Capítulo 8

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Era algo curioso.

Pensou Sal enquanto passava, com certa força, a caneta preta nas bordas da capa de seu caderno – um hábito que já o acompanhava desde pequeno – ouvindo a voz arrastada da professora  preencher toda a sala. Entretanto ele não conseguia se focar inteiramente na mulher já de idade, seus pensamentos eram barulhentos demais para serem ignorados e o assunto da aula não era tão interessante assim, fazendo com que o rapaz agradecesse por aquela ser a última do dia.

O que pertubava-o tanto eram os amigos de Larry. Veja bem, Sally havia se acostumado com as pessoas tentando evitar tocar ou olhar para si, se olhavam era com espanto, as vezes pena, as vezes nojo e medo. Foi uma das primeiras coisas com que teve que lidar após o acidente, então ver Ash sempre quebrando esse espaço para lhe abraçar ou Todd o olhar sem medo ou algum tipo de repulsa, nem ao menos desviar depois de cinco segundos, deixavam sensações conflitantes no garoto de cabelos azuis. Era algo realmente curioso.

Sintia um alívio, até certa alegria por finalmente encontrar pessoas que olhavam além da máscara prostestica e a história trágica, que conversavam sem pisar em ovos consigo e não o faziam se sentir ameaçado a cada cinco minutos.  Era quase como um milagre.

Mas Sal sabia que milagres não existiam, que tudo tinha seu preço e isso assombrava sua mente, apenas esperando que algo acontecesse para apontar e dizer que tinha o avisado que a história iria se repetir.

— Sal? – A professora o chamou perto de si fazendo seu corpo dar um pequeno sobressalto, desviou seu olhar do caderno para a face cansada e preocupada da senhora. — Está tudo bem querido? Precisa tomar um ar?

Confuso com a preocupação ele não soube o que respondeu, até algo molhado em sua mão lhe chamou a atenção.

Sua caneta havia estourado sujando toda a capa de seu caderno e ele nem ao menos percebeu.

— Acho que vou sair pra tomar um ar. – Disse baixinho ainda olhando para a mão suja, não vendo o sorriso gentil e penoso da mulher.

— Claro, tome o tempo que precisar. — E assim ela saiu de perto dele.





Larry empurrou a porta do armário com certa força bufando, irritado pela "atenção" extra o que o professor de geografia tinha dado para ele, pegando em seu pé em praticamente tudo o que fazia. Ele não conseguia nem ao menos ficar da dele sem o que o filho da puta pegasse no pé!

— Daqui a pouco tu sai voando igual a um foguete. – A voz de Sal soou ao seu lado, dando um pequeno susto no rapaz moreno que gritou fino, fazendo o menor gargalhar.

— Puta que pariu Sal! Saiu da onde caralho?! – Larry pergunta após se recuperar, Sally continuou a rir por um tempo antes de responde-lo.

— Minha caneta estourou e tive que ir no banheiro lavar a mão. – O menor encostou seu corpo no armário. — Por que tá tão puto assim Larry face?

O rapaz observou os olhos com o azul intenso se acalmando um pouco, chamou Sal com a cabeça e eles começaram a andar em direção a sala do rapaz de máscara.

— O puto do professor não me deixa em paz por um segundo, parece que ele é obcecado por mim. – Bufou de novo ouvindo uma risada inasalada.

— Vai que ele tem uma queda por você. – Brincou Sally vendo a carranca de Larry se contorcer ainda mais, o fazendo rir. — Pelo menos é a última aula. – Falou tentando consolar o amigo ainda com um sorriso adornando seu rosto, por mais que o outro não visse.

— Parece que esse dia demorou um ano pra passar, não quero nem ver os outros. – Lamentou suspirando.

O sinal tocou os pegando de surpresa, Larry deixou Sal na porta antes de voltar – com certa lentidão – para sua respectiva sala. O rapaz de máscara viu as pessoas jogarem seus materiais com certa brutalidade e sairem rapidamente, talvez todos sentiam o mesmo que o moreno.

Those blue eyesOnde histórias criam vida. Descubra agora