Boys Don't Cry - Reddie

11. The Beatles - I'm a loser

Eddie

O bar parecia saído de O Iluminado, de Stephen King. As banquetas junto ao balcão de mogno escuro eram feitas do mesmo tecido de veludo cor de vinho que o forro das cadeiras nas mesas redondas com toalhas cor de creme. Haviam poucas pessoas ali àquela hora. Uma senhora usando um casaco de pele acompanhada por um jovem de camisa social que poderia ser seu neto, dois homens de terno cercados por papéis que pareciam importantes, um homem usando o que pareciam pijamas e lendo um livro preto de capa dura, o barman de cara fechada e finalmente, Richie e Eddie sentados nas banquetas do bar. 

Claro que o astral do local estava deixando Eddie um pouco assustado. Se o ambiente estivesse totalmente em silêncio, em vez de preenchido pelo som de um jazz tranquilo saindo das caixas de som feitas de madeira, é possível que ele tivesse ido embora. Mas não foi. Sentou-se ao lado de Richie e pediu um gim tônica ao barman enquanto Richie recebia um copo de Whisky com gelo. 

— Então, Richie, o que você tem aprontado? — Eddie perguntou. 

— Não, não, Eds, o que você tem aprontado? Se você quiser minha biografia tem tudo na internet. — Richie devolveu, com um sorriso. 

O barman pôs o copo no balcão frente a Eddie. Ele segurou o vidro gelado e tomou um longo gole. Por mais que adorasse gim, nunca conseguia deixar de se surpreender com o amargo do primeiro gole. 

— Na internet tem as informações que você quer que os outros pensem que são verdadeiras. Eu quero o que é de verdade mesmo. 

Richie pensou um pouco. Seu rosto de perto, na luz baixa do bar, era dolorosamente bonito. Richie sempre havia sido bonito de sua própria maneira, e mesmo antes de perceber que gostava dele, Eddie já entendia isso. Eram sempre as mesmas associações em sua cabeça. Bill é bonito e é nosso líder, Bev é linda e a mais esperta e talentosa entre nós, Ben é inteligente, sabe construir tudo e é um excelente amigo, Mike é calado e misterioso mas sabe fazer muitas coisas e tem ótimas histórias, Stan é nervoso, metódico e é isso que gostamos nele e Richie era bonito e engraçado.

— O que você quer saber? — Richie perguntou. 

— Tudo. 

Richie riu baixinho e tomou um gole da bebida. 

— Bom, depois que você foi embora eu consegui entrar na faculdade. Por incrível que pareça. Eu estava estudando jornalismo, morava no campus, tinha um estágio... foi tudo de bom. Acho que foi uma das épocas em que eu fui mais livre. Mas, né, tudo que é bom dura pouco. 

— O que aconteceu?

— O que aconteceu, Eds, foi essa cidade. Alguém de Derry me viu saindo de um bay gay com uns amigos e contou pra mãe. Ai, a história chegou nos ouvidos da minha mãe, que contou pro meu pai e meu pai não gostou nada disso. No fundo, acho que a minha mãe já sabia, só precisava de uma confirmação. — Richie fez uma pausa. — Um dia, eles apareceram no meu dormitório do nada. E não gostaram nada da coisa toda. Da bandeira gay do meu colega de quarto, do cheiro de maconha, da confirmação de que eu era mesmo viadinho. Você sabe como é. 

Eddie não tinha ideia de como era. Ele nunca havia tido que passar por nada como aquilo. Quanto mais Richie mencionava a palavra "gay", mais Eddie ficava desconfortável. Ele havia passado a vida toda tentando se distanciar daquela palavra e do que ela carregava, e agora ouvir Richie a repetindo deixava Eddie cada vez mais nervoso.

— Que merda, Rich. — Ele conseguiu dizer. 

— É. Bom, aí, de repente, eles pararam de pagar a faculdade, as minhas contas, tudo. Eu fiquei sem faculdade, sem trabalho, sem casa. Eu fiquei por um bom tempo dependendo da boa vontade de amigos meus pra ter onde dormir. Foi nessa época que eu comecei a fazer comédia. Eu ia pros bares no sábado e fazia piadas sobre ser um estudante sem dinheiro e... sei lá, as pessoas gostavam, sabe? Elas se identificavam comigo. Logo, eu estava recebendo o dinheiro pra fazer graça. Aí as coisas foram melhorando, eu comecei a ganhar dinheiro. E conforme eu ganhava dinheiro eu ia gostando de fazer comédia. As pessoas gostavam de mim.