Londres, 17 de maio de 1962

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— Você dormiu com ele? — Annabeth pergunta, interessada, achando a situação que Piper havia acabado de relatar uma fofoca digna de fazê-la fechar o caderno de finanças que ela controlava assiduamente.

— Tecnicamente, nós quase não dormimos. — A morena diz, rindo e tentando não pensar muito na sensação maravilhosa que era ter Jason Grace para si. — Tão excitante que quase não tive sono.

— Você gosta dele. — Annabeth diz, encarando a amiga atentamente. Piper pensa por alguns segundos. Gostava de encontrar o Grace por aí. Gostava de como eles viviam em um jogo de provocações, fossem elas físicas ou intelectuais, e gostava de dormir com ele.

— Eu gosto da presença dele. Ele me deixa excitada, em vários sentidos. — A morena responde. — Nunca tinha me sentido tão... desejada. E ele é excelente em todos os quesitos, me faz querer mais. O melhor sexo que já experimentei. — Finaliza, lembrando da pouca experiência sexual que tinha antes de se mudar para a Europa.

Antes, ainda dos Estados Unidos, tinha um namorado. Eles tinham planos de casar, construir uma vida, uma família, mas aí... ele também tinha virado as costas para ela quando o escândalo aconteceu. E bem, agora ela agradecia nunca ter se casado com Dylan, porque se isso tivesse acontecido, ela nunca teria passado um final de semana inteiro na cama de Jason. E aquele final de semana havia sido a melhor experiência de sua vida.

— E fora da cama? — Annabeth pergunta, ainda achando divertida a situação de ver o caminho dos dois ladrões mais criativos e brilhantes que ela conhecia, se cruzando. Podia ver que os dois tinham várias coisas em comum e achava curioso essa relação em que tinham se enfiado.

— Quando ele não está roubando antes de mim, eu o adoro. — Piper ri. — Jason é... inteligente, divertido e honesto. — Annabeth ergue a sobrancelha. — Quando ele conversa comigo, eu não vejo nenhuma máscara. Gosto da essência sexy e provocante que ele tem.

Piper se levanta do sofá um pouco depois dessa conversa. Tinha que ir para casa, se aprontar. Estava devendo um encontro ao Grace, não que estivesse reclamando, e os dois tinham ingressos para assistir ao musical West Side Story. A intenção não era das melhores quando escolhe um vestido vermelho escuro da Dior, e o sorriso que o Grace abre quando a vê é dos mais bonitos e recompensa a escolha certeira. Jason tinha ciência de que ela escolheu aquela roupa, daquela bendita cor, só para ele. E queria muito poder tirar aquele vestido também, já que ainda se sentia extasiado pelo fim de semana que tinham tido em Madri.

West Side Story exercia um fascínio sobre Jason desde que havia sido lançado, anos antes, em 1957. Transposição da história de Romeu e Julieta, a história era sobre a rivalidade das gangues de Nova York, os irlandeses católicos dos Jets contra os latinos porto-riquenhos dos Sharks. Bem, esse plano de fundo do musical para o romance entre os membros de gangues rivais havia sido a realidade de Jason durante a adolescência.

Filho de pais desajustados, teve que aprender a se virar sozinho desde muito cedo. Tinha apenas 12 anos quando cometeu seu primeiro delito: surrupiou a carteira de um homem enquanto ele se distraía olhando as vitrines de lojas caras com a esposa. Aos 14 anos se juntou ao The Jokers, a gangue de jovens que viria a inspirar o musical anos depois. Em 1955, aos 20 anos, havia comprado uma passagem de navio com destino à Europa, usando dinheiro que havia juntado nos últimos anos.

Piper havia perguntado, dias antes, sobre a tatuagem de água que ele tinha no braço. Era uma das lembranças de sua época como jovem encrenqueira em Nova York. A atitude rebelde e até um pouco violenta que tinha que ter para não ser engolido por outros caras, para não ser taxado de fraco... havia deixado aquilo para trás, mas a tatuagem era um lembrete do passado.

Na Europa, Jason havia se tornado uma outra pessoa. Conheceu Percy no navio. O moreno dos olhos verdes, alguns anos mais velho do que o próprio Jason, havia apadrinhado o garoto e dado algumas dicas. Dicas as quais Jason levou a sério. Em menos de um ano poderia se passar por um britânico de origem, o sotaque perfeito. Em menos de dois anos falava italiano, francês e um pouco de espanhol. Um pouco mais e ele havia ficado excelente com números. Seguro para falar, poderia inventar o que fosse, desde transações do mercado financeiro até palavras em mandarim, que ninguém o questionaria. Virou mestre em paquerar, em descobrir segredos, em usar a técnica que tinha aprendido cometendo pequenos furtos para ganhar dinheiro com grandes furtos. Por que roubar uma carteira se podia levar um colar de pérolas?

— Acho que nós dois deixamos nossas histórias no lado oeste do mundo para trás, Jay. — Piper havia dito depois de ouvir a história dele e a explicação do porque ele estava tão interessado no musical.

Sim, tinham deixado o oeste do mundo, os Estados Unidos, pra trás. Agora estavam escrevendo um capítulo maravilhoso de suas vidas pessoais e profissionais, ali, no lado leste do oceano atlântico. E Jason tinha a certeza que essa página da vida só estava ficando cada dia mais interessante.

East Side Story - JasiperOnde histórias criam vida. Descubra agora