PARTE 3 - CRIANÇAS POSSUEM A INOCÊNCIA DE DEUS

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Paulo corria pelas ruas de Rocha branca como se a vida de alguém estivesse em perigo. Se não fosse seu sorriso largo de orelha a orelha, poderia se dizer sim que ele estava em perigo. Porém, há quem diga que o amor jovem é realmente um grande perigo.

Corria para a casa no final do grande mercado Paraná. A famosa "casa amarela". Lindo jardim, com vista perfeita para a grande avenida que cruzava a entrada da cidade. A casa era da família Trisala. Família de ricos. Família de Rosário Trisalia. filha mais nova de quatro filhas. Seu Rashid Trisalia. Trilhão, como era conhecido. Mantinha as filhas em uma rédea curtíssima. Horário para se recolherem, medição milimétrica de tamanhos de roupas e revisão completa em todos os álbuns de cds novos das filhas. Buscando sempre uma musica que fosse de baixo calão ou de teor obsceno. Parecia um típico PAI militar clichê. 

Bom, era. 

Para todos na cidade. 

Dentro de casa, era um pai excelente. Que buscava respeitar as filhas e apenas fazia uma revista no que as filha consumiam em questão de mídia, para orientar as filhas. Nunca as proibiu de nada, a não ser de usarem roupas, que mostravam, mais do que deveriam, as partes femininas que já estavam se desenvolvendo mais rápidos que ele poderia impedir.

Parafraseando seu Trilhão " ...Se eu cometi um crime, foi por amor. Se esse crime foi a segurança de minhas filhas. Eu sou culpado!"

Não era um melhor exemplo de pai, mas queria fazer o seu melhor trabalho. A maior prova de sua benevolência, ou talvez de sua ignorância, foi deixar sua filha mais nova, Rosário. Sair com o filho dos Albuquerque, Paulo.


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Hoje era o dia que Paulo iria pedir Rosário em namoro.

O GRANDE dia.

Pegou sua melhor camisa, melhor short, melhor perfume.

O menino parecia o próprio vento. Corria para seu destino.

Atravessou o grande jardim, chegou ate a porta da casa e bateu duas vezes. Como sempre fizera. Falou com a dona Terezina, governanta da casa e subiu ate o quarto de Rosário.

- E ai... quer passear pela praça hoje?- Ele dizia enquanto arrumava sua roupa e, sutilmente, se cheirava para ver se "a barra estava limpa".

- Podemos ir ate a colina hoje...- Ela dizia sem olhar para trás. Apenas escovava os cabelo olhando pela janela de seu quarto.

Sua voz, aveludada e infantil, quebrava rodas as defesas de Paulo. Que não conseguia achar respostas ou motivos para negar qualquer coisa a ela.

- Tu acha que hoje ta um bom dia pra... caminhar? - Ele apertava as mãos no bolso a cada palavra que saia de sua boca - A gente pode ficar aqui também, se quiser. Você pode ler o final daquele livro que estávamos lendo...

Rosário se vira e olha para Paulo. Seu rosto era liso, tal qual uma almofada de cetim. Seus olhos, pedaços de estrelas que ofuscavam ate o mais poderoso sol da galáxia. Seus dentes pareciam... pareciam...

Uma máquina de prensa hidráulica.

Rosário possuía um grande aparelho que ocupava boa parte da sua boca. Isso nunca foi algo que assustasse Paulo. Pelo contrário. O fazia fantasiar em coisas de um futuro de robôs ou alienígenas. Ela era uma princesa ciborgue que tinha uma grande coroa de diamantes das luas de Vênus na boca. Fruto dos livros de ficção cientifica.

-Você não cansou do crônicas de Nárnia?! - Ela perguntava enquanto largava a escova na cama.

- Óbvio que não! Quero saber o que acontece com essas crianças... - Paulo estava inquieto.

- Você ta inquieto hoje, Paulo - Rosário pegava sua bolsa - Ta diferente...

- Eu... Eu achei um lugar novo na colina. Queria te mostrar... Mas a gente pode terminar o livro também. Eu não me importo! Esse assunto pode esperar.

- E você acha que eu vou ficar esperando uma aventura na colina do que ler um livro com você? - Rosário se aproximava da porta onde Paulo estava. - Vamos explorar esse mundo que é Rocha Branca!

Ela empurrou ele e os dois foram saindo do quarto.



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-Volte pra casa antes das cinco, eihn bichinha... - Teresina gritava da cozinha, esperando que sua voz corresse ate a porta de entrada.

Os dois corriam pelas ruas de Rocha Branca, como dois passarinhos apaixonados na primavera. Todos na cidade imaginavam um casal perfeito dos dois.

Na corrida ate a colina, eles passaram pelo campo de futebol, que fica na Praça perto do Colégio Municipal Bougainville. Isaac, Enzo e um garoto novo estavam jogando bola la. Viram os dois correndo e começaram a resmungar.

-Meu irmão ta muito colado com a Rosa... Ta chato, já!- Enzo reclamava

-Será que eles tão namorando, Enzo? - Isaac perguntava e cutucava a cabeça de Enzo.

Enzo deu um tapa na mão de Isaac

- Quem é aquela garota?!- Perguntava o terceiro garoto.

-Tu já chegou perguntando muito, ooh "Endero"- Chegava um quarto garoto no campo.

-BENZI! - Gritava Enzo enquanto corria na direção de Benzi.

- Enzo, você ta emagrecendo, cara! - Benzi abraçava Enzo e seguia em direção à Isaac com uma criança agarrada na sua cintura.

Benzi era um jovem atlético, era mais alto que os três, mas tinha quase a mesma idade de Ender e Isaac. Era negro e possuía uma cicatriz perto do queixo. Estava usando a mesma camisa que sempre usara: A camisa do Brasil da copa de '92.

-E la vem o Benzi... - Ender murmurava.

Os dois pareciam ter uma espécie de rivalidade, embora nunca tivesse ocorrido alguma briga ou discussão. Isaac costumava dizer que os dois juntos, eram igual a um barril de pólvora e um isqueiro andando lado a lado.

-E ai, vocês vão jogar bola ou não?!- Banzi chutou a bola da mão de Isaac e o jogo começou...

CHROMA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora