Coroa de programa

Capítulo 15

Como dizem, a melhor receita para lidar com problemas amorosos é mergulhar no trabalho. De forma que, para não pensar no afastamento de Jorge, embora ele me telefonasse com frequência (ainda que evitássemos tocar no tema da nossa relação) e houvesse sempre um agente da equipe do delegado Rodolfo no estúdio, preferi me concentrar no filme. Na semana seguinte, meu camarim foi consertado e não houve mais incidentes, de forma que as filmagens, externas e em estúdio, prosseguiram sem problemas, até chegar o dia do encerramento.

A última cena que filmamos foi exatamente o final, onde Rodrigo leva Sávio ao apartamento do rapaz, depois do resgate dele. O desenlace, onde um Silas moribundo avisa o delegado que Sávio fora raptado, para depois sucumbir em seus braços, e este consegue interceptar o vilão nos fundos da boate, quando ele está prestes a estrangular o amante, e após um confronto rápido derrota-o numa luta de rua com o apoio repentino de Luciano, que vigiava a boate naquela hora e, assim conseguira vingar o irmão, fora gravada em um plano sequência contínuo um pouco antes.

Já vestidos com roupas comuns, entrávamos no apartamento ao mesmo tempo que a noite terminava.

- E no fim era simplesmente muita rejeição acumulada. Trabalhando numa boate, cercado por rapazes bonitos, ele era um perito nos drinks que preparava mas invisível para todos os jovens que desejou. Até que um deles cismou que ele estava obcecado e o chamou para uma conversa fora da boate. Ele teve esperanças, mas foi só para ouvir que ele se ligasse, que nunca ele iria querer algo com um gordo feio e ridículo como ele, e ainda riu. Isso foi demais para ele, e por isso o matou. Ele viu que, se não podia tê-los, tinha ao menos o poder de matá-los, e o próprio fato de ser um "ninguém" lhe dava uma vantagem. – Narrei, rememorando o depoimento do vilão na delegacia.

- Sabe que até fiquei com pena dele, Rodrigo? É muito triste não ser amado. – Respondeu Sandro, sentando-se num sofá.

- Pode ser, mas nem por isso aqueles jovens mereciam morrer. E tampouco me esqueço do desespero que senti quando o vi debruçado sobre seu pescoço.

- De qualquer forma, isso acabou, podemos seguir com as nossas vidas. – Continuou.

- É verdade, o que nos leva a outro assunto. E quanto a nós? – Perguntei, sentando-me defronte a ele e olhando nos seus olhos.

- Existe um nós, Rodrigo? Porque por mais que eu ame você, não quero ser um segredo sujo, se há algo que essas noites na boate me ensinaram é que muito importante você expressar seus desejos e suas vontades. Nunca mais serei aquele rapazinho tímido dos computadores, nem por você nem por ninguém. – Respondeu com ar decidido, o garoto também desabrochou junto com o papel.

- Não se preocupe, você não será um segredo sujo. Se eu ainda tinha algum medo do escândalo que nosso relacionamento poderia causar, ele acabou quando percebi que perdê-lo não era uma opção. Eu te amo, na verdade acho que sempre amei, só hesitei porque eu sabia que, se me envolvesse com você não conseguiria parar nem se eu quisesse. Não me imagino vivendo com ninguém que não seja você, quer se casar comigo? – Disse tirando uma caixinha com duas alianças e me ajoelhando diante dele.

- Quando você comprou isso?

- Essa semana. Eu ia lhe propor hoje, mas aí rolou tudo aquilo... – Observei com um ar embaraçado.

- Rodrigo, eu aceito. Sei que ainda precisamos acertar algumas coisas, sobre como divulgaremos nossa ligação para nossos colegas e familiares, ou mesmo onde vamos morar, mas o mais importante é saber que nós nos amamos e somos capazes de lutar um pelo outro. É bom saber que de vez em quando sonhos se realizam. – Disse enquanto colocava o anel no dedo e olhava para mim com um olhar radiante.