Ponto de Vista Vânia
Eu continuo a olhar para aquela que chamo de irmã e ela tem um sorriso irritante no rosto, daqueles sorrisos que eu amaria retirar na base dos tapas.
- Que merda é esta Rita? Quem é que o mandou vir para aqui?
- Oh maninha. - Rita fala com um timbre de voz tão calmo e sarcástico que eu junto todas as minhas forças para não lhe bater aqui mesmo. - Você veio embora de Portugal, e deixou lá o seu namorado. Isso não se faz.
- Namorado? Que namorado Rita? Namorado não bate nem trai. - no mesmo momento o meu olhar se cruza com o de Oliver e eu respiro fundo. - Eu e o João não temos mais nada.
- Vania. - a voz daquele ser entra pelos meus ouvidos e todos os meus órgãos se reviram.
- Não fala comigo, merda.
Caminho para dentro de casa e vou até à cozinha onde pego um copo e o encho de água, sentindo a minha mão tremer toda, a ponto de muito do líquido cair em cima da bancada.
- Van. - Lia aparece e eu não preciso de dizer nada e só a sinto me abraçar de lado. As lágrimas já escorrem e eu estou claramente a chorar de dor. De tudo o que eu passei, e que voltei a lembrar.
- Ela faz tudo para me ver mal. - sussurro entre goles na água e soluços. - Caralho Lia, eu estou cansada.
Ela agarra no copo e o pousa, e agarra os meus braços e me puxa para o banco, me sentado. Eu coloco a mão na cabeça e soluços são a única coisa que eu ouço, ao mesmo tempo que a minha amiga passa a mão na minha cabeça.
- Você quer dormir aqui hoje? - elevo o olhar e ela enxuga umas lágrimas. - James não se irá importar.
- Se não for incómodo para vocês. - mal escuto a minha voz.
- Nunca és. - ela beija a minha testa e sai da cozinha, me deixando a olhar a parede em frente.
- Você está bem? - Oliver pergunta, afastado de mim.
Me mantenho em silêncio, enquanto as lágrimas ainda escorrem, e um leve soluço escapa por entre os meus lábios. Vejo ele se aproximar, parar na minha frente e colocar uma das mãos na minha face, o que faz os meus olhos se fecharem no mesmo segundo. Eu sinto tanta falta do seu toque.
Assim como ele me tocou, a mesma sensação desaparece e quando abro os olhos, estou sozinha. Respiro fundo e baixo a cabeça.
Ponto de Vista Liana
Eu insisti para que ela ficasse mais dias, mas Van teve que voltar para a minha casa. Não tenho falado muito com ela, pois ela não atende muito as minhas chamadas e não responde as mensagens. O meu maior medo é que João esteja lá em casa, e que ela esteja a passar pelo mesmo.
- Preocupada amor?
James sussurra ao meu ouvido enquanto eu encaro o teto do quarto.
- Estou. - os meus lábios formam uma linha e eu o olho. - Não quero que a minha amiga volte a ser magoada.
- Eu não entendi bem o que se passou.
- A Van sofreu abuso físico durante o namoro com o João. - é como se um peso saísse dos meus ombros, pois somente eu sabia disso. - Ela namorou com ele desde os 16 anos, e ficou quase 4 anos com ele. No início era tudo cor de rosa, o namorado perfeito, super amoroso e muito mais atencioso. Eles pareciam o casal perfeito.
James se vira para mim e agarra a minha mão, como se fosse um sinal para que eu continuasse. Eu me viro também e o encaro.
- Com menos de um ano de namoro, ela um dia apareceu na minha casa, com uma marca negra no braço. Eu lhe perguntei, ela disse que tinha caído. Eu não insisti, pois ela não me deu muita chance para isso, mas fiquei atenta. Ela deixou de estar comigo, mal falávamos, só mesmo coisas bobas. Enfim.
Respiro fundo e sinto James beijar o meu nariz.
- Com isso tudo, eu via postagens nas redes sociais, deles os dois, bem amorosas, com declarações de amor para a vida toda. Então, eu entendi que realmente tinha sido uma simples queda, e deixei para lá.
- E quando você entendeu?
- Quando, ja eles tinham quase 3 anos de namoro. Sim. - falo pois James abre a boca de espanto. - Ele a afastou de todos. Até de alguma da família dela. Enfim, eu a encontrei na rua, em pleno inverno de óculos de sol. Um dia de chuva e ela de óculos de sol. Eu estranhei, mas não falei logo, pois não a ia deixar ainda mais sem graça. Consegui que ela fosse a minha casa e insisti para que ela tirasse os óculos. E vi. Ela tinha marcas pela face quase toda.
- Meu Deus. - James me abraça pois a minha vontade de chorar aumenta.
- Ela chorou e disse que ele lhe batia quase todos os dias. Eu lhe perguntei porque ela não o deixava, e ela me disse que ele a ameaçava, que dizia que ninguém a amaria sem ser ele. Que ela não valia nada.
- Ou seja, além de abuso físico, era abuso psicológico também.
- E sexual. - James abre os olhos e eu abano a cabeça. - Enfim quando eu falei que viria para Inglaterra, ela ganhou a coragem para terminar tudo. Ela o fez dias antes de vir, e se escondeu dele.
- Caralho. - é a única palavra que James fala. Eu o aperto e sinto ele fazer o mesmo.
Estou a acabar o almoço quando ouço duas batidas na porta e ouço James dizer que vai abrir. Limpo a bancada quando sinto uma presença na cozinha. Viro o meu corpo.
- Van.
Ela me abraça com força.
- Me leva daqui Lia, por favor.
- Que se passa? O que aconteceu?
Ela não fala mais nada e só despe o casaco, mostrando as marcas nos braços. James entra na cozinha no mesmo momento e fica parado a olhar para ela.
- Foi o João? - ela assente com a cabeça. - Ele fez mais alguma coisa com você?
Ela volta a assentir e eu a abraço enquanto olho James. O seu choro ocupa o lugar todo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Big Ben // James Phelps
RomantikLiana 20 anos, recém chegada a Inglaterra, no início de um ano civil, em busca do sonho de finalmente trabalhar em Veterinária. Ela deixou em Portugal, família, amigos mas leva na bagagem sonhos. E talvez espaço para um amor.. // História dedicada a...