O homem misterioso com os olhos iguais aos meus estava agachado ao meu lado. As lembranças da noite anterior voltaram com a força de um soco, ou o que eu imagino que seja um soco. O lindo vestido azul, o reencontro com Logan e o tempo que passamos juntos, as comidinhas microscópicas do baile, o momento em que eu trombei com o homem à minha frente e quando eu comecei a me transformar.
- Droga. - Eu resmunguei, tirando os olhos dele para observar o meu entorno. Tinham dois cavalos parados a poucos metros de nós e várias árvores ao nosso redor. Eu estava encostada em uma delas e o meu lindo vestido estava sujo de terra e folhas. Levantei a cabeça e encontrei os olhos do homem misterioso ao meu lado. O cabelo preto dele, cortado mais curto do que a moda ditava, mas não rente à cabeça, caía selvagem sobre a sua testa. Ele não tinha barba, mas provavelmente ficaria bonito se tivesse. Os olhos dele ainda eram iguais aos meus. Eu estava secretamente torcendo para que eu tivesse me distraído ou que uma luz tivesse batido em seus olhos na noite anterior e ele tivesse olhos normais, mas não. Ele ainda tinha olhos castanhos tão claros que poderiam ser confundidos com amarelo. Eles ainda eram aterrorizantes e lindos. Ele parecia preocupado com alguma coisa e me olhava fixamente. Era meio estranho, mas eu era um monstro então não podia ficar julgando os outros.
- Você está bem? - Ele tinha uma voz bonita. Eu provavelmente não deveria estar pensando nessas coisas, já que eu acordei em uma floresta deserta com um desconhecido agachado ao meu lado, mas meu cérebro parecia estar meio lento.
- Eu não estou mais no baile. - Foi a idiotice que saiu da minha boca. Por mais que eu me forçasse a pensar, acabava me focando em coisas idiotas tipo que o cabelo dele era bonito.
Ele riu suavemente e empurrou o cabelo preto para trás da orelha.
- Não. Você desmaiou durante o baile. Você se lembra disso?
Eu concordei com a cabeça.
- Antes disso nós tínhamos trombado. Você fugiu correndo de mim. Fui atrás de você para ver se você estava bem. Mas você estava...
- Eu sei o que eu estava. - Eu interrompi ele. Eu tinha feito a única coisa que eu havia prometido ao sr. Ballard não fazer. Ele ia me deixar presa no quarto que eu dormia pelo resto da vida.
- Você sabe o que é? - Ele perguntou depois de ficar alguns segundos em silêncio. Eu não estava mais olhando para ele, estava olhando para o meu vestido sujo. Era um vestido tão bonito. Minha mãe certamente ficaria irritada quando visse o estado dele. Talvez ela deixasse o sr. Ballard "esquecer" de me dar comida por alguns dias.
- Um monstro? - Foi o que saiu da minha boca. Eu realmente não estava controlando o que estava falando. As palavras só saíam e elas pareciam bem idiotas. Levantei a cabeça para observar a reação dele.
Ele pareceu muito irritado por um momento antes de olhar para os cavalos e soltar um suspiro. Quando voltou a olhar para mim, pareceu mais calmo.
- Qual o seu nome?
- Rose. - E a minha boca sem filtro ataca novamente. Eu deveria estar morrendo de medo, correndo para longe dele e gritando, mas eu não conseguia me forçar a ter medo dele. - E o seu?
- Sirius. Rose, eu vou te dizer uma coisa muito importante e eu preciso que você acredite nisso. Você não é um monstro. Está me entendendo? Você não é um monstro por ter nascido assim. Não há nada de errado com você. Pelo menos não por isso. Talvez haja alguma coisa errada se você for uma assassina em série ou alguma coisa assim. Mas não por isso. Você não é um monstro, Rose.
- Mas... - Meus olhos se encheram de lágrimas. Por que eu estava chorando? Eu sabia porquê, mas ainda sim era um motivo idiota para chorar. O que ele disse ia contra tudo o que me disseram a vida inteira e era um alívio ouvir de outra pessoa algo que eu tentei repetir para mim mesma frequentemente, mesmo que não acreditasse.
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Sob a Luz do Luar
LobisomemRose Ballard é um monstro. Ou pelo menos é o que sua mãe e seu padrasto a fizeram pensar. De trancafiá-la no porão toda noite a tratá-la como nada mais que um incômodo e um erro, eles a fizeram pensar que a coisa dentro dela que clama por liberdade...