Gustavo Reis era um dos maiores galãs da TV brasileira, até que, quando tinha 38 anos, um vídeo seu fazendo sexo com outro homem foi divulgado na Internet. Repentinamente, sua carreira foi considerada encerrada e tanto as emissoras quanto os teatros...
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Sandro (apenas imaginem o cabelo dele mais louro).
No dia seguinte, mandei uma mensagem via WhatsApp para Luiz, que era meu principal contato na emissora, contando da situação e perguntando se ele tinha alguma coisa a ver com aquela história, tendo em vista que Alex tinha uma relação muito próxima com ele e poderia ter lhe pedido para forçar a barra para ficar com o papel. Ele me telefonou pouco depois, dizendo que estivera fora por alguns dias e não sabia de nada, aparentemente quem mandava nessa questão era o diretor do núcleo de co-produções cinematográficas. Contudo, ele me perguntou se seria tão grave Alex ficar no lugar de Sandro, talvez até fosse mais benéfico para o filme juntar uma antiga estrela com um astro em ascensão, no lugar de alguém que ainda não tinha despontado como o meu aluno. E nada impedia que Sandro ficasse no papel do stripper.
- Luiz, entendo seu ponto de vista mas as coisas não são assim. Assim como o meu, esse papel foi escrito com o Sandro em mente, Sávio é um personagem que não tem uma sensualidade óbvia, um garoto esguio e meio nerd que só desabrocha depois que é notado por Rodrigo e eles se envolvem. O papel do stripper, por outro lado, exige um intérprete que tem um corpo mais definido, o que não é bem o caso dele mas se encaixa no perfil de Alex. Alex poderia fazer Sávio? Sim, poderia, mas não só o outro seria mais interessante para alavancar a carreira dele agora como, principalmente, eu tenho um dever de lealdade com os meus alunos. Eles confiam em mim, e não posso decepcioná-los. Com que cara vou encará-los e dizer que sim, o filme terá um patrocínio importante, mas o preço disso será passar por cima dos sonhos deles? Porque nada garante que, depois dessa, eles não vão querer substituir outros personagens. – Respondi de forma educada, mas sem esconder minha contrariedade, depois de um tempo considerável trabalhando o talento deles acabei me afeiçoando àqueles sete, e em geral nos meus relacionamentos (tanto os pessoais quanto os profissionais) confiança é uma via de mão dupla, eu só me sinto em condições de exigir algo quando eu mesmo me comprometo.
- Tudo bem, Gustavo, mas vou logo adiantando que pelo visto isso vai complicar as coisas. Esse cara gosta de jogar duro na queda, e não só ele deve cancelar a parceria como talvez ele tente boicotar o filme quando for lançado. Ele tem uma boa relação com os donos da emissora, e não gosta de ser contrariado. Vou fazer o possível para interceder por vocês mas não prometo nada, tem muita gente mais poderosa do que eu ali. – Disse Luiz com preocupação.
- Não se preocupe comigo, eu já passei por coisa pior, e você sabe muito bem que minha maior fonte de renda, nesse momento, é algo que a emissora não pode controlar. O patrocínio ajudaria muito, de fato, mas não é essencial, a plataforma já tem a produção praticamente concluída e realizaremos o filme com os recursos deles. Quanto à publicidade, sempre podemos recorrer à Internet e aos festivais independentes ou alternativos, esteja certo que esse filme fará sucesso com ou sem eles. – Disse, tentando aparentar uma calma que na verdade eu não possuía.
- Não duvido, meu caro, e lamento que as coisas estejam sendo assim. – Concluiu meu amigo, e desligou.
Foi com um gosto amargo na boca que me sentei no meu sofá, pensando em como as coisas chegaram naquele ponto, com meu retorno aos holofotes sendo ameaçado antes mesmo de ocorrer. Não que eu precisasse disso para viver, como eu disse atuar não era minha principal fonte de renda agora, sem mencionar que, graças ao que Conrado me ensinou, aprendi a administrar bem o que eu tinha, mas aquela era uma nova chance de eu fazer algo em que era bom e recuperar meu papel na cultura brasileira. E infelizmente eu não tinha dúvidas de que, se a emissora quisesse, poderia boicotar o filme sem nenhum esforço, vivi nesse meio por quinze anos, fora o que descobri depois nas camas de executivos desse e de outros ramos, e sei bem como mandachuvas podem ser implacáveis. Fiquei tão chateado que até pensei em ligar para Jorge e desabafar, mas depois desisti, tendo em vista que nosso relacionamento, se é que existia um, ainda não chegara àquele ponto. Melhor não precipitar as coisas.
