Conforme o que foi apurado pela polícia pelas investigações e depoimentos (inclusive o dele), desde muito novo Sandro, que era o filho único de um casal de dentistas do interior, demonstrou um comportamento obsessivo, carente e bipolar, fixando sua atenção em alguma coisa ou pessoa difícil de conquistar e, quando não conseguia ser notado pelo seu "alvo", fazia de sua vida um inferno. Por causa disso, precisou ser transferido de escola várias vezes, até que, numa delas, encontrou uma válvula de escape para seus problemas no teatro: vivendo outras histórias e tendo contato com personagens de personalidade diferentes da sua, ele conseguiu destaque e, principalmente, aprendeu a dissimular seu temperamento. Entusiasmados com a recém-descoberta vocação do filho, que parecia tê-lo tirado de encrencas, seus pais o estimularam a investir na profissão, e foi dessa forma que ele os convenceu a pagarem meu curso de teatro, do qual ouvira falar por colegas de uma peça amadora.
Ansioso por ser aceito, ele não teve dificuldades em captar meu estilo de ensinar ou a faceta que mais me agradaria, e adotou a figura do rapaz tímido e estudioso que se transformava nos papéis certos. Com efeito, comecei a elogiá-lo pela sua dedicação e disciplina, e por causa disso ele, começando a lidar com sua sexualidade, começou a fantasiar sobre mim e me escolheu como alvo de sua nova obsessão. E isso alcançou outro patamar quando Rubens mostrou-lhe o roteiro de "Amor entre sombras", junto com os outros colegas (fiquei surpreso ao saber que fui o último a lê-lo, mas não deveria, é claro que, sendo os colegas o enfoque principal do projeto, ele o mostraria primeiro a eles, e só depois que eles topassem a mim). Empolgado em ser o meu par romântico, a fronteira entre realidade e fantasia ficou mais tênue, e foi nesse espírito que ele me mandou os dois primeiros buquês de rosas com mensagens insinuantes. Ele ficou feliz ao ver, durante as aulas, que mesmo não falando nada mantive o primeiro buquê num vaso na sala, especialmente ao constatar nossa química durante aquele beijo simulado, mas estranhou eu não ter feito o mesmo com o seguinte, só não se concentrando nisso porque foi na mesma época em que o papel dele ficou ameaçado. Cada passo nosso no início das filmagens, como a nudez coletiva e nossa primeira cena de cama, parecia estimular sua fantasia de que eu me apaixonaria por ele, e logo na primeira semana, aproveitando-se de uma hora em que eu gravava uma cena sem a presença dele, ele conseguiu pegar meu celular e conectar meu WhatsApp ao seu laptop, para saber mais sobre mim. E foi dessa forma que ele descobriu tanto meu romance com Jorge quanto minha atividade paralela fazendo programas naqueles 10 anos. Chocado, resolveu se vingar, primeiro destruindo meu camarim, numa hora em que quase não havia ninguém no estúdio, e depois enviando o material comprometedor para Jorge. A presença de policiais e investigadores o intimidou um pouco, mas quando viu que eu estava novamente sozinho decidiu tentar a etapa seguinte, a de me seduzir, num momento onde estivesse bem carente, que foi o encerramento das filmagens.
Era um plano bem cuidado, e ele tomou o cuidado de sempre usar luvas para não deixar digitais, mas, talvez por sua pouca experiência de vida, tinha falhas que se revelaram fatais: uma delas foi a de que, para não correr o risco de ser flagrado, ele preferiu comprar as rosas pela Internet, sempre em sites diferentes, com um nome falso e recomendando o anonimato, mas numa dessas floriculturas – a segunda – não havia a opção de boleto bancário, de forma que ele se viu obrigado a pagar com cartão de crédito. Além disso, quando ele mandou a carta anônima para a delegacia, foi possível descobrir, pelo carimbo do correio, a data e a hora em que a enviou, e com base nisso os sistemas de segurança das principais agências dos correios de São Paulo foram examinados e o rosto dele identificado. Quando as informações foram cruzadas, chegou-se ao nome dele e, desconfiados de que ele tentaria mais alguma coisa, Jorge, Rodolfo e seus agentes conseguiram uma autorização para instalarem câmeras de segurança no camarim dele, o que Jorge preferiu não me dizer para que eu não me estressasse e corresse o risco de, metendo os pés pelas mãos, estragar a estratégia de captura. Como nada acontecia, eles concluíram que ele tentaria algo no último dia de gravação, e com a anuência dos chefões do estúdio, ficaram esperando em outro camarim, assistindo por um laptop. Eles viram tudo (confesso que fiquei chateado ao pensar que provavelmente meu namorado deve ter sofrido ao me ver sendo beijado e acariciado por outro cara, mas ao mesmo tempo ele também me viu rejeitá-lo), e quando o viram debruçado sobre mim me ameaçando, perceberam que era a hora de agir e entraram já derrubando a porta.
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Coroa de programa
RomanceGustavo Reis era um dos maiores galãs da TV brasileira, até que, quando tinha 38 anos, um vídeo seu fazendo sexo com outro homem foi divulgado na Internet. Repentinamente, sua carreira foi considerada encerrada e tanto as emissoras quanto os teatros...