- Como foi a primeira vez que você se transformou? - Perguntei para Sirius, deitada ao lado dele na minha cama. Nós tínhamos jantado com Henry e Corvus e voltado para a minha cabana a uma hora.
Agora, nós estávamos falando sobre nada, com o "elefante na sala" (Henry me apresentou à essa expressão) deixando o ambiente tenso.
- Foi... legal. Minha mãe não esperava que eu me transformasse. Ela estava nos últimos meses da gravidez dos gêmeos, então ela não se transformou. Mas meu pai estava lá. Corvus e Henry ficaram com a minha mãe. Acho que Teddy também. E a sua?
- A minha primeira transformação? Foi... não posso dizer que foi legal, mas também não posso dizer que foi ruim. - A primeira vez que eles me trancaram no porão, eu não entendi o que estava acontecendo. Na noite anterior eu tinha tido um sonho lindo, em que eu senti tudo se encaixar, como se fosse o que devia ser. Eu acordei no dia seguinte, minha linda camisola rosa claro manchada de sangue seco. Uma empregada me encontrou. Michael estava em uma viagem, então minha mãe me trouxe para dentro. Lá, ela me disse que sentia muito. Quando eu perguntei porquê, ela respondeu que sentia muito por eu ter nascido. Eu passei aquela tarde trancada no quarto e, quando a noite chegou, Michael me levou para um galpão no quintal, onde uma masmorra improvisada havia sido construída. Correntes estavam presas da terra ao meu braço e aos meus pés. Michael me disse, pela primeira vez, que não era meu pai e que eu era um monstro, assim como o meu pai. Naquela noite, eu perdi todos. Meu pai, que na verdade não era meu pai. Minha mãe, por ter concordado com o que Michael estava fazendo. Logan, eu sabia que eles não me deixariam vê-lo novamente. E meus irmãos, que eu não tive a chance de conhecer como irmã.
- Entendi. Já que você vai embora no final da semana, eu queria saber se semana que vem você quer vir se transformar aqui? Você precisaria se transformar em algum lugar de qualquer forma e Andie vai se transformar mês que vem, então nós poderíamos unir o útil ao agradável.
Ele estava com a voz baixa e tímida, sem me encarar nos olhos. Abri um sorriso ao perceber que Sirius estava tímido em me convidar para me transformar aqui no próximo mês.
- Eu vou adorar me transformar aqui no próximo mês, Sirie. - Chamei ele pelo apelido que Lyra o chamava.
Ele virou para mim, os olhos cheios de esperança.
- Sério?
- Sim. Eu gosto de você, gosto da sua família, gosto de Henry, gosto de algumas pessoas da minha família. E se Andrômeda vai se transformar, eu não posso perder. - Tranquilizei-o.
- Eu vou sentir a sua falta. Quando você for, digo. - Sirius falou, me olhando como se eu estivesse à beira da morte.
- Eu não vou morrer, Sirus. Eu vou estar a um dia daqui a cavalo. E nós podemos nos falar por carta. E nós podemos fazer aquela tal de chamada à distância que Amber Krist falou outro dia. - Me aproximei dele e o abracei. Ele me abraçou de volta.
- Você também é bonito. - Falei, após algum tempo.
- Hã?
- No outro dia, antes de você me beijar, você falou que eu era linda. Você também é. Eu não consegui falar naquele dia. Então eu estou falando agora.
- Obrigada. - Me virei para Sirius, comprimindo os lábios para não rir na cara dele.
- Você está agradecendo por eu te achar bonito?
- Talvez? - Ele respondeu lentamente, em um tom de incerteza.
- Você é uma das pessoas mais estranhas que eu conheço. - Falei, e beijei a bochecha de Sirius.
- Você também é. - Ele respondeu, me abraçando. - Quanto tempo falta?
- Três dias.
Naquela noite, eu tive um sonho, que talvez não possa ser chamado de sonho. Você pode chamar de sonho quando é algo que aconteceu? Não sei e não ligo o suficiente para tentar descobrir. O que importa é que eu sonhei com a última vez que eu vi Logan.
Logan, o jovem Logan de 9 anos, estava passeando comigo pela cerca que dividia os terrenos dos nossos pais. Apesar da casa dos Perkins ser bem menor que a minha e que o sr. Perkins não estava em casa, eu passava a maior parte dos meus dias na casa de Logan, principalmente quando o meu pai me enxotava de casa. Naquele dia, ele me contou sobre uma discussão que teve com o pai na noite anterior.
- Ele quer que eu comece a ir com ele nas viagens de trabalho. - Logan reclamou e chutou uma pedra.
- Você quer ir? - Perguntei, temerosa. Ele era meu melhor amigo e eu não conseguia nem imaginar o que eu faria sem ele. Levantei um pouco a minha saia para ela não molhar na grama úmida.
- É claro que não. O meu pai está sendo um mentecapto.
- Eu já te disse que quando você usa essas palavras difíceis fica difícil de te entender.
- Aquele que não possui nem utiliza a razão, mentalmente desorganizado, sem juízo, maluco. Escassez de capacidade intelectual, falta de inteligência, tolo, idiota. - Logan explicou.
- Você engoliu um dicionário, foi? - Brinquei.
- Eu sou inteligente. É dife... - Ele começou, mas eu o interrompi.
- Olha, Lo! A árvore que a gente se conheceu! - Puxei ele pela mão e corri até a árvore, arrastando-o. - Me passa a sua faca.
- O quê? - Comecei a cutucar ele, apressando-o. - Para que você quer o meu canivete?
- Vai logo! - Ele me entregou o canivete aberto, com a lâmina virada para si.
Meu melhor amigo, sempre cuidando de mim.
Assim que eu entrei em posse da arma, fui até a árvore e comecei a entalhar nossos nomes. Rosie e Logan, melhores amigos. As letras saíram meio tortas, mas de resto ficou ótimo.
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Sob a Luz do Luar
Hombres LoboRose Ballard é um monstro. Ou pelo menos é o que sua mãe e seu padrasto a fizeram pensar. De trancafiá-la no porão toda noite a tratá-la como nada mais que um incômodo e um erro, eles a fizeram pensar que a coisa dentro dela que clama por liberdade...