Eddie
— Sabe, pensando bem, você tinha razão de ter medo disso aqui. — Disse Richie. — Não consigo acreditar que a gente simplesmente se atirava dessa pedra.
Os dois estavam diante da pedreira em que costumavam brincar na adolescência. O lugar havia mudado muito. O nível da água havia baixado bastante, de modo que agora a queda parecia muito maior. Mas, por outro lado, agora o outro lado da água podia ser acessado através de um banco de areia que havia surgido e que cortava o rio. Tudo indicava que a população tinha tomado o espaço como área de lazer. Haviam restos de fogueira e acampamentos a cada cinquenta metros. E lixo, espalhado pra todos os lados.
— Me sinto velho olhando pra isso. Sério, estou a ponto de dizer que "no meu tempo não era assim".
— Essa geração nova, né Eds?
Os dois riram e sentaram-se sobre a grande pedra alaranjada. Ainda era cedo da manhã, mas o sol já estava a meio caminho do topo do céu, e ele sabia que estava tarde, embora se sentisse como se não houvessem passado mais do que duas horas desde que chegara ao encontro do ensino médio. Nunca se sentira mais acordado antes.
Richie e Eddie estavam sentados muito próximos. Seus ombros se encostavam, suas pernas se tocaram e nenhum dos dois se afastou. Eddie estava lutando contra aquela vergonha inconsciente que ele sentia quando era novo, aquele medo de que os vissem juntos. Estava cansado de se sentir assim.
— Sinto muito pela sua mãe, aliás. Ela não era exatamente minha pessoa favorita no mundo, mas... deve ter sido um inferno para você.
Eddie olhou para ele, o rosto bonito contraído por conta do sol que batia nele.
— Como você sabe que ela morreu? Não lembro de ter contado pra vocês.
— Ah, não, você não contou. Eu achei seu perfil no Facebook algum tempo atrás. Porque, bem, eu estava procurando por ele. E aí tinha uma publicação sobre sua mãe ter falecido. Dois anos lutando contra o câncer, imagino que não deva ter sido fácil.
Eddie pensou por algum tempo antes de dizer alguma coisa. Estava pensando em várias coisas ao mesmo tempo. Na mãe, em seus últimos dias. E também na última vez que ele tinha visto Richie.
De certa maneira, foi como perder alguém querido também. Os Otários se reuniram no Clube uma última vez, um dia antes da mudança. Não falaram muito sobre o assunto. Riram, brincaram. Se divertiram. Eddie já tinha dado adeus para Richie muito tempo antes, e se esforçou para que aquele dia não parecesse o fim. Richie o beijou lentamente no fim da tarde e os dois combinaram de se ver no dia seguinte, mas Eddie nunca mais voltou. Foi preciso um esforço hercúleo para que ele não chorasse na viagem, no banco de trás do Ford Escort da mãe. Não porque tinha medo que ela o visse chorar, mas porque chorar significaria tornar toda aquela dor real. Chorar era admitir que sentiria falta de Richie.
— Pra falar a verdade, foi mais cansativo do que difícil. — Eddie disse, finalmente. — Durou tempo demais e foi tão exaustivo emocionalmente. Não devia ter acontecido desse jeito. Ela foi diagnosticada cedo. O médico disse que se ela seguisse direito o tratamento podia se recuperar bem rápido. O problema era que ela não queria aceitar o câncer. Sei lá, ela achava que só gente fraca de espirito tinha câncer. Ela achou que se tivesse uma dieta saudável ia ficar melhor, então ela nunca tomou nenhum dos remédios que eu comprei. E durante meses eu não fiz nada. Eu morava longe dela, estava ocupado o tempo todo... eu não tinha como ir lá e simplesmente obrigar ela a tomar os remédios, e achei que contratar uma enfermeira era radical demais. Então eu só... deixei a coisa ir. Até que um dia ela desmaiou no meio de um mercado. O médico disse que o câncer tinha piorado, óbvio, e que se eu não contratasse alguém pra tomar conta dela ela podia morrer. Eu me senti culpado e trouxe ela pra morar comigo e Myra.
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Boys Don't Cry - Reddie
Romance1989 - Richie Tozier podia ser um otário aos 16 anos, mas pelo menos era feliz. Ou pelo menos era o que pensava, sentado com os amigos em um clube escondido embaixo da terra. As preocupações da adolescência - que iriam parecer bobas em poucos anos...