Kuaz continuou - Ela queria tomar conta da vida do garoto, também. Tentou várias vezes fazer que ele fosse o cidadão que ela esperava de alguém. Ela era uma al'ziza. Uma raça de guerreiros, filhote...

Kuaz alcançou uma caixa de metal com duas linhas cruzando. As linhas tinham cores lilás.

-Os Al'ziza tomaram conta de toda uma orla a vários ciclos. Sabia, filhote? - Ele retirava tubos verdes de dentro da caixa. - Grandes guerreiros de outrora, obrigados a se acostumar com a vida monótona da nova sociedade galáctica. Foi assim que o pai encontrou a mãe. Sabe-se lá porque, o motivo dela seguir carreira cientifica. Talvez a ideia de controlar algo, ainda estava nas suas veias. Controlar a ciência? Nunca se sabe...

Kuaz pegava os tubos e abria para bebe-los.

Enzo se aproximava mais ainda de uma maca com um ser grotescamente grande amarrado. As amarras estavam em suas três pernas e nos seus braços. Um dos braços estava fora do corpo. Estava pendurado na amarra.

-Ela fazia questão, filhote...- Kuaz bebeu de uma vez um líquido que estava no pote que estava em suas mãos. Tossiu e continuou - De marcar o garoto com tudo que fosse possível. Cortar, rasgar, queimar, triturar. Tudo que a ciência poderia ajudar. Estudar esse filho que ela chamava de cria. Óbvio, o garoto era fruto de uma fusão de duas raças. Uma Al'ziza e um Predoria. Pai e mãe. Ele era algo único na galaxia. Um experimento. - Pegou a outra cápsula e guardou na cintura.

Kuaz estava buscando algo perto da mesa que achou a caixa de metal. Algo que o ajudasse. Segurava a barriga onde o inseto gigante havia perfurado. Sabia que a infecção era o menor de seus problemas com aquele machucado. Pra'khepraus costumam inserir ovos com aquele ferrão que o acertou. Ele sabia disso. Já perdeu muitos amigos assim.

-Se não fosse o pai, o garoto estaria em uma péssima condição psicológica. - Kuaz continuava sua busca na mesa. - Sabe, ele ensinou o garoto sobre as religiões fora da orla do protetorado. As ideologias de culturas de mundos pouco explorados. Tudo para uma criança de poucos ciclos de vida. - Ele achou uma espécie de pistola com um encaixe na ponta. Esse encaixe era perfeito para o tubo que havia guardado na cintura.

Enzo se aproximava mais do ser que estava na maca.

-Isso aí era uma mazeia...- Kuaz dizia do outro lado do salão. - As mazeias costumam medir menos que um metro. As fêmeas bem menos. Mudam de tamanho quando estão em período de incubação ou gestação. Você sabe o que quer dizer essa palavra, né? GESTAÇÃO?! Você não me parece burro, filhote.

-Ela é bem maior que eu... - Enzo recuou um pouco. - Eu tenho mais de um metro... Ela está..?

-É, você é bem inteligente mesmo, filhote.

Enzo tentou ver melhor o ser na maca. Era algo humanoide, com tentáculos no lugar de braços. Uma grande barriga, que estava aberta com um corte vertical, da parte da lombar até o tórax. Cortes maiores de arranhões demarcavam toda a parte do tórax e nos braços. O rosto era semelhante a um porco, porem as orelhas ficavam no lugar dos olhos, que não estavam em lugar nenhum do rosto. No final da maca, mais precisamente, no chão. Estava uma grande bacia, com uma quantidade absurda de muco branco e azul. entre esse muco era possível ver alguns pequenos tentáculos e um pequeno rosto semelhante ao do animal na maca.

-Não existe bem, nem mal...- Kuaz tocava no ombro de Enzo. - Existe apenas isso, filhote. Vamos...- Kuaz o puxava de forma calma e reconfortante.

Caminharam por mais um salão. Neste, haviam grades de vários tamanhos e um odor absurdamente forte de podre. Enzo sondava as gaiolas com seu olhar de curiosidade e medo. Eram de formas e tamanhos distintos. Alguns em círculo, outros no padrão retangular e outros em formatos estranhos entre um círculo e um triângulo. Dentro dessas grades, era possível ver seres de formas únicas. Um deles chamou a atenção de Enzo. Era semelhante a uma vaca. Com grandes chifres azuis na cabeça

-Sazaras, são as "vacas do espaço", se é que me entende...- Kuaz usava a pistola que pegou antes e atirava na barriga com ela, criando uma espécie de material pastoso para colar os arranhões e o corte.

O animal estava na gaiola deitado de forma totalmente desconfortável. Não parecia dar sinais de vida, o corpo já começava a deteriorar. Na gaiola, bem a frente dele, havia outro animal semelhante, Porém, bem menor. O mesmo estava sem as pernas e com a boca costurada.

Kuaz, percebendo a indiferença é o incômodo de Enzo, o chamou mais uma vez - vamos garoto, seus amigos estão logo ali...

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2020 ⏰

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