Pesadelos são uma coisa muito estranha

14 2 0
                                    

No meu segundo dia na alcateia, de manhã, Sirius passou na minha cabana e me fez companhia até a tarde, quando ele me levou para a casa dele para o almoço. Além das pessoas que eu já havia conhecido no dia anterior, tinham dois homens grandões, um com o cabelo cortado rente à cabeça e o outro com o cabelo que batia no ombro, maiores do que Sirius e até do que o sr. Delyan, e uma menina, parecendo meio grande para uma menina com 12 anos, que foi a idade que Sirius me disse que ela tinha. Ela, e os dois homenzarrões, tinham o cabelo castanho tão escuro que era quase preto, a pele bronzeada que todas as pessoas de lá, menos os Delyan, pareciam ter e eram altos como todo mundo de lá. A garota, que se apresentou como Clarisse, parecia muito amiga de Andrômeda, já que assim que chegou caminhou decididamente até o quarto dela, como se morasse lá. Quando eu vi Andrômeda e ela conversando, me lembrou de Logan e eu. E tinham os outros dois homens simpáticos, o de cabelo mais curto chamava Simon e o de cabelo mais longo se chamava Eamon. Era um nome meio estranho, mas era bonito também. Os homens almoçaram com a gente e depois que o almoço acabou, eles convidaram a mim e a Sirius para correr.

Eu descobri que gostava de correr. Principalmente descalça. Sentir a grama na sola dos meus pés, o sol batendo no meu rosto, ver a superfície de um lago cristalino refletindo o céu e as árvores acima dele, era algo mágico. Era algo que eu nunca, nem em meus sonhos mais loucos, teria imaginado. Talvez, enquanto nós estávamos na margem do lago, eu tenha derramado algumas lágrimas, mas aquilo era a realização dos meus maiores sonhos, aqueles secretos, que ficavam guardados no fundo da mente e que, mesmo quando nós nem mesmo lembrávamos que eles estavam lá, eles ainda eram umas das coisas mais preciosas que nós tínhamos. Ou pelo menos era assim comigo.

No terceiro dia, Sirius apareceu de manhã cedo com o café da manhã e passou o dia comigo. O dia todo. Nós conversamos sobre muita coisa, desde as minhas dúvidas sobre a alcatéia aos sonhos mais estranhos que nós já tivemos. Ele correu comigo naquela noite também. Nos próximos dias, foi a mesma coisa. Ele chegava de manhã, corria comigo, nós almoçávamos na casa da família dele e depois voltávamos para a minha casa. Quando ele estava ocupado, eu passava o dia com Simon e Eamon ou Lyra e Andie, que iam para a minha cabana nesses dias.

Na segunda semana que eu estava lá, eu percebi uma coisa que fez a sensação quentinha que estava no meu peito esfriar um pouco pela primeira vez desde que ele se aqueceu. Eu estava mesmo gostando do meu tempo ali. Mas não era assim que as coisas iam acontecer. Eu ia terminar o meu mês lá e iria morar na casa que o tal do Departamento ia me dar.

No mesmo dia que eu percebi isso, eu tive um pesadelo. Daqueles que te fazem acordar com um grito preso na garganta e suando frio. No sonho, eu estava na sala fria e escura que eu dormia na casa do sr. Ballard. Dentro da sala escura, estavam Sirius e Logan. Uma luz misteriosa iluminava os traços lindos dos dois, me fazendo pensar no porque de eles estarem lá. Os dois estavam sorrindo para mim, Sirius com o seu sorriso reconfortante que parecia chamar atenção para os olhos amarelos, e Logan com o seu sorriso que morava em seus lábios, que contradiziam completamente os olhos azul-gelo que pareciam ser capazes de congelar a alma de alguém caso ele olhasse para a pessoa sem sorrir. Eu fiquei feliz por vê-lo, mesmo que apenas em sonho. No momento em que dei um passo para perto dele, para abraçá-lo, senti um dos ossos da minha perna direita se partir. Então o sorriso sumiu dos lábios de Logan e ele falou, com uma voz que não parecia a dele, "Escolha errada.". Logo após ele dizer isso, os meus ossos foram de quebrando, até chegar no braço e eu não conseguia mais me concentrar em nada. Quando voltei a conseguir pensar, percebi que Sirius estava errado quando disse que eu não era um monstro, porque eu estava ajoelhada sobre o peito dele. O peito dilacerado dele. E Logan estava ajoelhado ao meu lado, apontando uma arma para a minha cabeça. Algo devia estar errado naquele sonho. Eu nunca machucaria Sirius e Logan nunca me machucaria.

Acordei no meio da noite, no escuro, desesperada por uma confirmação de que eu não estava no quarto escuro onde eu passei grande parte da minha vida. A cama confortável em que eu estava teria sido o suficiente, se não fosse pelo escuro. As cortinas do quarto estavam fechadas, então a luz da lua quase cheia, não entrava pela janela, mas uma das luzes mágicas deveria estar no meu quarto, como eu tinha deixado. De repente, o quarto com um tamanho confortável começou a encolher até parecer que as paredes estavam prontas para se fechar sobre mim. Minha respiração ficou ofegante e ao mesmo tempo ficou difícil respirar, e o aperto no meu peito me fez querer chorar. Quando eu saí correndo da casa, como se estivesse sendo perseguida por demônios, eu vi a luz da lua, a única luz que eu via em vários metros. Ver luz, respirar o ar fresco, sentir a grama sob os meus pés, acalmou as batidas loucas do meu coração, tornou mais fácil respirar e eu senti aquele nó no meu peito se dissolver. Eu fiquei do lado de fora mesmo depois de me acalmar, porque a casa ainda parecia muito pequena e muito escura.

Sob a Luz do LuarOnde histórias criam vida. Descubra agora