Pain

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Acordei com dores por todo o corpo,  mas nenhuma delas se comparava à dor em meu coração. Eu a perdi, pra sempre, a perdi para aquelas bestas selvagens, ela me salvou e se sacrificou para isso. Como dói, uma dor que me impede de respirar, porquê ele não me deixou morrer? Pelo menos estaríamos juntas agora... Como me recuperar de algo assim? Como continuar... como... como...

*********

Quando Tamlin entrou no quarto, ela estava em prantos, soluçando e com as mãos cobrindo o rosto, nem se preocupou em esconder a tristeza na presença dele. Não se incomodou em continuar chorando até que suas mãos estavam enxarcadas por suas lágrimas. 

-Preciso saber o que está acontecendo...

-Faz alguma diferença agora?
Não havia mais emoções nas palavras da guerreira.

-Eu preciso saber...

-AGORA VOCÊ SE IMPORTA? QUANDO ESTÁ TUDO PERDIDO?

-Eu estou disposto a ajudar...

-V-A-I  P-R-O INFERNO!

Ele então saiu, a deixou com seu próprio sofrimento. Na manhã seguinte ele a viu atravessar o jardim, caminhando devagar com uma mão no ferimento da barriga e na outra, um buquê de rosas vermelhas colhidas do jardim certamente. Ele viu enquanto ela arrancava as pétalas e fazia um grande círculo na grama, depois sentou-se no meio do círculo e disse algumas palavras incompreensíveis. Logo as pétalas começaram a se mover, girando e saindo chão, ela com suas mãos, guiou o círculo por cima da cabeça até a sua frente,  formando novamente aquele espelho, mas ao invés do reflexo da mulher, outra coisa era vista, como se o espelho contasse uma história e os dois assistiam.

Tamlin viu uma espécie de cerimônia, viu a mulher em um tipo de altar, talvez fosse uma juíza ou sacerdotisa. Ela estava radiante, muitas pessoas estavam assistindo e ela sorria para uma linda garotinha de cabelos dourados e cacheados. De repente uma mulher de vestido branco se aproximava do altar, sim era um casamento, seu noivo a aguardava dois degraus abaixo da juíza. Ela sorria para a noiva quando sua expressão mudou e ela franziu a testa olhando para além da noiva que percebeu e também olhou para trás, no mesmo instante uma lança a atingiu no estômago atravessando seu corpo, fazendo a juíza e o noivo gritarem.
De repente todos estavam correndo por suas vidas e a garotinha correu a encontro da juíza que já estava abaixada junto a noiva morta. A menina começou a chorar junto com os dois sobre o corpo da noiva enquanto bestas sevagens e sombrias atacavam a todos no local com lanças, flexas, garras e dentes. A mulher imediatamente se pôs a lutar com magia, em um sopro de seu poder azul celeste varreu dezenas das criaturas. Ela gritou ao noivo que tirasse a garotinha do local, ele pareceu relutante em deixar sua noiva ao chão, mas obedeceu e pegou a criança no colo se afastando de lá o mais rápido que conseguia, enquanto a mulher lançava seu poder sobre as criaturas, transformando-as em pó. Quanto mais ela destruía, mais criaturas apareciam, todas comandadas por um ser que olhava à distância, se deliciando com o esforço da mulher, como se esperasse que seu poder cessasse e ele a devorasse. Para sua tristeza a mulher só se fortalecia, em seus braços surgiam veias pretas tranformando seu poder em negro ao invés de azul. Seus olhos também se escureciam e sua expressão era de puro ódio.  Ela olhou para trás, como para se certificar de que o homem e a criança estavam longe o bastante de seu poder sombrio, nessa distração uma das criaturas a atingiu com a lâmina envenenada o que provocou o grito da menina:

-MAMÃE!!!

Tamlin viu a guerreira que assitia a própria história, limpar seu rosto de lágrimas e voltar a assistir novamente, ele voltou a olhar para a cena horrorizado, quando viu no espelho a mulher gritar mais forte:

-TIRE-A DAQUI AGORA!

Ao que o homem obedeceu lutando para segurar a menina que se debatia em seus braços ainda gritando pela mãe ferida. Quando ela achou seguro a distância dos dois, voltou a olhar para as criaturas e fervilhou ao ver que aproximavam cada vez mais sedentas por sangue,  com seus dentes e garras à mostra, ela então girou seus braços lentamente à frente do corpo, como se projetando todo o seu poder negro, olhou mais uma vez para a noiva que jazia no chão ensanguentada, e num movimento rápido girou a mão criando um portal e removendo o corpo dali. Então num grito frenético lançou todo o seu poder negro sobre as milhares de criaturas transformando-as em pó. Quando a escuridão baixou, ela estava ajoelhada, esgotada e viu o ser que comandava as bestas se aproximar dela, a olhando com desdém.

-Você nunca vai pôr as mãos sujas nela.
Disse a guerreira.

Ele passou por ela e deu ordem às bestas remanescentes que sobraram da explosão de poder para que matassem a mulher com apenas um gesto de mão. A mulher começou a engasgar com sangue graças à espada cravada em seu abdome, apenas fechou os olhos e esperou. De repente um pequeno portal sugiu a sua direita fazendo com que ela abrisse os olhos assustada, a garotinha saiu do portal e criou outro embaixo da mãe fazendo-a desaparecer ao ouvir suas palavras:

-Eu vou te salvar mamãe, te amo!

O líder das criaturas imediatamente se virou e ordenou às bestas que matassem a menina, que se abaixou com as mãos sobre a cabeça e fez a mãe desaparecer enquanto gritava.

Nesse momento o espelho se desfez em poeira caindo sobre a mulher ajoelhada no jardim de Tamlin, ela se abaixou abraçando o próprio corpo e liberando outra quantidade enorme de poder negro, fazendo a vegetação ao seu redor morrer. Tamlin foi lançado vários metros pra trás, batendo as costas na parede do quarto a derrubando, nesse momento ouviu mais um grito de desespero da mulher  que agora estava caída no chão soluçando de tanto chorar por sua filha perdida. Ele não ousou se aproximar por longas horas, até que a mulher estivesse talvez desmaiada. Ele a levou para casa e não conseguiu segurar as lágrimas que lhe escorreram o rosto.
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O Grão Senhor sem Corte (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora