capítulo 31

1.4K 139 10
                                    

  Pov K.C

- você tem notícias da Alycia, Lo?- perguntei quebrando o silêncio que havia se instalado.

Lo estava comigo e respeitando meu silêncio, eu não queria conversar e não queria ouvir antes.

Eu só estava com medo.

- Ela esta bem e em casa.- respondeu Lo.

- que bom, eu não me perdoaria se acontecesse algo com ela.- falei triste.

- você sabe que não tem culpa de nada, não sabe?- perguntou Lo.

- se eu fosse normal isso não teria acontecido. - murmurei.

- você é normal.- afirmou Laur me olhando.

- Se eu fosse considerado normal eu não tinha apanhado dos meus pais e nem dos garotos do Colégio.- respondi chateado.

- você é normal Karlos, você é só um menino se descobrindo e ninguém tem nada haver com isso. - falou Lauren e eu sorri fraco amargurado.

- o problema é que aos olhos da sociedade eu sou uma aberração. Ninguém gosta da idéia de que as pessoas mudam.- disse triste.

- Karlos, O mundo está mudando, as pessoas estão abrindo a mente e respeitando as pessoas lgbtqia+ , óbvio que ainda é tudo muito novo mas elas não enxergam pessoas como você como aberração.- disse Lo.

- não me enxergam como aberração? Olhe pra mim, Lauren! Olha o que fizeram comigo só porque cortei o cabelo e meus seios não estavam mais visível. Me bateram, cuspiram em mim, me violaram, me humilharam. Eu to com vergonha de mim mesmo! Meus seios estão roxos e doloridos até agora. Quantas pessoas teram que passar por isso que eu passei ou até mesmo morrer simplesmente porque a sociedade é lenta demais para entender que cada um tem sua vida e faz o que quiser?! - questionei sentindo meus olhos arderem.

Eu estava tão cansado.

- Eu vi o que aconteceu com você e entendo que esteja chateado-

- chateado Lauren? eu não to chateado, eu to com medo.- respondi sentindo algumas lágrimas descerem por meu rosto.

- eles foram presos e não vão sair.- afirmou Lauren.

- primeiro foi meu pai, agora eles, amanhã quem vai ser o privilegiado a me espancar novamente? Porque isso não vai parar Lauren, eu to com medo de não resistir a próxima agressão e eu nem to falando da dor física. Minha cabeça ta um turbilhão e eu só queria esquecer disso por um segundo.- falei secando minhas lágrimas.

- eu queria poder cuidar de você. - sussurrou Lauren secando os olhos.- queria poder tirar essa dor, tirar esse medo, te ajudar a se recuperar...- murmurou Lauren.

- infelizmente não pode.- respondi deixando o choro vir com tudo.

A família da Lauren foi a primeira a estender a mão para mim e me tirar da cidade podre que eu vivia mas se eu soubesse que eu passaria por coisas assim talvez eu tivesse ficado com meus pais.

Se eu soubesse ou tivesse noção de que minha vida seria assim eu continuaria sendo Camila Cabello.

Minha vida era boa excluindo a parte das agressões. ser Karlos é garantia de que eu sofreria preconceito e agressões o resto de minha vida.

Eu nunca tive problemas com meu corpo então mudar através de cirurgias para se tornar um homem fisicamente ainda era um ponto a ser pensando por mim, e de qualquer forma eu não tenho condições financeiras para tal coisa.

Eu estou com tanto medo que estou pensando em ser a Camila novamente.

Eu não sei se eu, Karlos, aguentaria passar por isso mais vezes.

As coisas que Bradley e Max me disseram me atormentavam, toda vez que eu fechava os olhos a imagem deles tomavam minha mente. Eu tive tanto pavor quando vi Max tocando na intimidade dele, eles só não me estupraram por medo do que aconteceriam com eles. Em nenhum momento pensaram na dor e no medo que eu sentia.

Eles falavam o tempo todo que eu eram um pecado aos olhos de Deus mas que tipo de Deus ficaria satisfeito com o que eles fizeram comigo?

Eu só queria estar em um lugar tranquilo nos braços da Lo, em um lugar que não houvesse dor e que eu não pensasse nessas coisas.

Mas eu estava na droga de um hospital chorando, sentindo dor, com a cabeça cheia e o "bip" da máquina ao meu lado estava me irritando.

Eu só queria fugir disso tudo.

Eu queria muito um abraço da Lo, queria deitar com ela, pois eu me sentia seguro, mas eu não podia porque a cama era pequena e minha costela estava quebrada.

Esta sendo horrível ser eu agora.

Lo chorava em silêncio e eu também.

Eu não fazia a mínima idéia do que passava na cabeça dela, porém eu estava tão confuso em relação a mim que eu não queria conversar com ela.

Talvez fosse egoísmo, afinal ela não tinha culpa de nada mas eu também não sabia mais o que dizer.

Eu só sei que apesar da situação eu tenho sorte dela estar aqui comigo.

- karlos... - murmurou Lauren chamando minha atenção. - sei que o momento não é um dos melhores e nem é propício mas eu gostaria de te falar uma coisa.- comentou ela se levantando da cadeira, sentando na cama e segurando minha mão. - você é uma pessoa maravilhosa. Eu vi o que você passou mas não sinto nem um porcento do que você esta sentindo. Acho justo você está mal, pensativo, triste e confuso. Afinal a agressão não foi apenas física, foi verbal. A dor um dia vai passar mas você nunca vai esquecer o que eles disseram. Isso é uma tortura psicológica e você tem todo o direito de querer repensar se quer ou não ser o Karlos. Eu não faço a mínima idéia do que se passa na sua cabeça, mas eu quero que saiba que independentemente do que você decidir eu sempre estarei aqui segurando sua mão e te apoiando. Eu quero que saiba que você me encantou desde que nos conhecemos e o seu jeitinho fofo e ao mesmo tempo cuidadoso fez eu me apaixonar por você. Eu realmente gosto de você, amo quando você pede para me beijar, e adoro sentir que você se sente seguro em meus braços. Eu sei que não é o melhor momento para eu me declarar.- comentou Lo sorrindo fraco e com os olhos brilhando.- mas você precisa saber que não está sozinho. Você não precisa passar por essa confusão mental sozinho. Eu to aqui.- disse lo fazendo um carinho na minha mão.

 Eu queria falar algo, queria responder que eu também gostava dela mas a única coisa que era possível ouvir era minha respiração e o bip da máquina tocando rapidamente indicando que meu coração estava acelerado

><

Comentários?

TransBoy- CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora