Hope

93 7 2
                                    

Dormi querendo nunca mais acordar, nunca sentir a dor da perda do meu Céu, a forma brutal como ela partiu, despedaçada por aqueles monstros malditos só fazia doer mais ainda. Tudo em mim eram sombras e desespero. Noite passada senti a magia de minha irmã mais velha passar para mim. A única coisa  boa nesse mar de escuridão é que ela conseguiu voltar à terra, e seu Espírito poderá encontrar-se com nossas ancestrais... Mamãe, vovó,  e tantas antes delas, ao contrário de Georgia, minha doce filha que... partiu e não pôde ser sepultada para descansar. Isso me remoía a cada hora do dia. Fui até o jardim de ruínas para olhar as flores e talvez fazer uma homenagem à ela, como ela amava flores, as rosas vermelhas principalmente, eram suas favoritas. Ela sempre quis ter um jardim, mas com a ameaça iminente, nunca podíamos fixar morada em lugar algum, sempre mudávamos, dessa vez decidimos esperar um pouco por conta do casamento de minha irmã Vivian e todos pagamos um preço muito alto por isso.
Um adeus, minha garotinha merecia isso, a garotinha que encheu meus dias de alegria, mesmo com tantos problemas e medo, nada a abalava, sempre com um lindo sorriso no rosto...

Cheguei à lateral do jardim e comecei a observar aquelas rosas, algumas mortas, outras lutando para sobreviver em meio à ervas daninhas, comecei a arrancar com as mãos essas ervas, quem elas pensavam que eram pra atrapalhar assim aquelas rosas? Não, comecei a arrancar e vi minhas mãos ficarem vermelhas com o que parecia ser meu sangue, por contas dos espinhos, eu não sentia nada, só sabia que tinha que arrancar aquelas ervas para que as rosas pudessem crescer, para que minha filha pudesse crescer, crescer, casar, ter uma família. Não,  ela não teria essa oportunidade, por que esta morta, MORTA, MORTA, MORTA...

Desabei nos braços de alguém tentando me agarrar, mas eu não queria ser contida, queria gritar para o mundo o tamanho daquela injustiça,  então me debati até não ter mais forças e me agarrei àqueles braços ao meu redor como se a escuridão e a dor fossem me engolir completamente. Não,  não poderia permitir que ele vencesse, ele já a tirara de mim, não deixaria que ele me tivesse também, então apenas chorei e me agarrei àqueles braços. De quem eram, não fazia diferença, só me apertaram com força,  até que me recolhi neles e fechei os olhos.

Acordei com a luz da lua entrando no quarto, a única luz ali. Me deparei com aquele homem sentado em frente à cama em que eu estava, me olhando com as mãos apoiadas no joelho, tentando encontrar palavras talvez para me confortar. Mas eu não queria conforto, queria justiça, por minha família assassinada.

-Que bom que acordou.

-Sim, acordei.

Me veio a memória meus gritos e berros contra ele, ele não tinha culpa, eu precisava me desculpar.

-Me desculpe por brigar com você no outro dia.

-Não se desculpe, vi o que aconteceu e certamente você não precisa se desculpar.

-Você viu?

-Sim, me perdoe pela intromissão.

-Eu devo voltar, não posso ficar aqui.

-Voltar pra onde?

Suas palavras eram verdadeiras, eu não tinha mais pra onde voltar, todos estavam mortos.

-Não sei.
Abaixei a cabeça.

-Fique aqui o tempo que precisar.

-Não vai mais me expulsar?
Falei amarga e algo como arrependimento passou por seus olhos,  mas ele logo se levantou e saiu fechando a porta atrás de si.
*
*
*

O Grão Senhor sem Corte (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora