Sopdet - Os Astros Também Falam

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Autor: Ítalo Amorim

@ita_amorim08

No Egito Antigo, a cultura do Ano Novo tinha uma história muito particular, história essa que se conhecia por cima graças aos materiais históricos existentes nos sarcófagos de Butehamon, estando esses presentes no Museu Egípcio de Torino (localiza...

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No Egito Antigo, a cultura do Ano Novo tinha uma história muito particular, história essa que se conhecia por cima graças aos materiais históricos existentes nos sarcófagos de Butehamon, estando esses presentes no Museu Egípcio de Torino (localizado na Itália). Entretanto, o que essa parte da história não contava e que os mortais não sabiam, é que o Ano Novo daquela rica região tinha seu lado místico. Um lado místico que, tão presente, parecia ser real... seria ele real?

Bem, acreditava-se que não, obviamente não faria sentido uma história com tão poucos detalhes ser real, mas uma nova descoberta mudou tudo que se conhecia. Um novo sarcófago, esse totalmente rico de detalhes teológicos, ampliava toda a concepção sobre o Egito Antigo, o Ano Novo e os seus efeitos à época. Apesar de totalmente rica de detalhes, para aquela nova descoberta impactar tanto assim ela teria que ter algo além das demais, coisa que de fato ela tinha. Em desenhos, totalmente em desenhos, o sarcófago descrevia acontecimentos influenciados pelos deuses até meados do século XVIII. Eventos explicados de modos tão minuciosos que, de tão verdade, soavam como mentira. O impacto, como é de se imaginar, foi assustador.

Para ser tão alarmante, imagino que você tenha assumido o tamanho da precisão daqueles desenhos, ainda que muitas destas precisões tivessem valor metafórico nas ações. No meio disso tudo, sem identificação legível de ano, tinha a apresentação da mudança de estações para os mortais daquela região, sendo essa descrita com uma lenda local sobre o relacionamento dos Deuses. Ou melhor, mais precisamente com quatro deles. Eram eles: Nut, Deusa que representava o céu noturno; Geb, o Deus que representava a terra; Shu, Deus que representava o ar, e Sopdet, Deusa que anunciava as inundações do Rio Nilo.

A história narrada era complexa, as relações soavam amargas, mas vale contar parte dela para vocês:

Geb era o Amor da vida de Nut, o Amor puro e celestial dos Deuses de forma nunca sentida ou pressentida, uma Amor que não poderia ser realizado. Shu, protetor dos valores e propagador da paz, sabia que a consequência daquele Amor causaria o fim da existência de todos os Deuses. Afinal, o encontro de Nut e Geb geraria algo tão brilhante que os mortais saberiam o que aconteceu; fazendo, dessa forma, o que se chamava de "celestial" perder seu valor.

Foram milénios e milénios de fugas e a ânsia pela doçura do toque da sua desejada, Geb não sabia como suportar sua falta e Nut, sempre encantadora, o provoca atraindo a atenção dos curiosos. A beleza de Nut era a que mais chamava a atenção entre os humanos. Incapaz de parar Geb, Shu sabia que seu alvo para evitar aquela união tinha que ser Nut, desvinculando-a assim da Terra.

Para fazer isso, Shu embaçava as provocações de Nut para os mortais, causando sempre muitas tempestades de areia durante a gelada noite egípcia. Sem poder ver o brilhar de Nut, Geb amargurava aquela dor durantes os dias, quando estabelecia relação com Rá (Deus do Sol) e tornava suas terras insuportáveis para a delicada pele humana.

O impacto na humanidade foi tão grande que Shu, sem saber o que fazer, desistiu de evitar as provocações de Nut. Até porque, o fim da existência dos humanos implicava no fim das tradições repassadas, principal e por muito tempo o único alimento dos Deuses.

A escolha, apesar de funcionar no primeiro momento, teve um efeito trágico em longa escala. Geb não suportava mais não ter o toque de Nut e decidiu fingir paz com Shu para escapar para sua dama. Depois de um milénio sem provocações e a baixa de guarda por parte de Shu, Geb fugiu para o encontro de Nut e o que mais se temia aconteceu.

Nascia dessa forma Sopdet, a estrela mais brilhante do céu estrelado por Nut, a prova que os mortais precisavam para crer nos Deuses e, mais que isso, conseguir controlar as variações do Rio Nilo.

Amon, Deus dos Deuses, sacrificou Shu por falhar em sua proposta e Geb ficou séculos sendo punido por Rá sem ter o frescor de seu antigo companheiro. Como punição mais pesada, Amon retirou o direito de Geb em ver sua filha, sendo a doce Sopdet vista apenas uma vez por ano pelos mortais.

O evento, como foi dito, marcava a variação do Rio Nilo, virando dessa forma uma época de muita animação por parte dos mortais. Aquele poder de saber quando o Nilo variava tirou Amon do sério, levando o Deus dos Deuses a completa loucura.

Os Deuses perderam o controle das ações, os mortais cada vez mais sabiam dos impactos divinos e assim sarcófagos, como o encontrado, foram produzidos. A antiga tradição sucumbiu no tempo, Deuses perderam seu principal alimento e simplesmente morreram. Morreram sem o sopro de Shu para trazer o diluvio de anos atrás.

As cheias do Nilo marcavam a chegada da estação de Akhet (época de cheias, indo de julho até meados de outubro) e assim se tinha o Ano Novo egípcio estabelecido. Festivais surgiram, tempos de prosperidade e fertilidade iniciavam e os mortais ganharam um poder que, antes de Sopdet, não se imaginava.

A estrela, que com o tempo passou a ser chamada de Sirius, ganhou um lema logo nos primórdios da escrita no mundo ocidental: "a mais Divina dos Deuses eram tão deles que, quando surgiu, não foi batizada de maneira devida. A falta do batismo lhe causou incômodo, o incômodo lhe angústia, a angústia lhe causou tensão e a tensão lhe causou todos os efeitos que um Mortal podia ter. De tão Divina, se fez Mortal. E a mortalidade por si só já lhe encantava.

No fim, aqueles Deuses morreram, os mortais que causaram isso morreram também, e a história se perdeu no tempo. Criou-se a tradição no Ocidente de homenagear Sopdet para relembrar seu impacto na história e, dessa forma, os céus ganham cor em cada virada de tempo.

O surgimento de Sopdet, ou de Sirius, é pouco lembrado de fato. Ela surge, traz sua alegria, e vai embora por não ser tão admirada; mas faz questão de voltar todo ano ao ver a felicidade que a humanidade faz com fogos de artifício em uma data específica. Data essa que ela nem entende, porém aceita por ficar encantada com tamanha alegria. Sopdet, no fim das contas, nos lembra de uma coisa: os astros também falam. E quando falam nos contam como o mundo é encantador.

Projeto Writing e o Ano Novo - Concurso de ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora