Caça às Passas

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Autor: Lucas Ximenes

@LucasXimenes1002

   Kanan não sabia o que tinha dado errado

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   Kanan não sabia o que tinha dado errado. Não havia nenhuma explicação aparente para o que acontecera diante de seus olhos. Poderia ter sido falta de planejamento? Muito improvável; pensara em tudo com muito cuidado. Talvez tivesse apenas se esquecido das uvas-passas, mas até isso lhe parecia improvável; não se esqueceria de algo tão importante. Não do ingrediente mais importante da sua ceia de fim de ano.

    Passou a mão nos cabelos escuros enquanto pensava em algo. Sua esposa chegaria em poucas horas junto com os pais e Kanan, de alguma maneira sobrenatural, conseguira colocar toda aquela ocasião em risco. Os pais da jovem Helena não pegavam tanto no seu pé, mas certamente optariam por comer em outro lugar se soubessem que não teriam seu arroz com passas.

    Kanan pegou um casaco e desceu as escadas, afinal tudo já estava pronto, exceto pela inacreditável falta das uvas passas. Lembrava-se claramente de ter as comprado algumas horas antes. Estava certo de que pagara por aquelas passas, mas aquilo não importava mais. Abriu a porta de casa e pôs-se a caminhar até o mercado.

    Os blocos de concreto refletiam suavemente a luz da lua e o cheiro de churrasco penetrava nas roupas estendidas nas janelas das casas mais próximas ao restaurante. Viver ao lado de um restaurante era um grande convite à obesidade — serviam praticamente pura gordura em copos —, mas Kanan não tinha dinheiro suficiente para que a situação saísse do controle nessas proporções.

    Mais à frente, uma festa tomava controle de um cruzamento — provavelmente clandestinamente, uma vez que a região não era muito movimentada —, e os participantes bebiam e aguardavam pela virada de ano. Kanan passou por entre a multidão sem dar muita confiança àqueles que tentavam vender-lhe bebidas. Na verdade, não daria confiança mesmo que lhe oferecessem dinheiro; reconhecia que era tímido. Às vezes, chegava a se questionar sobre como se abrira tanto para sua esposa.

    Ele continuou andando até o mercado, provavelmente um dos lugares mais cheios naquela faixa de horário. Gostava de comprar os ingredientes da ceia muito no máximo um dia antes do dia 31, evitando assim as centenas de pessoas que se aglomeravam nos supermercados em busca de algum ingrediente de última hora.

    Por ironia do destino ou não, agora ele era uma daquelas pessoas. Aceitando o fato de que teria de gastar preciosos minutos do seu tempo esperando em uma fila interminável, Kanan entrou no supermercado e foi diretamente à prateleira da qual havia pegado um pacote de uvas-passas alguns dias antes.

    A música ambiente da loja era completamente abafada pelas centenas de laringes que tagarelavam sem parar. Ele sentiu um leve cheiro de vinho ao passar pelos corredores, um sinal de que alguém estivera tão apressado que derramara alguma garrafa por ali. Ao chegar no corredor desejado, seu coração acelerou instantaneamente.

    As uvas-passas haviam terminado.

    Kanan disparou em meio à multidão de pessoas — a maioria estava reunida na seção de legumes e vegetais. Procurava por qualquer pessoa que trabalhasse naquele supermercado, qualquer pessoa que pudesse lhe dar mais informações sobre onde encontrar mais uvas-passas. Teve sorte de encontrar uma funcionária organizando as caixas de leite alguns corredores à frente; quase todos os funcionários estavam ocupados tentando mostrar aos clientes a óbvia localização de produtos comprados frequentemente.

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