Segundo Lugar! 🏆
Autor: Matheus Prado
@omatheusp_
Após a última guerra inúmeras crianças ficaram órfãs. Ruben é um desses garotos. Com apenas oito anos de idade ele perdeu ambos os pais no trágico conflito. Seu pai foi um soldado de infantaria, que desapareceu durante um confronto violento entre seu pelotão e o pelotão inimigo. Nunca se soube de fato o que aconteceu com ele, mas sabe-se que nenhum dos seus companheiros voltou pra casa. Já sua mãe, ele viu ser morta por conta de um pouco de comida.
Antes de tudo acontecer eles viviam em uma casa humilde de fazenda nos arredores da cidade. Ruben adorava ajudar o pai com os animais, principalmente quando colocava feno nas cocheiras do estábulo. Alimentá-los nem sempre fora a sua prioridade, mas sim as pilhas macias de feno, que acolchoavam seus pulos inesperados.
Para uma criança que perdeu os pais qualquer ser humano parece uma ameaça. Somente os laços fraternos são capazes de trazer conforto e proteção necessário.
Seu único parente vivo a morar na cidade, depois do término da guerra, era seu tio, um caçador ambicioso e bêbado. É certo afirmar que Ruben tinha primos e parentes de sangue em outra cidade, mas seu tio fez questão de cuidar dele quando solicitado pelas autoridades. Por mais que tivesse pouco contato com o tio, Ruben olhou a oportunidade com esperança, ele não conhecia ninguém e qualquer coisa era melhor do que um orfanato.
Assim fora feito, ele logo se mudara permanentemente para a cabana do tio. Entretanto toda a euforia por ganhar um novo lar durou pouco. Logo, Ruben descobriu as verdadeiras intenções do tio, receber a fazenda herdada de seus pais para si. Ele não tinha afeto nenhum pelo pobre garoto, que mais uma vez se via sozinho. Aquele foi seu primeiro contato com a ganância humana, e ele nunca esqueceria o quão egoísta é tal sentimento.
A vida do pobre menino se tornou parecida com a de um escravo. Pela manhã ele alimentava os animais, antes do almoço ele limpava as armas de caça e as colocava organizadas em um suporte. Seu almoço era sempre uma sopa rala com alguns legumes velhos, nunca carne. Após o almoço ele cuidava das plantações, buscava água no poço e organizava a casa. Nunca jantava, comia somente duas bolachas cobertas de mel, que não adiantavam de muito. Todas as noites ia pra cama faminto. Quando fazia alguma tarefa errada, uma surra recebia.
O garoto pensou inúmeras vezes em fugir do lugar e buscar refúgio na cidade. Pensou em algumas saídas, mas seus planos tinham que levar em consideração a enorme floresta de pinheiros que cercava a propriedade, além das feras que lá habitavam. Seguir pela estrada era muito fácil, desde que se soubesse para que lado seguir. Todos os seus planos não pareciam tão bons quando analisados de perto.
Em dezembro, quando a neve cobria os pinheiros com sua leveza, uma ideia brilhante invadiu sua mente. Naquele dia, ele pensou sobre aquilo por horas e se convenceu de que aquela era a sua única saída, a noite de ano novo. Bem perto do final do ano, Ruben que pouco falava com seu tio, agora passou a perguntar lhe incessantemente todos os dias.
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Projeto Writing e o Ano Novo - Concurso de Contos
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