Capítulo 4

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Propriedade River Avon do conde de Treadwell

Somerset, Inglaterra — 1821.


Uma mulher na sua sala.

Sim, ele não estava sonhando e muito menos ficando louco, tinha uma mulher na sua sala. E não era uma criada da sua propriedade.

Julian olhou-a de cima a baixo. A mulher, com um traje de viagem (realmente poderia chamar aquele trapo disso?) de cor indefinida e cabelos escuros que pareciam um ninho de pássaros, estava o fitando com olhos claros arregalados e uma expressão de pânico no rosto sujo de barro.

Quem diabos estava ali?

— Você não é a babá de Holly — assumiu o conde, irritado.

A mulher não disse nada, apenas balançou negativamente a cabeça. Ele viu pingos de água espalharem-se pelo seu sofá claro. Um desastre.

Houve um dia que Julian acreditou ser um homem de sorte. Mas esse tempo já passou e estava, literalmente — e tristemente —, enterrado. Agora, ele só acreditava que os dias poderiam ficar piores.

O engraçado é que a vida lhe provava isso com frequência. Não bastava o roubo em pelo menos cinco arrendatários seus, era noite e a babá ainda não tinha aparecido com Holly.

E para coroar o dia, ou a noite, uma estranha em sua casa.

— Então quem é você? — perguntou, cruzando os braços. A estranha continuou em silêncio, fitando-o como se visse um fantasma. — Eu não tenho o dia todo, minha senhora.

Os olhos claros, antes assustados, tornaram-se tempestuosos e sua postura transformou-se em alguém que estava disposto a brigar. A boca dela abriu e fechou, como se estivesse controlando seus nervos. Conseguiu recuperar o controle, pois ela levantou e curvou-se em uma rápida e graciosa mesura.

— Lady Amanda Jane Lester, milorde.

— Lady Amanda? — repetiu ele, lentamente. Não poderia estar mais surpreso se o próprio rei Jorge IV aparecesse em sua sala.

— Não foi o que eu disse agora? — respondeu ela, impaciente.

Mas antes que pudesse pensar em qualquer resposta, Pierce escolheu aquele momento para entrar na sala com uma bandeja de chá e um enorme sorriso feliz no rosto.

— A Sra. Moore já voltou, milorde — disse ele.

O conde olhou mais uma vez para Amanda, que permanecia em pé na frente da estufa e virou-se, saindo da sala.

— Lorde Treadwell? — chamou a moça.

Ele apenas parou, apoiando uma mão na parede, mas não se virou para olhá-la.

— O senhor não vai perguntar o motivo da minha presença em sua casa?

— Imagino que do jeito que a senhorita se encontra — apontou, sarcástico —, precisa de um lugar para passar a noite. Estou correto?

— Sim, preciso. Mas não é apenas isso, eu...

Precisava ver sua Holly e garantir que sua filha estava bem. Qualquer visita, mesmo a irmã do seu melhor amigo, poderia esperar.

— Pierce — interrompeu a frase dela e virou-se para o mordomo —, leve a bagagem de Lady Amanda para o quarto de hóspedes lilás.

— Mas eu não... — começou a protestar ela.

— O jantar será servido em uma hora, milady. Aguardo sua presença.

Dito isso, o conde deixou a sala.

Armadilha para um beijo | Reencontros de amor - Livro 2 **AMOSTRA**Onde histórias criam vida. Descubra agora