Londres, 14 de abril de 1962

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Nada poderia acabar com o bom humor de Jason naquela noite. Havia cometido um dos furtos mais tranquilos de sua longa, vasta e experiente carreira como ladrão de qualquer coisa que valesse muito dinheiro.

Por ser um amigo próximo da família, mesmo que da parte dele fosse puro interesse e agora que seu objetivo havia sido cumprido já começaria a deliciosa fase de ir se afastando deles, ele sabia que a casa estava vazia naquela noite. Os Boréade haviam saído para comparecer ao teatro para prestigiar a coisa mais chata que, na opinião de Jason, já havia sido inventada: um concerto de ópera. Ele havia, inclusive, sido convidado para se juntar à família, mas havia dito que estaria em Madri na semana do evento, para negociações em nome da firma.

O loiro havia pulado o muro com a maior naturalidade do mundo e passado pelos cachorros facilmente - tinha se empenhado para brincar com os animais sempre que estava por ali, para que o dia em que colocasse o plano em ação, eles o reconhecessem como um humano amigo e não virassem um problemas. Sem o alarde dos cachorros, que ficaram satisfeitos quando o Grace jogou longe dois pedaços grandes de bife, os seguranças não tinham motivo para se preocupar e, por isso, enquanto Jason roubava quase um milhão de euros em jóias, os homens tomavam café e jogavam cartas na varanda, tranquilamente.

Abrir o cofre havia sido um pouco mais complicado, porque era uma tecnologia nova e demandava tempo até para ladrões experientes, como ele. Ainda bem que a ópera demoraria algumas horas, havia pensado, enquanto ria. As jóias mais valiosas ficavam trancadas lá dentro, aguardando eventos especiais, como bailes, jantares beneficentes, casamentos, entre outros, e é claro, eram mais fáceis de achar compradores, porque diamantes, rubis e pérolas valem muito dinheiro. Não havia nem se dado ao trabalho de pegar as jóias menos valiosas, nos quartos, guardadas em caixinhas bonitas. Não gostava do fácil.

Jason passa pela porta de fundo da Blue Dream Bakery com um sorriso no rosto, pronto para receber seus duzentos mil euros pelo furto. O sorriso se alarga quando ele vê que, sentada na poltrona parecendo confortável e totalmente linda, estava Piper McLean. Ele a reconheceria em qualquer lugar, mesmo tendo-a visto apenas uma vez, há mais ou menos duas semanas.

— Eu sabia que nós íamos acabar nos encontrando de novo. — Diz, atraindo a atenção dela. Piper sorri e fecha a revista. Jason nota que amarelo era uma cor que caía bem nela.

— Eu estava me perguntando, mesmo, quando eu te veria de novo. — Ela abre um sorriso. — Percy me contou sobre como você foi genial roubando uma coleção de pequenas antiguidades durante uma festa na casa do Lorde Octavian. — Ela sorri. — Achei a ideia tão boa que repliquei o método.

— Gosto que você não perder tempo, McLean. — Ele senta na poltrona ao lado da dela. — O que você andou roubando, boneca? — Ela dá uma gargalhada gostosa.

Jason lembra de como tinha roubado mais de cinco milhões de euros em artefatos antigos: havia comparecido à festa do Lorde e, enquanto a música tocava, ele havia se retirado rapidamente, fingindo ir ao banheiro. Sabia que o Lorde deixava os itens em exposição, em uma grande sala na parte sul da residência. Jason havia localizado o cômodo e colocado chiclete no buraço da fechadura das, para evitar que a porta fosse, de fato, trancada à noite. Havia usado o mesmo truque na maçaneta da porta de serviço, garantindo acesso ao interior da casa sem nenhum esforço Voltou para a festa e foi embora horas depois, assim como todos os convidados. E aí... foi só esperar, dentro de seu carro, estacionado alguns quarteirões para baixo, que as luzes da casa se apagassem.

— Eu tenho um grande apreço por coisas brilhantes, Grace. — Ela sorri. E então, eu noto o jornal em cima da mesa, anunciando o roubo milionário da coleção valiosa de tiaras de pedras preciosas da Duquesa de Colchis, Medeia. A viúva tinha dado uma festa, mais cedo, naquele dia, mas tanto ela quanto os funcionários afirmam que os objetos de valor estavam em seus devidos lugares quando os convidados se retiraram - cada tiara em sua caixa, num closet enorme feito apenas para guardar as peças. Na manhã seguinte, só as caixas foram encontradas, mas não as tiaras, avaliadas em mais de sete milhões de libras.

Jason entrega a pequena maleta para a mulher. Queria ver o rosto dela diante de coisas brilhantes. E não se decepciona. Os olhos dela refletiam toda a adoração que os objetos causavam a ela. Era lindo de observar. Era uma pena aquelas jóias não pertencerem a ela, porque seria uma combinação interessante de assistir.

Percy aparece na sala em que estávamos no momento em que ela devolve a maleta com a mercadoria roubada. Ele estava acompanhado de Hazel, a dona de uma das joalherias mais famosas de Londres, que, obviamente, tinha clientes muito interessados em tiaras de pedras preciosas, colares de rubis e qualquer outra coisa muito brilhante que valesse muito dinheiro. Hazel nos cumprimenta e, quando vê o que eu tinha em mãos, solta um assobio curto e impressionado. Percy se afasta com Piper enquanto Haze calcula o valor do meu mais recente roubo. A morena vai embora minutos depois, mas não sem antes piscar para mim, como se me desafiasse tirá-la da cabeça. Como se me desafiasse a cometer um roubo maior do que o dela. Talvez ambos. Eu sorrio. Eu adoraria entrar nesse jogo com ela.

Bem distante dali, em Lyon, na França, em uma das salas mais secretas da INTERPOL, a detetive Drew Tanaka observava relatórios sobre grandes roubos cometidos recentemente em Londres e em seus arredores. A polícia desconfiava de uma quadrilha altamente qualificada, mas não tinha prova nenhuma. Nenhuma evidência nunca havia sido deixada para trás. Ela estaria no próximo avião para a capital inglesa.

East Side Story - JasiperOnde histórias criam vida. Descubra agora