Capítulo 9

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Uma manhã, no quarto dia que estava de cama, Amanda já não aguentava mais ficar enfurnada no quarto. A febre não retornou desde o primeiro dia, os acessos de tosse reduziram e tudo que restou foi fadiga, mal-estar e seu nariz ainda congestionado e vermelho. O que era muito melhor do que antes, afinal, conseguia ficar mais tempo acordada do que dormindo.

Pela primeira vez em dias conseguiu levantar e tomou um banho digno. Seu dia ficou ainda melhor quando a Sra. Beckett apareceu com biscoitos de gengibre recém assados e chá de hortelã.

A senhora era extremamente amável, era a governanta da casa e trabalhava ali desde os antigos conde e condessa, pais de Julian. Ela lhe contou um pouco sobre a propriedade, lhe descreveu a beleza das terras e das pessoas que moravam ali.

Amanda tentou arrancar alguma informação sobre a antiga condessa ou sobre o conde. A senhora, porém, foi irredutível, sorrindo e apertando suavemente sua mão quando não podia responder. A jovem tinha noção de que tentava invadir a privacidade dele, mas não podia evitar sua curiosidade.

Em vez disso, ela lhe contou sobre a pequena Holly e o quanto cresceu. Lhe disse que se parecia muito com a falecida condessa, mas que tinha os olhos do conde. A pequena Holly era muito inteligente e muito alegre, sempre com um sorriso travesso no rosto. Amanda sentiu seu coração aquecido ao imaginá-la, não disfarçando sua vontade de conhecer a pequena.

Uma batida na porta fez a Sra. Beckett interromper suas histórias e Amanda parar no décimo biscoito (ou mais), atenta.

— Bom dia, Lady Amanda — disse o conde, entrando no seu quarto e parando em frente à sua cama. — Como está se sentindo hoje?

Julian vestia-se de forma impecável, ainda que sua gravata estivesse desalinhada. O tecido tinha as pontas amassadas e desgrenhadas, ela poderia apostar ser obra das mãozinhas de sua filha.

O problema é que "levemente desalinhado" não era suficiente para reduzir a atração que sentia pelo conde e seus profundos olhos âmbares. Se fosse honesta consigo mesmo, admitiria que se encantou por ele no momento que ele tirou o abajur de sua mão depois que planejou acertá-lo, lá no casamento de Ed.

O destino era traiçoeiro por colocar em seu caminho um homem casado e com uma filha a caminho. Mas era pior por trazê-la ali, para os braços dele, no meio de uma tempestade e doente.

Talvez, e só talvez, ela fosse pior que o destino por ainda desejá-lo. Céus, estava perdida mesmo.

Piscou levemente para afastar esses pensamentos e concentrou-se na sua pergunta que era... Ah, sim, sobre como ela estava. Bem, na verdade. Melhor ainda por não estar um trapo na frente dele pela primeira vez em dias.

O conde normalmente aparecia, perguntava como ela estava, dizia para chamá-lo se precisasse de algo e saía. Mas hoje ela estava disposta a fazê-lo ficar um pouco mais.

— Muito bem, milorde.

Tudo que saiu de sua boca foram três palavras? Pigarreou brevemente e voltou a falar, disposta a dar uma resposta mais completa para fazer a conversa durar um pouco mais.

— Estou me sentindo muito melhor, apenas um pouco cansada — complementou. — E como o senhor está?

Julian levantou uma sobrancelha e um esboço de sorriso surgiu no canto da boca.

— Posso ver que está melhor, fico muito feliz que esteja melhorando.

Apesar dele desviar de sua pergunta, se aproximou da cama. Amanda notou que carregava dois livros, que os estendeu para ela levemente receoso:

— Não sabia do que a senhorita gostava, mas agora que está acordada, acreditei que pudesse usufruir da companhia de um livro.

O que significava que não usufruiria da companhia dele. Por que imaginou que ele lhe faria companhia? Não era mais uma menina de quinze anos para criar expectativas, mas não conseguiu evitar.

Armadilha para um beijo | Reencontros de amor - Livro 2 **AMOSTRA**Onde histórias criam vida. Descubra agora