Capítulo 3

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Londres, Inglaterra

Um ano e meio antes

Casamentos. Aparentemente sua vida virara em um montão de casamentos!

Amanda arrumou uma flor que escapou do buquê que segurava enquanto olhava para sua melhor amiga, Emmaline, nervosa na porta da igreja aguardando para entrar.

Ela seria a única dama de honra no casamento, assim como as duas prometeram quando crianças. A amizade entre elas jamais mudaria, afinal, passaram muito tempo discutindo sobre o futuro e pensando no que fariam da vida caso terminassem solteiras — o que obviamente não aconteceria com Emma.

Mesmo com o casamento, não queria se afastar da amiga. Precisava dela ao seu lado em toda e qualquer situação, já que era a única que a entendia de verdade.

Ainda assim, não pôde negar que ficou muito surpresa com o casamento entre ela e Alec, seu irmão mais velho. Nunca imaginou que eles poderiam se amar... Mas seu irmão parecia um bobo apaixonado e Emma não ficava muito atrás. E ela ficou feliz pelos dois.

O que ela não entendia era a necessidade dos seus irmãos de se casarem tão rápido, em um intervalo de poucos meses. Sua mãe, claro, ficou encantada! Em uma única temporada casou seus dois filhos, despachando ambos e sobrando apenas ela. Eba.

— Você é a próxima, querida — disse Judith Hart, mãe de Emma e Lady Bentham.

Amanda estava pronta para entrar, e se aproximou da noiva:

— Você parece um anjo, minha amiga. É a noiva mais linda que eu já vi, meu irmão é um homem de sorte — disse com ternura as palavras eram completamente verdadeiras.

Viu os olhos de Emma encherem de lágrimas e as duas se abraçaram. Amanda sorriu ao se afastar, ajeitando a frente do vestido verde-claro de madrinha e o buquê de lírios em seus braços.

— Nos vemos em breve, senhora Lester. — E piscou para a amiga antes de entrar no corredor da igreja.

Amanda desfilou pelo corredor iluminado com velas e decorado com as mais lindas sedas e flores, com um enorme sorriso no rosto. Tomou seu lugar na lateral do altar e pôde assistir a entrada de Emma, digna de uma duquesa.

Alec só faltava babar, orgulhoso como estava. Ele a olhava da mesma forma que seus pais costumavam se olhar, da mesma forma que Edward e Christine se olhavam... Isso deveria ser amor, o bem que a família Lester tanto estimava, apreciava e encorajava.

Naquele momento um homem se aproximou de Alec para sussurrar algo em seu ouvido enquanto ambos admiravam a entrada da noiva, e só então Amanda se deu conta de que mais alguém estava ali no altar. O homem estava de lado, tinha cabelos castanhos e uma silhueta que não lhe era estranha. De onde o conhecia?

Franziu o cenho enquanto o observava atentamente. Não poderia ser quem ela pensava. Ou poderia? Claro que não, ela estava louca. Afinal, o padrinho era o melhor amigo de seu irmão, da época de Oxford e... Sorrindo, o homem virou e ela se viu encarando olhos âmbares que ficaram gravados na sua mente. Amanda, assustada, largou o buquê.

Meu Deus!

Ela flertou com o melhor amigo do seu irmão, um homem casado e há tanto tempo morando no campo pela doença de sua esposa que ela, que apenas o viu poucas vezes, não conseguiu reconhecê-lo.

Ela tentou beijar Lorde Julian Treadwell, o Conde de Treadwell! 

Ela tentou beijar Lorde Julian Treadwell, o Conde de Treadwell! 

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Está tudo bem, tentava se convencer.

Nem em seus sonhos mais devassos ela se imaginava atacando um homem casado. Era uma pecadora e estava em uma igreja, Deus lhe castigaria. Segurava o buquê de Emma com muita força para evitar que suas mãos tremessem, ao mesmo tempo que temia quebrar as flores e denunciar suas emoções. O que mais de ruim poderia lhe acontecer, não é?

Por mais linda que a cerimônia estava, ela não conseguia fazer o tempo passar mais rápido. Quando ouviu "pode beijar a noiva" e eles começaram a sair, quase correu na frente deles. Ou para a porta traseira da igreja. Mas não, como bom castigo que Deus lhe deu, foi obrigada a aceitar o braço do conde para deixar a igreja sem causar um embaraço.

Não ousou levantar os olhos para ele, com medo do que poderia enxergar ali. Ele deve ter sentido que estava rígida como uma pedra quando aceitou seu braço, pois disse:

— Como você está, Lady Amanda? — perguntou ele, calmamente

— Muito bem, Lorde Treadwell. E o senhor? — respondeu, mantendo os olhos no buquê que segurava.

— Com certeza bem menos tenso do que a senhorita. Se a senhorita não sorrir agora, as pessoas pensarão que não está feliz pelo casamento do seu irmão.

Sabendo que ele tinha razão, ainda que não queria admitir, Amanda fez o que ele pediu e sorriu enquanto ambos desfilavam pelo corredor como padrinhos orgulhosos.

Ao final, os noivos entraram na carruagem ducal e partiram para a recepção. Amanda esperou pela sua mãe e seguiram a comitiva, assim como o conde. Os demais convidados os seguiram, mas a fila de carruagens era tão grande que alguns levariam pelo menos uma hora para percorrer o pequeno trajeto da Igreja de St. George até a Lester Palace, em Mayfair.

No salão verde e dourado ricamente decorado, o duque serviu uma taça de espumante para a família Lester, os Harts e para o conde Treadwell para brindar o novo laço e o seu casamento. Não demorou muito para os convidados chegarem e todos se espalharem pelo salão para cumprimentá-los.

Amanda não poderia estar mais desconfortável com a presença do conde. Bastava olhar para ele e as lembranças do último encontro atormentavam sua mente, despertando seus sentidos. Tentava entender o que passou pela sua cabeça que resolveu agarrar um desconhecido. Por Deus! Para sua completa desgraça, não conseguia tirar os olhos dele. Pior ainda, estava ciente de cada movimento de Julian.

Por isso mesmo soube quando ele se aproximou de onde ela estava com seu irmão, saindo da pista de dança. O conde parecia apreensivo, preocupado, com uma ruga entre as sobrancelhas. Fez uma leve reverência para ela e chamou Alec para o lado. Ainda que esticasse o pescoço, não conseguiu ouvir o conteúdo da conversa que terminou com Alec colocando a mão no ombro do amigo, oferecendo conforto.

— O que aconteceu? — perguntou Amanda assim que seu irmão voltou para seu lado, incapaz de conter a curiosidade.

— Treadwell precisou sair. — Foi a resposta sucinta.

— Isso eu entendi, Alec — bufou. — Mas eu perguntei o que aconteceu. Ele está bem?

— Não vai me deixar em paz sem saber, não é? — repreendeu ele, com um sorriso no rosto.

— Você sabe que não. — E devolveu o sorriso.

— A esposa dele não está bem, ela está grávida e tem a saúde frágil. Treadwell foi chamado às pressas pelo médico para retornar.

— Oh! — Amanda levou a mão à boca, incapaz de conter a surpresa. — Eu sinto muito.

Sabia que o casamento deles foi por amor, perguntou para sua mãe mais cedo e ela confirmou. O conde conheceu Grace em sua primeira temporada e eles se casaram antes do fim daquele ano. Ele ainda era um visconde recém-saído de Oxford e ela tinha uma saúde muito frágil, mas isso não importava nada.

Após o casamento, se mudaram para a casa de campo da família para ajudar no tratamento, o que aparentemente não surtiu efeito. E quando ela engravidou contra todas as recomendações médicas, a condessa quis manter o bebê apesar dos riscos.

Amanda realmente ficou triste, sentia muito pela situação que a condessa estava. Ainda assim, de uma maneira inexplicável, não pôde deixar de sentir uma pontinha de ciúmes pela dedicação do conde.

E isso a transformava em uma mulher péssima e egoísta. Uma verdadeira pecadora.

Armadilha para um beijo | Reencontros de amor - Livro 2 **AMOSTRA**Onde histórias criam vida. Descubra agora