Londres, 29 de junho de 1962

303 27 7
                                    

Piper se sentia péssima quando pagou o motorista e desceu do carro. Os passos que tinha que dar até o saguão do aeroporto eram pesados, como se estivesse carregando chumbo. E a única coisa que realmente carregava era uma bolsa de mão cara, da Prada. Idêntica aos modelos que a senhora Clarisse La Rue usava. Ela era esposa do capitão Chris Rodriguez, da polícia internacional, e segundo informações que Percy havia conseguido, sempre carregava em sua bolsa uma fortuna em joias. Não confiava nos empregados, não confiava em bancos e, se bobear, não confiava nem mesmo no marido, então, preferia levar ela mesma as peças para onde quer que fosse, o que Piper considerava ser a coisa mais idiota e sem sentido possível. Bem facilitava o trabalho de pessoas como ela.

O plano era perfeito. Piper, com uma bolsa igual, daria um jeito de trocar uma Prada pela outra, pegando para si a bolsa com as joias. Quando desembarcassem em Roma, o destino da viagem, ela entregaria a bolsa para Jason. O loiro estava levando uma bolsa Dior em sua própria mala e a entregaria para Piper em solo italiano, com dinheiro e documentos - desta vez, nesta viagem, ela se chamava Paloma M. Benedetti, uma cidadã romana, nascida e criada que estava fora do país nos últimos meses, a passeio, mas que estava finalmente retornando para casa. Como se tratava de dar um golpe em uma figura importante da polícia, era melhor não ter nem mesmo seu verdadeiro nome ligado à cidade quando o roubo estourasse.

Jason seria James G. Patterson, um inglês, nascido e criado em Londres, que estava em Roma a negócios. Ele era o encarregado de sumir com a bolsa da Prada, para que a maior prova do crime nunca fosse encontrada, e despachar as joias, que seriam enviadas para Percy no meio de um carregamento de vinhos - Jason tinha um contato, no aeroporto de Roma mesmo, que facilitaria sua entrada na área de cargas.

Era a primeira vez que ele e Piper se juntavam para dar um golpe. E o plano era simples é genial. Haviam se divertido montando aquilo e escolhido os nomes nos passaportes usando suas iniciais verdadeiras por puro despeito e desrespeito às forças policiais. No entanto, Jason, que estava animado para finalmente colocar o plano em ação, ergue a sobrancelha quando vê a garota. Sua pele escura apresentava uma palidez atípica. Seus olhos pareciam cansados.

— Pipes, você está bem? — Pergunta. Ela demora alguns instantes para responder que sim, estava. Um pouco cansada, talvez estivesse ficando gripada ou coisa assim. Ele pergunta se ela queria voltar para casa - eles podiam deixar esse golpe para outra oportunidade -, mas ela nega. — Lembre-se, meu bem, o avião que vai nos trazer de volta para Londres sai de um pequeno aeroporto particular. — Ele não sabia porque estava repetindo aquelas informações para ela, Piper sabia muito bem como as coisas funcionavam, mas ele percebia que ela não estava em seu melhor dia, então queria distraí-la. Ou despertar a atenção dela. Talvez ela ficasse brava com ele por ser repetitivo e até isso já era uma coisa melhor do que o olhar apático. — Você tem o endereço da pensão de segurança, né? — Pergunta e ela confirma, dizendo que havia colocado o papel na bolsa que ele entregaria a ela depois. — Te vejo em Roma, boneca.

Jason se despede deixando um beijo quente no rosto dela. Ele deixa que ela embarque primeiro e a assiste andar, vagarosamente, até a fila de embarque da primeira classe. Seria melhor se não os vissem juntos antes de um roubo. Vê Clarisse La Rue entrando no avião. A mesma bolsa, como previram. Ele torcia para Piper, realmente, ter só uma gripe, porque não conseguiria colocar os olhos nela novamente até que desembarcassem em Roma.

Piper, no entanto, sabe que não é só uma gripe quando sua cabeça começa a girar. Ela tem que se concentrar muito, em um esforço surreal, para que consiga enxergar. E acha que estragou tudo quando Lady Clarisse se levanta para pedir mais uma ou duas doses de whisky e Piper aproveita a chance, na vazia primeira classe, para efetuar as trocas das bolsas. Se confunde momentaneamente, não sabendo se a que estava na mão direita era a dela ou a que ela tinha que roubar. E Jason estava em outra classe, para que eles não chamassem atenção, então ela não tinha como pedir ajuda. Escolhe uma das bolsas, sem ter muita certeza, e volta para sua poltrona, com a sensação de que estava morrendo.

Quando desembarca, demora para localizar Jason. Ele lhe entrega a bolsa da Dior, pega a Prada e pergunta se ela está bem. Piper diz que sim, que o encontraria no aeroporto particular para que regressassem para a Inglaterra. Ele tenta dizer para que ela esperasse por ele ali, que ele a levaria embora, mas ela diz que não precisa, porque poderia prejudicar o plano de fuga deles. Quando ele se vai, ela sabe que tem que sair dali. Era melhor estar longe daquele aeroporto quando a mulher desse por falta das joias - se ela tivesse, realmente, entregado a bolsa certa para Jason.

Não consegue encontrar um táxi. Estava confusa, a visão turva e ela não tinha muita certeza do que estava fazendo. O aeroporto particular não era longe daquele aeroporto internacional. Talvez ela conseguisse andar até lá... se conseguisse se lembrar do mapa. Ela havia estudado o mapa de Roma, daqueles arredores, mas não conseguia se lembrar. Estava confusa.

Não sabe por quanto tempo anda, um pouco sem rumo, até que se senta em um banco, num parque calmo e silencioso, e torce para não ir presa.

East Side Story - JasiperOnde histórias criam vida. Descubra agora