Daniel

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 Quando eu perguntei se poderia falar com Catarina, ela se encolheu mais ainda no banco do carro. Acho que estava com vergonha. Ou talvez com medo, depois que eu gritei com ela. Difícil saber. Ela ergueu os olhos devagar para mim e então observou Tatiana no banco da frente. Tudo bem, a mulher havia me dado um tapa. E ela está aqui para acabar com a minha família. Mas eu tenho que reconhecer que é uma coroa linda. Não linda o suficiente para dar tesão (ainda bem, porque seria muito estranho), mas linda o suficiente para fazer com que você acreditasse que estava na presença de alguém importante. De alguém rico e bem-relacionado. Além disso, de alguém que tinha poder para conseguir o que queria.

 Tatiana me encarou por alguns segundos, com aquele olhar severo que eu via em Enzo às vezes. Seus olhos verdes me fixaram de tal modo que eu fiquei paralisado por um momento. E, com a mesma ignorância que Enzo às vezes possuía, a mulher assentiu com a cabeça. Catarina respirou fundo e colocou a mão na maçaneta do carro enquanto tirava os fones e desligava o celular. Era impressionante ver o jeito como confiavam e cuidavam uma da outra. Colocando o aparelho com cuidado em cima do banco, ela saiu do carro. Pude sentir os olhos de todos em nós enquanto eu a encarava. Ela parecia assustada, mas também magoada. Eu sabia que não deveria ter gritado. Normalmente, uma garota teria gritado de volta. Mas ela é doce demais. Eu estendi minha mão e ela se encolheu.

                - Eu jamais bateria em você. – falei.

 Era a minha vez de ficar magoado. Como se eu, em algum momento da minha vida, conseguisse coragem (ou burrice) suficiente para bater nela. Além disso, é um puta insulto dizer para um homem que tem medo que ele lhe bata. É parte da masculinidade de um cara não bater em mulheres. Devagar, ela colocou sua mão sobre a minha e eu a puxei para os jardins.  De noite, tudo reluzia com as luzes fracas dos postes instalados pelo meu pai. A água cintilava e havia barulho de bichos como os grilos. Porém, Catarina não pareceu com medo. Ao contrário: ela estava encantada. Quando chegamos perto da fonte natural, eu parei. Ali tínhamos alguns bancos parecidos com os de praça. Ela sentou e ficou me olhando. Eu sentei ao seu lado e suspirei. Como eu ia começar com aquilo? Mas tinha que fazê-lo. Tinha que me desculpar. Quando Tatiana me deu o tapa, eu finalmente entendi que aquele grito significava muito mais para Catarina do que para mim.

                - O que eu fiz para você? – perguntou Catarina.

 Eu pisquei confuso, e me virei para ela. Como assim, o que ela me fez? Por que ela perguntaria isso? É claro que ela não fez nada (bem, desconsiderando o fato de que estou louco por ela, mas isso não é exatamente algo de sua escolha). É claro que não estou com raiva dela. Do filho de chocadeira que é o namorado dela? Com certeza estou com raiva. Queria poder castrá-lo e depois picotá-lo. Mas não dela. Minha lerdeza não era culpa da Catarina. Além do mais, ela nunca me deu falsas esperanças. Sempre me tratou com gentileza e paciência, mesmo em nossas brincadeiras na universidade, mas ela era sempre assim com todo mundo. Não é como se eu fosse especial em nenhum momento.

                - Você não fez nada, Cat. – falei simplesmente, apertando sua mão com cuidado.

                - Então por que você me odeia? – ela perguntou.

 Por um momento, eu fiquei sem resposta. Eu nem estava conseguindo entender o que ela estava falando direito. Estava tão atordoado que era difícil pensar. Parte disso, por todo o clima estranho que temos tido desde que eu gritei com ela e a fiz chorar. A outra parte, porque ela está tão perto. E eu sei que é uma péssima hora para pensar nisso, mas puta que me pariu. Eu só queria deitá-la nesse banco e fudê-la aqui mesmo. Ela está tão sexy, com o uniforme de secretária que (finalmente) mandaram fazer para ela. A blusa de seda por baixo, o blazer cobrindo todo seu torso, apertado demais no busto. Eu nem vou comentar a saia lápis. Essa parte eu deixo para a vossa imaginação.

Os Irmãos Becker e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora