(Bônus) Tatiana

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 Eu juro para você que a última coisa que eu esperava, no mundo, era que Enzo me ligasse. Enzo é o meu filho de mais de vinte anos, que é completamente independente e vive no Brasil por conta própria. Claro que ele não saiu da casa do pai ainda por causa daquela estúpida madrasta dele, que vive querendo ser uma mãe. Ela jamais será. Não importa onde eu esteja, no Japão ou na Itália, ela jamais será a mãe dele. Porque eu sou. Tudo bem, eu admito: não sou o exemplo perfeito de mãe. Estava jogada numa esteira, nas lindas praias paradisíacas do Havaí, quando meu celular começou a tocar insistentemente. Eu me levantei calmamente (na verdade, eu estava entediada), pensando que era um daqueles homens ricos e insuportáveis querendo mais uma chance (eles nunca entendem que “não” significa “não”), quando deparei com o número do meu filho na tela. Imediatamente me sentei e o atendi. Tive que me controlar para segurar a emoção. Enzo nunca me ligava, não desde pequeno.

                - Alô, meu amor. – atendi feliz.

                - Mãe. – ele murmurou.

 Meus olhos se encheram de lágrimas imediatamente. Eu sei que é uma coisa idiota. A maioria das mães gritaria com seus filhos por responder um cumprimento carinhoso com só um “mãe”. Porém, eu não sou como a maioria das mães, nem ele como a maioria dos filhos (não que eu o culpe por isso). Ele não me chamava de mãe há tanto tempo. Acho que, na verdade, eu nunca o tinha ouvido me chamar de mãe. O abandonei quando era pequeno demais para lembrar isso. Eu ri alto, querendo disfarçar quão emocionada estava. Se ele soubesse, provavelmente tentaria estragar esse momento, com todo aquele seu jeito estraga-prazeres emocionais dos outros.

                - Não ria. – disse Enzo, sério.

                - O que houve? – perguntei, preocupada.

                - Preciso lhe contar umas coisas. A primeira é que a Catarina me contou. Do porque você foi embora. – ele disse.

                - Eu sinto muito. – murmurei imediatamente.

                - Isso não importa mais. Eu... Eu quero que você volte. Se realmente se importa comigo, volta. – ele disse.

 Eu comecei a chorar de imediato. Mas é claro que eu ia voltar. Eu realmente não sabia que a Catarina tinha falado (na verdade, não pedi segredo, mas ela é sempre tão reservada que nunca pensei que daria esse tipo de informação para Enzo). Mas ela o fizera: contara para Enzo que não foi culpa minha nem de ninguém que nossa família havia acabado. Era apenas o destino. E a minha vida toda, eu só tinha esperado por isso. Por essa palavra: volta. Mas é claro que nunca tinha conseguido dizer para ele. Nunca quis. Achei que só ia lhe causar tristeza. Mas agora... Mais do que nunca, meu peito estava apertado. Eu queria vê-lo. Precisava vê-lo. Precisava abraçar meu filho e ter certeza de que aquilo não era um sonho. E, além disso, eu queria conhecê-la pessoalmente. A pequena Catita (apelido que ela ganhou quando passei um tempo na Espanha). A garota que fez meu menino me chamar de volta.

                - Mas não é só isso. – ele disse.

                - Eu volto. – falei.

                - Tem uma coisa que você precisa saber. – ele insistiu.

                - Diga. – falei.

                - Ontem, Cat recebeu flores. O Daniel... Ele tá apaixonado por ela. Quando viu as flores, ele gritou com ela, a xingou e jogou as flores fora. Ela está meio mal. Eu não sei o que fazer. – ele disse.

 Pela primeira vez, meu filho estava me pedindo conselhos. E, pela primeira vez em anos, eu estava realmente com raiva. Quem o bastardo do Andries pensa que é para insultar minha menina? Sim, minha menina! Honestamente. A garota é tão um amor que ninguém jamais seria capaz de levantar a voz contra ela. Ela nunca fez mal a ninguém e tenho certeza que não é diferente com esse tal de Daniel. E se for, ela deve ter bom motivos. Eu perturbei a Catarina a sua vida toda e ela nunca perdeu a paciência comigo.

Os Irmãos Becker e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora