Capítulo XXXIII

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— Como assim? — a policial perguntou, franzindo o cenho e abaixando a guarda.

Arrependido, Mark se encolheu acuado contras as estantes e respondeu:

— Nada demais. Esquece o que eu disse.

— Quer prestar um depoimento? Pode me contar o que está acontecendo com você e seus irmãos. — ela disse calmamente enquanto parecia tentar ler cada uma das palavras nos olhos dele. — Posso encaminhar o caso da sua mãe até a diretoria do departamento e pedir mais uma busca por pistas do paradeiro dela.

— Pra que? Acabou de me pegar roubando um documento criminal em flagrante. A sua missão é me prender como qualquer outro bandido. — ele resmungou, enfurecido, enquanto lágrimas se derramavam dos olhos por conta das algemas que machucavam seus pulsos.

O medo de Sarah Campbell estar sendo presa causava pensamentos conflitantes dentro dele: um em que ele se entregava e assumia toda a culpa do crime e outro em que ele a entregava e voltava para casa com seus irmãos no fim da tarde. As duas versões dessa história terminavam com ele sangrando com a dor da culpa: uma por condenar Sarah por sua causa e outra por prender seus irmãos para sempre nas garras de seu tio. Qual era a melhor escolha? Perder a menina pela qual estava apaixonado ou abandonar seus irmãos nas mãos daquele homem.

A policial suspirou, embainhando a arma de volta no coldre e apanhando o molho de chaves. Com passos determinados, ela parou diante dele e o pediu para levantar as mãos. Mark olhou ela nos olhos sem entender o porque de estar fazendo algo assim, mas assentiu e cumpriu sua ordem sem nenhum questionamento. O som da algema sendo destravada soou como uma música para ele e pôde suspirar aliviado quando o metal se afrouxou em torno de seus pulsos machucados.

— Pode me chamar de Beverly. — disse amistosamente.

— Por que... ? Qual o motivo? — perguntou sem entender, surpreso com a atitude da policial.

— Não temos tempo para perguntas. — Beverly interrompeu, prendendo o molho de chaves de volta no cinto e dando as costas para o garoto. Ela caminhou até uma estante marcada com a vogal "E" e abriu uma das gavetas em questão. Sem perder tempo, passou o dedo pelos documentos enfileiradas de uma maneira organizada até encontrar um em especial. — Elizabeth Collins, SITUAÇÃO DO CASO: ENCERRADO POR FALTA DE PROVAS. Acho que esse é o documento que você estava procurando? — ela passou os olhos pela páginas antes de assentir para si mesma e fechar a gaveta com um empurrão.

Beverly voltou para perto dele com o documento em mãos e perguntou calmamente:

— Pode se virar?

Mark apenas deu um olhar desconfiado para a policial.

— Pode confiar em mim? — ela acrescentou.

— Tudo bem. — ele atendeu o pedido ao se virar de costas e apoiar as mãos trêmulas nos bolsos.

Beverly logo se aproximou e ele se estremeceu quando ela o tocou nas costas abruptamente. Mark pensou em tomar uma atitude violenta por conta dos traumas com Robert, mas ele se conteve em resmungar e a olhar **por cima do ombro.

— Calma. — Bev murmurou— Pode deixar eu ajudar você? — ela mostrou a pilha de documentos em mãos.

Mark respondeu um "sim" amedrontado e tentou se acalmar com os bons pensamentos sobre os irmãos. Ashley e Noah brincando com ele em um mundo de fantasia na infância. Nicky e Sarah arrumando uma festa de aniversário surpresa para os gêmeos.

As memórias para ele eram como um conforto em meio ao medo de estar perdendo o controle em frente a policial.

Bev puxou a camiseta dele de uma maneira calma e passou a pilha de documentos por baixo. O toque dos dedos dela em sua pele era caloroso e causou nele uma vontade de chorar. Em um choque de pânico ele se lembrou de algo: de cada uma das cicatrizes e ataduras por baixo de suas roupas. Mas ele tentou manter a calma quando notou que ela não reagiu de uma maneira negativa ou se apavorou com aquilo.

— Você tem que esconder muito bem esses documentos ou algo muito ruim pode acontecer. — Bev murmurou em um tom calmo, mas parecia estar com muito medo do que estava fazendo. Desmanchando um juramento. Quebrando regras.

Demorou um tempo para ele acreditar no plano de Beverly — algo que nunca esperava de uma policial devido aos boatos sobre casos de racismo e machismo no departamento. Mas ele logo entendeu o que estava acontecendo e mostrou para ela como esconder os documentos de Elizabeth Collins por baixo das roupas.

A policial deu um tapinha de leve no ombro dele em um sinal de pronto e caminhou de volta para perto da porta. Mark logo atendeu o pedido dela e perguntou ainda desconfiado:

— Por que me ajudar? — ele endireitou os ombros e ajeitou a camiseta sobre os documentos — Não tem porque pôr sua carreira na policia em risco por um desconhecido. Ainda mais um delinquente em potencial que tentou roubar vocês.

— Silêncio. — resmungou Beverly — Não temos mais tempo.

— Qual o plano? — ele perguntou.

— A primeira parte é escoltar você para fora da delegacia sem levantar nenhuma suspeita. — Bev respondeu — A segunda parte depende apenas de mim: vou precisar dar uma olhada nas câmeras e apagar qualquer cena em que você aparece sozinho ou tentando entrar nessa sala desacompanhado. — comentou — Os documentos normalmente são analisados e realocados após um suposto incêndio no departamento. Dou umas quarenta e oito horas até eles darem falta do caso da sua mãe nos registros criminais e abrirem uma ocorrência para descobrir o que aconteceu. Basta uma impressão digital ou mesmo um fio de cabelo. Apenas um erro pode acabar com as chances de sairmos sem nos tornamos os principais suspeitos do crime. — deu de ombros e o encarou nos olhos de uma maneira determinada — Os procedimentos para um incêndio no departamento costumam ser evacuar todos os civis o quanto antes e guardar cada uma das entradas para conter qualquer ataque terrorista. O protocolo manda eles manterem apenas a porta principal como uma saída de emergência até os bombeiros resolverem o problema.

— Acha mesmo que esse plano pode dar certo? — perguntou.

— Tomara. — ela respondeu sincera — Você deve apenas ficar em silêncio enquanto eu te escolto para fora da delegacia.

Mark procurou um pouco de coragem dentro de si mesmo — pensando em Sarah e em cada um dos irmãos — e assentiu tranquilamente para ela.

O barulho do alarme parou abruptamente.

— Acho que nosso tempo está acabando. — resmungou Bev.

— Vamos logo? — ele perguntou nervoso.

A policial assentiu e esperou ele tomar a frente pelo corredor.

"Os meus irmãos dependem de mim" Mark pensou "apenas de mim"

Fim do Capítulo XXXIII



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