Enzo

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 Existem dias ruins e existem dias em que o universo conspira contra você. Adivinhe em que dia estou? Sim, no dia em que o universo conspira contra mim. Primeiro, eu levei uma bronca daquelas da Catarina por brigar com meu irmão, sendo que ele estava merecendo aquela bronca. Mas tudo bem, ela logo esqueceria isso, eu a conheço. Mas o namorado dela vir na casa dela justamente quando eu e ela estávamos em um ótimo clima... Você está brincando com a minha cara, não é? Aqui estava eu, comendo meu lindo almoço (aproveitando a oportunidade, vou casar com essa mulher, ela me conquistou pelo estômago) quando ele tocou a campanhia e acabou com minha felicidade. Espera, mas eu pulei tempo demais da história. Ok, eu vou contar a história toda.

 Era mais um dia normal no trabalho (ignorando o fato de que eu tive que vir sozinho e envergonhado após receber uma bronca da Catarina quando meu telefone tocou. Normalmente, meu telefone não tocava pela manhã: as pessoas aprenderam, com o tempo, que entre falar comigo diretamente e falar com a minha paciente e simpática secretária, a melhor opção era sempre a segunda. Então eles não me ligam muito, preferem ligar pela tarde, quando podem ser atendidos pela Cat. Eu não sou uma pessoa exatamente bem-humorada ao telefone, mas mesmo assim, eu puxei meu celular, curioso para saber de quem era a ligação. Fiquei confuso e um tanto feliz quando vi que era da minha secretária.

                - Oi, Enzo. Eu só estou ligando para te chamar para almoçar em casa. Sua mãe está preocupada desde que eu falei que você almoça na rua, desculpa. – Catarina riu.

                - Não, está tudo bem. – falei enquanto largava uma pasta que estava segurando até então – Eu adoraria. Você cozinha muito bem.

                - Ah... – ela arquejou surpresa, e eu poderia apostar que estava corando – Você já disse isso... Mas obrigada.

 Eu a ouvi rir e sorri automaticamente. Porra. Ultimamente, essa reação tem sido quase automática: ela ri, e eu sorrio. Não sei como isso começou e, definitivamente, não sei como parar. Sei que o som do seu riso é contagiante, como se cada vez que ela risse me fizessem cócegas na barriga. Meus instintos protetores estavam me aconselhando para ficar longe da Catarina antes que eu acabasse me apaixonando, mas eu os ignorei. Não vou me apaixonar. Tenho mais de vinte anos e nunca me apaixonei, não vai ser agora que isso irá acontecer, muito menos com ela. Embora ela seja o fruto proibido, já que é minha secretária. E muito gostosa. E linda. E inteligente. Porra.

                - Eu estou indo, ok? – falei enquanto guardava a pasta numa gaveta da minha mesa.

                - Claro, está tudo bem. – disse ela – Eu vou fazer o almoço. Você gosta de macarrão?

                - Sim, claro. – respondi.

                - Qual seu tipo predileto? – perguntou ela.

 Meu tipo predileto? Bem, vamos pensar um pouco... Morenas, do cabelo cacheado, que sabem cozinhar, são inteligentes e me mimem. Incrivelmente, ela se encaixa nesse perfil que há pouco tempo nem existia. Pura coincidência, é claro. Espera, ela falou do macarrão. Bem, eu gosto de todos os tipos de macarrão. Pensei em dizer isso, mas ela provavelmente surtaria com a possibilidade de uma resposta incerta, então falei o primeiro que me veio à mente.

                - Talharim. – eu falei.

                - Ok, pode deixar. – ela disse – Até mais.

                - Te vejo logo. – falei.

 Desliguei e não consegui evitar o sorriso que preencheu meu rosto. Merda, eu estou parecendo um adolescente apaixonado. Mas não deve ser isso, afinal, a Catarina pode ser gostosa para caralho, mas eu só gosto da companhia dela. E da culinária. Será que ela está fazendo molho branco ou vermelho? Hm, água na boca só de pensar. Além disso, tinha a minha mãe também. Eu e ela tínhamos negócios a discutir sobre a nova casa, já que ela é a única com tempo livre suficiente durante a semana para cuidar disso. Como ambos sabemos que eu não arrumarei uma mulher tão cedo, eu e ela decidimos morar juntos. Peguei minhas chaves e fui até o escritório do meu pai. Tinha que avisar que eu estava saindo ou ele era capaz de me dar uma bofetada por sumir (porque sim, isso já aconteceu antes). Entrei na sala, onde Paula sorria para um cara de terno. Ele era alto e moreno, com o semblante zangado, e estava se curvando para falar com a secretária do meu pai.

Os Irmãos Becker e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora